No dia 11 de maio, a subsede Baixada do CRP-RJ abriu suas portas para o evento “Liberdade, cuidado, direitos, (im)possibilidades, interfaces: Psicologia, direito e liberdade”.
O encontro reuniu profissionais e estudantes de Psicologia para discutir desinstitucionalização, elaboração de documentos, mediação de conflitos, cuidado, liberdade e luta antimanicomial.
Para acompanhar na íntegra como foi o evento, acesse o canal oficial o do CRP-RJ no YouTube @realCRPRJ.
Mesa de Abertura InstitucionalA mesa de abertura institucional contou com as(os) integrantes Viviane Martins (CRP 05/32170), vice-presidenta e colaboradora da Comissão Especial de Psicologia e Relações Étnico-Raciais do CRP-RJ, Thiago Rodrigues (CRP 05/50505), coordenador da subsede Baixada do CRP-RJ, Conceição Gama (CRP 05/39882), coordenadora da Comissão Regional de Direitos Humanos e coordenadora do eixo de Políticas para as mulheres do CRP-RJ e como Mestre de cerimônias Ana Luiza Soares, estudante de Psicologia e pessoa com deficiência (PCD), que falaram sobre o tema “o cuidado em Liberdade” e a importância da luta antimanicomial.
Viviane Martins falou sobre a concretização da descentralização proposta pelo plenário atual, tendo ocorrendo eventos em diversas regiões do estado do Rio, com a mesma proporção e empenho dos eventos realizados na capital. Viviane ainda falou sobre as revitalizações das subsedes, reflexo do lugar de cuidado onde a(o) psicóloga(o) é recebida(o) e atendida(o), sendo Petrópolis a mais recente reinauguração.
Via vídeos, a conselheira Conceição Gama destacou a importância da atuação da Comissão de Direitos Humanos em diversos eixos, como Psicologia Ambiental, gênero e diversidade sexual, infância e juventude, laicidade e políticas de drogas. Ela enfatiza a importância de debater esses temas no Conselho, visto que direitos humanos estão presentes em todos os campos de atuação da Psicologia, sendo um tema central no código de ética da profissão e na garantia de uma atuação comprometida com a população.
Na sequência, o coordenador da subsede Baixada Thiago Rodrigues também falou sobre o ciclo de eventos focados na regionalização que o Conselho está produzindo, sendo todos transmitidos, dando acesso à categoria e estudantes independentemente da onde estejam. Rodrigues ainda falou do tema da próxima mesa, reforçando a importância da questão da desinstitucionalização de pessoas idosas, e defende o direito de escolha e autonomia dos idosos.
Mesa InstitucionalizaçãoA Mesa sobre Institucionalização, por sua vez, aprofundou a discussão sobre o cuidado, com foco em instituições de longa permanência para pessoas idosas. As(os) participantes abordaram a importância da legislação e dos direitos da pessoa idosa, incluindo a necessidade de respeito à autonomia e à liberdade de escolha, bem como a desmistificação da sexualidade na terceira idade.
Compuseram a mesa Vanúsia Amaral (CRP 05/52315), psicóloga, pós-graduada em gerontologia, graduanda em terapia ocupacional e vice-presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Pessoa Idosa de Nova Iguaçu, Ana Carolina Rosa (CRP 05/56393), psicóloga clínica, hospitalar, psico oncologia, especialista em Avaliação Psicológica, terapia cognitiva comportamental, e psicóloga e responsável técnica da Desenvolver-se, Lissandra Cardozo, mulher trans, ex-estudante de psicologia, administradora e atualmente Acolhida da Casa Dulce Seixas e na mediação Tiago Santos (CRP 05/47737), colaborador da Comissão Regional de Direitos Humanos do CRP-RJ.
Vanúsia Amaral, psicóloga especialista em gerontologia, destacou a diferença entre “idoso” e “pessoa idosa”, enfatizando a importância de respeitar a autonomia e a capacidade de decisão das pessoas idosas. Ela abordou a atuação do psicólogo na garantia dos direitos da pessoa idosa, especialmente em instituições, compartilhando experiências pessoais e profissionais que demonstram a necessidade de uma atuação humanizada e ética. Vanúsia enfatizou a importância do envolvimento da Psicologia em diferentes momentos do processo de tratamento e acompanhamento, promovendo o bem-estar e a dignidade da pessoa idosa.
