Aconteceu, no dia 8 de agosto, na UERJ do Maracanã, uma roda de conversa sobre o tema “Os anciões indígenas e as novas tecnologias”. O evento contou com o apoio do CRP-RJ, que se fez presente por meio do conselheiro e também professor de Psicologia da UERJ, Thiago Melicio (CRP 05/35915).
“Um evento aqui na UERJ com a temática e com a presença de indígenas é sempre algo potencializador. É importante fazermos da nossa prática diária, seja no âmbito acadêmico, profissional ou social como um todo, algo que aconteça em uma perspectiva polifônica, que valorize a alteridade e as diferentes possibilidades de mundo que ela proporciona”, destacou o conselheiro na abertura do evento.
A mesa de debates – oficialmente aberta após um ritual de canto e dança tradicional da tribo dos “Karapotó Plaki-ô”, do estado de Alagoas, que foi representada pela anciã Vandelita Karapotó e pelo jovem Ivan Karapotó – foi composta também pelo professor de antropologia da UERJ Marcos Albuquerque e pelo doutorando da UERJ Bruno Pacheco.
Ivan falou sobre o uso da tecnologia em sua tribo e destacou a importância da troca de experiências entre os mais jovens e os anciãos em relação a esse uso. Ele explicou também que essa troca é uma das propostas do projeto “Memória Viva”, o qual, segundo afirmou, “fez com que nós, jovens, ficássemos responsáveis por ir a casa de cada ancião da tribo e ensiná-los a como usar as novas tecnologias”.
Ivan narrou também experiências pessoais em seu trabalho no projeto “Memória Viva”. Conforme contou, durante o período em que viveu com o ancião João Simão, de 64 anos, este o transmitia conhecimentos e tradições – como dançar toré e fazer trançado em palha e tanga – enquanto ele, como jovem, o ensinava a fazer uso da tecnologia, como celular e câmera digital.
Vandelita, por sua vez, palestrou sobre a “Luta da terra de Karapotó”, assunto questionado por sua neta durante o projeto “Memória Viva”. “Fomos expulsos de nossa terra, onde morávamos há anos. Fomos jogados na rodovia. Fizemos de tudo para não nos acidentarmos, enquanto muitos caminhoneiros e motoristas nos atiravam pedras na estrada. Somente algum tempo depois o Cacique da tribo voltou de Brasília com a notícia de que poderíamos voltar a nossa terra”, contou.
A mesa seguiu com a fala de Marcos Albuquerque. “Nós temos sempre essa ideia de que as comunidades indígenas não vivem na modernidade, estão distantes de tecnologia, sempre necessitando da mediação de atores sociais antropólogos ou de entidades indigenistas. Hoje, não acontece mais dessa forma”, destacou.
Bruno Pacheco, por fim, destacou a importância do reconhecimento dos direitos dos indígenas e do combate aos preconceitos e à segregação que historicamente invisibilizam essa população. “Existe uma barreira, um muro, entre nós e os índios. Parece que eles não são humanos que habitam o Brasil. Precisamos desconstruir essas distâncias”.
Por fim, no encerramento do evento, foi destacada a necessidade de se pensar os povos indígenas em termos plurais e diferenciados, para que não se caia na generalização reducionista que colocam “os índios” e “as índias” como um grupo homogêneo e estereotipado. Tratam-se de culturas diversificadas e múltiplas, que convivem tanto entre os elementos das tradições e das novidades urbanas e contemporâneas, como entre o reconhecimento tardio de sua cidadania e a resistência.
Para conhecer um pouco mais sobre o projeto Memória Viva, acesse: https://www.indiosonline.net/memoria-viva-videos/.