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Apresentações de trabalhos e debates movimentam o segundo dia da I Mostra de Práticas no SUAS – Etapa Sudeste


Data de Publicação: 17 de junho de 2019


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Thiago Melício (ao microfone), Thaís Vargas e Cláudia Simões

O segundo dia (8 de junho) da Etapa Sudeste da I Mostra Nacional de Práticas em Psicologia no SUAS ocupou a UNIGRANRIO da Lapa, no Centro do Rio de Janeiro, com apresentações de trabalhos e mesas de debates. Na parte da manhã, houve as apresentações de trabalhos e experiências de profissionais pesquisadores e estudantes de diversos municípios de todos os estados da Região Sudeste.

No final da manhã, aconteceu uma mesa de debates com tema “As políticas de Assistência Social do Rio de Janeiro: análise de conjuntura”. O debate foi mediado pelo psicólogo e professor da UFRJ Thiago Melício e teve participação das integrantes da Comissão de Psicologia e Assistência do CRP-RJ Thaís Vargas, mestre em Psicologia pela UERJ, psicóloga do DEGASE e da Prefeitura de Itaguaí, membro do Fórum Regional de Trabalhadores do SUAS de Itaguaí, e Cláudia Simões, pós-graduada em Psicologia Jurídica pela UERJ e psicóloga da SEASDH.

“O que me conecta à Assistência Social é o subtítulo dessa nossa I Mostra: resistência e compromisso. Eu acho que estarmos aqui é um efeito dessa aproximação contínua da Psicologia com a comunidade, da mobilização social que o processo de redemocratização produziu e que vai mudando ao longo do tempo a maneira de pensarmos a Psicologia”, declarou Thiago Melício, dando início ao debate.

IMG_7975Em seguida, Cláudia Simões falou sobre a atuação da Comissão de Assistência do CRP-RJ. “No ano passado, conseguimos fazer oito encontros pelo interior do estado, que já era um pedido da categoria. Precisamos de mais psicólogos engajados junto conosco, discutindo e capilarizando esse trabalho de aproximação com a categoria. O CRP somos nós, e nós somos psicólogos; o CRP não é uma entidade que está fora, longe do psicólogo”, afirmou.

A psicóloga também abordou a realidade das políticas de Assistência na cidade do Rio de Janeiro. “Quando pensamos em serviço de acolhimento para crianças e adolescentes, por exemplo, – e que é um público diferente, porque tem um sistema de garantia de direitos articulado, que envolve diversos atores – vemos uma série de coisas acontecendo que nos fazem questionar ‘que investimento é esse que estamos fazendo?’. Não conseguimos, por exemplo, garantir a excepcionalidade da aplicação de uma medida de acolhimento. O Rio de Janeiro trabalha com Central de Recepção, um equipamento que não é tipificado nacionalmente. Qualquer criança que esteja na rua e é abordada pelo Conselho Tutelar, Polícia Militar ou Guarda Municipal, mesmo que não esteja fazendo nada, é encaminhada para essa Central de Recepção sem ter sido esgotado nenhum recurso prévio para poder aplicar uma medida de acolhimento. O que acontece é que essas centrais servem a um projeto de higienização da cidade”, ponderou.

Thais Vargas, como psicóloga que atua tanto no SUAS quanto na Socioeducação, ressaltou a importância da comunicação contínua entre esses dois sistemas. “O sistema socioeducativo é ligado a todos os outros sistemas. Mas nós temos essa dificuldade de comunicação na rede porque temos uma sobrecarga de trabalho, especialmente nas unidades de internação. Eu poderia dizer que temos equipe reduzida, mas acredito que, na verdade, tenhamos muito adolescente em privação de liberdade. Mais equipes poderiam ser inseridas, mas não adiantaria, porque, do mesmo modo, teríamos mais adolescentes do que realmente deveríamos ter. E, por isso, acabamos não conseguindo fazer esse trabalho de articulação em rede”, problematizou.

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Suanny Nogueira (ao microfone), Célia Zenaide e Alexandre Ângelo

OFICINA

A parte da tarde do evento começou com a Oficina “As novas regras para elaboração de documentos em debate: Resolução CFP 006/2019”, mediada pela conselheira do CFP Célia Zenaide e composta por Suanny Nogueira, mestranda de Psicologia pela UFRuralRJ e integrante da Comissão de Assistência do CRP-RJ, e Alexandre Ângelo, psicólogo que atua no SUAS em São Paulo.

Suanny Nogueira falou sobre as mudanças estabelecidas a partir da Resolução nº 006/2019, do Conselho Federal de Psicologia, que institui um novo manual de elaboração de documentos escritos por psicólogos, provenientes ou não de Avaliação Psicológico. A psicóloga também problematizou “o lugar da Resolução no dia a dia do profissional” e os “efeitos que vai ter o documento elaborado pelo psicólogo na vida do sujeito”. Segundo ela, essa é uma “discussão eminentemente ética e política”.

“A resolução teve o cuidado de apontar o sujeito como um ser dinâmico, considerando os aspectos históricos e biopsicossociais que o atravessam”, lembrou ela, defendendo que a (o) psicóloga (o) tenha atenção a esse aspecto na hora de elaborar um documento, de modo que se produza uma “lógica de cuidado, não de punição”. Ela também destacou a importância do sigilo profissional durante o processo de elaboração de documentos.

Alexandre Ângelo defendeu a produção qualificada e eticamente implicada de documentos. Conforme afirmou, “a produção de documentos escritos é a materialização, o relato do nosso trabalho para o outro. É justamente nesse documento que são colocadas muitas das implicações éticas do profissional. Nós, literalmente, nos apresentamos como profissionais aos outros na produção de documentos”.

“Podemos cair no caminho fácil de transformar a resolução numa bula, num caminho instrumental, e isso é perigoso porque transforma nosso trabalho num exercício de cumprir lacunas”, alertou o psicólogo, lembrando também que “muitas vezes, o psicólogo cai em papeis institucionalizantes na atuação em Políticas Públicas, desenvolvendo expedientes burocráticos e, com isso, muitas vezes perdemos o motivo pelo qual há ali, naquela política, um profissional psicólogo”. E finalizou destacando que “o nosso carimbo, como psicólogos, tem poder, poder de abalar e transformar vidas para todo o sempre”.

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Juliana Gomes e Joari Carvalho

ENCERRAMENTO

Compuseram a mesa de encerramento do evento o integrante da Comissão Nacional de Assistência Social do CFP, Joari Carvalho, e a conselheira-coordenadora da Comissão de Assistência do CRP-RJ, Juliana Gomes.

“Fazendo essa I Mostra, estamos vivenciando, de fato, o que é uma política pública nacional com suas especificidades regionais”, afirmou o representante do CFP. “Esse é um espaço estratégico porque é ele que vai nos ajudar a pensar como rumar daqui em diante”.

“Estou confiante de que muitos psicólogos que participaram das discussões do evento vão sair renovados e com muitas ideias para levar para seu espaço de trabalho”, declarou, por sua vez, Juliana Gomes, convocando as (os) profissionais à luta em defesa do SUAS e à resistência e ao enfrentamento contra o sucateamento dessa política.



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