Lissandra Cardozo, compartilhou sua experiência pessoal com a institucionalização e desinstitucionalização, relatando a violência sofrida por sua família. Ela expôs as dificuldades enfrentadas durante sua transição de gênero, incluindo a perda do emprego. Lissandra enfatizou a importância do debate sobre a transfobia biomédica, que dificulta o acesso a tratamentos adequados para indivíduos trans. Ela trouxe exemplos de negligência médica e desrespeito aos direitos dos pacientes trans, apelando à empatia e respeito por seus direitos.
A psicóloga clínica e hospitalar oncológica Ana Carolina Moreno de Souza, enfatizou a importância da atuação da(o) psicóloga(o) na garantia dos direitos dos idosos e trans. De dentro do SUS, a psicóloga também relatou a dificuldade que as equipes médicas possuem no atendimento de pessoas trans.
Tiago Santos fez uma amarra de cada fala, destacando que os idosos também podem amar e ter vida sexual ativa e fala do princípio da Comissão Gestora da Baixada “nada de nós sem nós” onde a cada evento orientativo, a comissão tem o cuidado de chamar uma voz que tenha vivido o determinado assunto para que se potencialize o discurso.
Intervenção Cultural
A intervenção cultural da atividade, levou ao público do auditório, uma dinâmica de freestyle de conhecimento, onde a plateia pode contribuir com palavra para que os integrantes do grupo de rap pudessem ritmizar na hora, com as palavras recebidas.
Os jovens Jota da Via, Rico Mesquita e Medusa, conduziram uma dinâmica super aplaudida de hip-hop repleta de autoestima, autoconfiança e saúde mental. Rico Mesquita, acredita que o objetivo de todos que estiveram participando do evento foi entender a mente humana, o que torna a Psicologia algo importante e inclusivo. Rico ainda ressalta que o hip-hop é um espaço que acolhe a todos e que a cultura tem potencial para promover a saúde mental e a dignidade. Jota da Via trouxe em sua fala um relato sobre a saúde mental como tabu no lugar de onde ele veio. Diz que o hip-hop é uma forma de terapia e voz da favela, com palavras carregam a história da marginalização, dos direitos humanos negligenciados, sobre a importância da Psicologia para eles e do cuidado e luta por um futuro melhor.
Mesa Desinstitucionalização
A mesa sobre Desinstitucionalização evidenciou a importância da luta antimanicomial e a necessidade de se continuar trabalhando para a desinstitucionalização das pessoas com transtornos mentais, garantindo seus direitos e promovendo sua reinserção social. A importância da atuação da(o) psicóloga(o) em rede, em parceria com outros serviços, foi destacada. Estiveram nessa mesa as participantes Yvanna da Silva Britto (CRP 05/66298), colaboradora do CRP-RJ na mediação, Keri Ribeiro (CRP 05/64833), psicóloga da equipe técnica do Serviço Família Acolhedora de Nova Iguaçu, especialista em autismo, especialista em neuropsicologia e pós-graduanda em Psicologia Social, Silvana Amaro (CRP 05/1943), psicóloga especialista em gestão da clínica das redes metropolitanas de atenção à saúde e Psicóloga no município de Japeri e Daniele de Oliveira (CRP 05/51876), psicóloga da rede de atenção psicossocial do município do Rio de Janeiro há 6 anos, estudo e experiência com Medida de segurança.
A psicóloga Keri Ribeiro trouxe em sua fala a institucionalização da criança. Com sua experiência nessa política pública, a psicóloga comentou sobre o vínculo familiar, negligência familiar, revitalização da família e entendimentos do direitos da criança disponibilizados no Serviço Família Acolhedora.
Silvana Amara trouxe a desinstitucionalização do cuidado em saúde mental, dos manicômios, da vida, do processo de humanização que deve ser feito em algumas instituições e da lei n.º 10.216, de 6 de abril de 2001, que dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em saúde mental. Falando sobre o dia da luta antimanicomial, a psicóloga contou que a loucura era levada no passado como causas sobrenaturais que levava vergonha e humilhação para a família da pessoa. A psicóloga definiu com desinstitucionalização como uma imagem de pássaros saindo da gaiola.
