auto_awesome

Noticias






Debate sobre desafios da prática clínica encerra segundo dia da 12ª Mostra


Data de Publicação: 11 de setembro de 2018


“Os desafios da Clínica na Atualidade” foi o tema da mesa de debates que encerrou o segundo dia da 12ª Mostra Regional de Práticas em Psicologia, que aconteceu entre 29 e 31 de agosto na UERJ – Maracanã.

Com mediação de Roberto Stern (CRP 05/1700), conselheiro-coordenador da Comissão Regional de Diretos Humanos do CRP-RJ, a mesa contou com a participação de Eleonôra Torres Prestrelo (CRP 05/7449), doutora em Psicologia, gestalt-terapeuta e coordenadora do Núcleo de Extensão do Instituto de Psicologia da UERJ, Clarisse Boechat (CRP 05/41933), psicóloga, psicanalista que atuou entre 2012 e 2014 no Consultório na Rua e entre 2014 a 2016 no CAPS-AD Paulo da Portela, e Júlio Cesar de Oliveira Nicodemos (CRP 05/34432), psicólogo clínico, psicanalista, supervisor clínico-institucional na Rede de Atenção Psicossocial e professor do curso de Psicologia na UNIVERSO – Niterói. roberto stern

Roberto Stern iniciou o debate destacando a ampliação, nas últimas décadas, da atuação clínica de psicólogas (os) para além do setting terapêutico do consultório particular, provocando novos desafios e reflexões para essa categoria profissional.

Eleonôra Prestrelo afirmou que “a prática clínica é, por si mesma, um desafio”. Ela defendeu também a ampliação da prática clínica para além do conceito médico de diagnóstico, baseada em uma relação dual entre paciente e profissional.

“Ao invés de diagnósticos, prefiro falar em modos de viver, em estilos de contato, em configurações de vida possíveis. Contato é uma concepção central na abordagem gestáltica e se refere à ação que performa uma troca, um movimento constante de autorregulação. Através dele, assimilamos ou rejeitamos elementos necessários ao nosso crescimento e amadurecimento”, afirmou.

Finalizando a sua fala, a psicóloga ponderou que as questões atuais que desafiam a prática estão relacionadas à conjuntura social geral que impactam e atravessam os sujeitos, tais como as relações sociais permeadas pelo medo, o distanciamento entre as pessoas e a intolerância às diferenças.

Clarisse Boechat, por sua vez, compartilhou suas experiências no trabalho realizado junto à população em situação de rua e a usuários de drogas nas regiões Norte e Central da cidade do Rio de Janeiro. Ela destacou a importância da atuação multiprofissional nas equipes de Consultório na Rua na atenção psicossocial a essa população.

“Tanto o trabalho realizado no território quanto o trabalho realizado na unidade de saúde são super importantes. O trabalho na unidade é fundamental porque as pessoas têm direito de acessar o serviço de saúde. Mas, por outro lado, essa população muitas vezes não chega, por si só, nas unidades de saúde. Muitas vezes é preciso que a equipe multiprofissional vá até a rua e se aproxime dessa população, conheça esses usuários e consiga levá-los para um cuidado maior na unidade”, contou a psicóloga.

“O trabalho junto à população em situação de rua deve ser intersetorial porque, muitas vezes, a Saúde não dá conta de todas as questões colocadas. Então, é preciso uma articulação com a Assistência Social, a Educação, o Ministério Público, considerando as particularidades e necessidades de cada um”, defendeu ela.

Clarisse Boechat também afirmou que “muitas vezes, os profissionais do serviço que lida com a população em situação de rua ficam muito assustados ao se deparar com essas formas de vida tão distintas. Este é um desafio colocado para nós, profissionais: trabalhar com essas diferenças tão radicais, não transformando uma oferta de saúde na imposição de um modo de vida”.

Encerrando a mesa de debates, Júlio Nicodemos falou sobre sua experiência na atuação junto a usuários de drogas na cidade do Porto, em Portugal, durante o período em que cursou um semestre do doutorado naquele país, narrando as semelhanças e diferenças nesse trabalho em relação o Brasil.

“Nós utilizamos, como instrumentos de intervenção, a oferta da nossa escuta, uma escuta que não se pauta numa parafernália de saberes da Psicologia, mas sim na experiência de cada sujeito, onde o uso de drogas é apenas mais um dos elementos a serem considerados. Escutar um sujeito, e não seu comportamento supostamente adicto, faz deslocar as nossas certezas e cair por terra qualquer especialismo em dependência química. Aliás, nesse campo, qualquer especialismo é falacioso, já que o que nos interessa é o sofrimento psíquico. Por isso, no campo da Atenção Psicossocial brasileira, cuidamos das rupturas dos laços sociais e territoriais, não de uma suposta doença travestida de um suposto transtorno mental”, disse.

O psicólogo também defendeu que trabalhar no campo da Saúde Mental, atuando principalmente nas ruas, demanda certa inventividade da (o) profissional e lembrou a dimensão ético-política da atuação psi.  Segundo ele, é possível “pensar uma Psicologia mais potente atravessada por sua dimensão política quando conseguimos entender em que território estamos trabalhando. Nosso fazer clínico é sempre político à medida que fazemos apostas e que elas são pautadas em diretrizes conquistadas com muita luta. Acho que não podemos misturar Psicologia com política partidária, mas também não dá para falar de um lugar que não inclua uma atuação política que é pautada em diretrizes que, por sua vez, não são neutras”.

O evento teve transmissão ao vivo na nossa página do Facebook. Acesse aqui e assista à palestra completa.

Para ler a cobertura completa, clique aqui.



roberto-stern.jpg