A Comissão Gestora do CRP-RJ na Baixada promoveu, no dia 26 de abril, na Subsede de Nova Iguaçu, a 27ª edição do Rodas e Encontros com tema “Relações Raciais e a interface com as intervenções”. A roda de conversa foi mediada pela psicóloga, colaboradora do CRP-RJ na Comissão Gestora da Baixada e também na Comissão Regional de Direitos Humanos, Jaqueline dos Santos Soares (CRP 05/41408), e teve participação de Kelly Manoela da Silva Brígido (CRP 05/49472), psicóloga na Secretaria Municipal de Assistência Social de São João de Meriti, e Nathália Oliveira dos Santos (CRP 05/42187), psicóloga da Secretaria Municipal de Assistência Social de Nova Iguaçu.
O encontro foi aberto pela conselheira-presidente da Comissão Gestora da Baixada, Mônica Valéria Affonso Sampaio (CRP 05/44523), que deu as boas-vindas ao público e destacou que “essa casa [a Subsede do CRP-RJ na Baixada] é nossa, é dos psicólogos. O CRP-RJ sou eu e você. Então, nós temos de ocupar esse espaço”.
Em seguida teve início a roda de conversa com a fala de Nathália Santos, que sublinhou que o racismo é um debate ainda delicado no Brasil. “Quando debatemos violência contra a mulher ou contra crianças, por exemplo, esse tema é mais consolidado, há maior abertura para o debate. Agora, quando falo do racismo, há um constrangimento maior. Além disso, quando se tenta debater violências que não são apenas físicas, mas psicológicas e morais, o debate parece ficar incômodo”, disse.
“Eu penso no racismo não como um fato ou uma verdade, mas como um fenômeno. Isso porque o racismo acontece na relação com o outro e eu preciso analisar de que forma essas relações vão se dar. Eu preciso do meu olhar para enxergar isso e também do olhar do outro para me enxergar”, argumentou a psicóloga, que afirmou também que, no Brasil, as relações raciais se dão de forma subentendida.

Da esq. para dir.: Nathália, Kelly e Jacqueline
Ainda segundo Nathália, a (o) profissional de Psicologia precisa questionar algumas crenças, como a de que o racismo se manifesta somente nas relações individuais. “Não devemos esquecer que o racismo possui três dimensões: a individual (entre indivíduos), a estrutural (que analisa a raiz do racismo na constituição da sociedade brasileira) e a institucional (entre as instituições e os indivíduos)”, explicou.
Kelly Brígido ressaltou o “quão introjetado está em todos nós o racismo e a subvalorização do negro”. Conforme enfatizou, “nós, negros, não somos descendentes de escravos, somos descendentes de seres humanos que, em determinado momento histórico, foram escravizados. Portanto, todos temos os mesmos direitos, mas, há muito tempo atrás, foi introjetado em todos nós que somos inferiores”.
“E qual é o nosso posicionamento, como profissionais de Psicologia, frente a isso, seja na área clínica, na institucional ou jurídica? Que demandas vamos receber e de que forma vamos recebê-las? Não tenho dúvidas de que o nosso papel, como psicólogos, deve ser o de fortalecer a representatividade da população negra. Mas será que nós estamos, de fato, preparados para essa demanda?”, questionou a psicóloga.
“Vocês conhecem o ditado popular: ‘se tiver um limão, faça uma limonada’? O limão é azedo e fazer um suco puro do limão não é bom. Mas, quando você coloca um pouco de água e de açúcar, o sabor fica melhor e você consegue compartilhar esse suco com mais pessoas”, acrescentou ela. “Agora, fazendo uma analogia com o nosso debate: o limão é o preconceito, o racismo, a discriminação; o açúcar é a educação, o empoderamento; já a água somos todos nós. Então, convido vocês: vamos fazer hoje uma limonada?”.
Coletivo de psicólogas (os) pretas (os)
Após o debate, foi constituído um coletivo de psicólogas (os) pretas (os) da Baixada, com o objetivo de construir e fortalecer redes, buscando pesquisar, estudar e conhecer melhor as demandas da população negra da região, as particularidades do território e, assim, articular coletivamente as intervenções profissionais.