A psicóloga Daniele de Oliveira trouxe temas sobre manicômio judiciário, CAPS (Centro de Atenção Psicossocial) e a saúde dos usuários desse equipamento. A invisibilidade da atuação da Psicologia nos manicômios judiciários e a ausência de discussão sobre o assunto foram destaque de crítica da palestrante.
Mediando a mesa, a colaboradora da subsede Baixada, Yvanna Brito, falou sobre a importância do mês da luta antimanicomial.
Oficina de Elaboração de DocumentosA oficina de elaboração de documentos, foi ministrada por Maíra Andrade (CRP 05/32352), conselheira do CRP-RJ, coordena a Comissão Especial de Avaliação psicológica, Comissão de Orientação e Ética (COE) e o Núcleo de Psicologia e Tráfego, como objetivo capacitar as(os) psicólogas(os) e estudantes presentes sobre as normas e resoluções do CFP (Conselho Federal de Psicologia) a respeito da produção de documentos psicológicos.
A partir de exemplos práticos e dinâmicas com a plateia, Maíra Andrade abordou os diferentes tipos de documentos, suas estruturas, finalidade, guarda, entrega e validade. A palestrante enfatizou a importância da ética profissional e a responsabilidade da(o) psicóloga(o) na elaboração de documentos fidedignos e que reflitam um processo de avaliação psicológica adequado à demanda.
A atividade também serviu como um espaço de debate sobre os desafios da prática profissional, visando lutar contra a banalização da avaliação psicológica. A importância da atualização constante, da leitura das resoluções e do Código de Ética e da Resolução 06/2019 que estabelece diretrizes para elaboração de documentos escritos por psicólogas(os), revogando resoluções anteriores e especificando a estrutura para cada documento bem como da participação em eventos e grupos de estudo, foi reforçada para as(os) psicólogas(os) poderem se instrumentalizar para a elaboração de documentos éticos e de qualidade.
Oficina de Mediação de Conflitos
A última atividade do evento foi a Oficina de Mediação de Conflitos, produzida pela Comissão de Meios e Soluções Consensuais de Conflitos (COMSCC) do CRP-RJ, com objetivo de destaca a mediação de conflitos como um dos processos que buscam alternativas de resoluções para as questões que chegam dentro do Sistema Conselhos de Psicologia, sendo este um processo dialógico, voluntário, informal, imparcial, que estimula a participação direta de todos os envolvidos na questão para juntos buscarem a melhor alternativa de resolução.
Estiveram na dinâmica Juliana Gabriel (CRP 05/29063), conselheira e coordenadora da COMSCC do CRP-RJ, Pedro Aquino, advogado colaborativo, mediador do CRP-RJ, colaborador da COMSCC, Renata Santos, membro da COMSCC, Mariana Vilhena, advogada e mediadora e Fernanda Ripper advogada e mediadora.
Juliana Gabriel ressaltou que a Oficina de Mediação de Conflitos buscou promover um espaço de reflexão, agregando teoria e prática sobre os métodos alternativos de resolução de conflitos, utilizando neste encontro a CNV – Comunicação Não Violenta, criada pelo psicólogo Marshall Rosenberg, como uma das ferramentas para pensar as formas de comunicação.
A oficina abriu espaço para a discussão entre os presentes, trazendo reflexões a respeito dos desafios dos métodos alternativos de resolução de conflitos em diferentes contextos, aprofundando a potencialidade deste espaço alternativo que coloca o psicólogo em um processo de aprendizagem, ampliando seu olhar sobre si e o outro, tendo como resultado a responsabilização, a reparação dos danos causado e a mudança de olhar ético profissional.
A conselheira finaliza convidando os presentes para outros encontros da Comissão de Mediação e Soluções Consensuais de Conflitos, para aprofundar a discussão sobre os diferentes métodos e ampliar as possibilidades de atuação da(o) psicóloga(o) nesse campo. Ela destaca a importância da participação dos profissionais de Psicologia nos debates sobre a ética e responsabilidade na prática profissional, para a construção de uma sociedade mais justa, pacífica e antipunitivista.