
Debate reuniu psicólogas (os) e estudantes na Subsede do CRP-RJ em Nova Iguaçu
“A realização desse evento é resultado de uma grande demanda de profissionais da região para debater o autismo”, destacou Mônica Valéria Affonso Sampaio (CRP 05/44523), conselheira-presidente da Comissão Gestora do CRP-RJ na Baixada Fluminense, dando início à 53ª edição do Cine Psi, realizada no dia 27 de fevereiro em Nova Iguaçu, para discutir “Autismo: uma realidade”.
Aberto à participação de psicólogas (os), estudantes e demais interessadas (os), o encontro teve como palestrantes Pâmela Perez (CRP 05/25126), psicóloga da Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro, psicanalista, fotógrafa e documentarista, e Maíra Amaral de Andrade (CRP 05/32352), psicóloga e diretora do Núcleo Integrado de Desenvolvimento Humano (NIDH).
Para instigar a reflexão entre as (os) presentes, foi exibido o vídeo “Autismos Entreditos”, produzido por Pâmela Perez e que dá voz a autistas e familiares usuários de um Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) na Zona Norte do Rio de Janeiro, retratando seus desafios, embates e conquistas.
Pâmela afirmou que o autista deve ser encarado como um sujeito e que é a partir desse olhar que a (o) psicóloga (o) deve atuar. “É possível trabalhar com o autista se o entendemos como um sujeito. É a partir dessa percepção que devemos trabalhar”, disse.
“Eu tenho dificuldade de fazer essa distinção entre paciente autista e não autista”, acrescentou. “Eu acredito no sujeito. O que me faz acordar todos os dias e ir trabalhar é essa conexão que se estabelece com outro, é esse compromisso clínico, ético e político de poder se conectar com esse outro, que é diferente, que vive, pensa e age de modo diferente”.

As psicólogas Pâmela Perez e Maíra Andrade (da esq. para dir.) foram as palestrantes do evento
Pâmela apontou também que “muitas pessoas chegam hoje no serviço público com diagnóstico de autista, mas não são” e defendeu que o trabalho desenvolvido junto aos autistas não demanda que a (o) psicóloga (o) seja especialista ou éxpert nesse assunto.
“Muitos profissionais do serviço público não trabalham com autistas por afirmarem que não são especialistas e não possuem capacitação adequada. Na verdade, eu acredito que as especificidades do trabalho nós aprendemos ao longo da prática clínica. Uma coisa é procurar um especialista para fazer a avaliação diagnóstica, outra é acreditar que somente um especialista pode trabalhar com seu filho. É claro que é preciso estudar muito, mas eu entendo que essa busca pelo aprendizado e pelo conhecimento pode vir depois, a partir da prática”, argumentou.
Maíra, por sua vez, destacou em sua fala sua experiência como psicóloga que atua no processo de avaliação e diagnóstico, incluindo pessoas autistas. Segundo ela, é comum crianças e adolescentes serem diagnosticadas equivocadamente como autistas. A seguir, a psicóloga sublinhou a importância de os casos de autismo serem diagnosticados ainda na fase de crianças.
“Infelizmente, há poucos profissionais atualmente na Baixada para fazer a avaliação de diagnóstico do autismo. É importante que esse diagnóstico seja feito cedo, para que se possa trabalhar com a criança, porque ela precisa ser estimulada a todo o momento. É claro que uma criança autista não terá o desenvolvimento de uma criança que se julga ‘normal’, mas, quando esse trabalho de estímulo começa cedo, é possível se alcançar um bom resultado no longo prazo”, afirmou.
Maíra também falou sobre a importância de que, durante o processo de acompanhamento do sujeito autista, seja feito também um acompanhamento de seus pais, ou familiares responsáveis. “A família do autista também precisa de atendimento e suporte. Não é possível fazer uma trabalho junto aos autistas sem incluir seus pais”, defendeu.
Por fim, Pâmela afirmou que, “para a psicanálise, o autismo não é doença e, portanto, ele não tem cura. O autismo é um modo diferente de subjetivação. O que precisamos é lutar para construir uma sociedade diferente que inclua e acolha os sujeitos que vivem, pensam e agem de forma diferente”.