Com mais de 100 pessoas no auditório da UERJ, ocorreu a segunda mesa do III Seminário de Psicologia na Assistência Social com tema “Gestão e Vigilância Socioassistencial no combate às desigualdades sociais”.
Os palestrantes foram Paula Kwamme Latgé (CRP 05/38749), psicóloga da Prefeitura de Niterói, professora do “capacitaSUAS” e conselheira da Comissão de Psicologia e Políticas Públicas do CRP-RJ, Carla Felows (CRP 05/33480), docente do CapacitaSuas RJ/MG com 11 anos de experiência em Gestão Pública, e Diana Delgado, assistente social, analista executiva e especialista em Administração Pública.
Paula Latgé foi a primeira a trazer sua visão e pontuou a questão da diferença entre a gestão e a “ponta”. Explicou que esse lugar de profissional da “ponta” deve ser problematizado, uma vez que todos devem ser envolvidos na gestão de forma a tornar mais eficiente os serviços prestados aos usuários do Sistema Único de Assistência Social.

Da esq. para dir.: Diana, Carla e Paula. Ao final, o intérprete de libras.
“Se tem uma coisa que pode produzir mudança é a Psicologia, mas também pode produzir permanência. Depende de onde nós estamos, a quem nós respondemos, a quem nós servimos. Assumir e se envolver na gestão dos recursos e dos serviços públicos é sair do lugar da ‘ponta’. Temos até substituir o termo ‘gerir’ por ‘gestar’, porque gestar significa dar existência, produzir, causar. Eu acho que esse é o lugar que a Psicologia pode contribuir”, afirmou.
“A saída é a subversão, no sentido de subverter lógicas naturalizadas, e construir estratégias de enfrentamento coletivamente, garantindo direitos para usuários e trabalhadores”, concluiu Latgé.
Depois, Carla problematizou o próprio papel do Estado. “Estamos falando de um Estado que descumpre, por exemplo, o artigo I da sua Constituição. Estamos falando de um Estado que sucateia os seus serviços e oprime os que estão lutando para manter esses mesmos serviços. E estamos falando de que Assistência Social? Esta Assistência Social é emancipadora ou é mantenedora?”.
“Política pública é feita de pessoas para pessoas e a Assistência Social tem como cerne o processo relacional. Não tem como fazer Assistência Social sem relacionamento. Se faz gestão pública se relacionando também. Porque, senão, viramos uma ilha sem construir nada. Relacionar-se é resistir contra o desmantelamento dos garantidores de direitos. Existe o monitoramento da vigilância e da gestão justamente para termos embasamento para tomar as melhores decisões”, concluiu a psicóloga.
Diana, por sua vez, compartilhou sua experiência e visão como assistente social e gestora. “A distância entre gestão e o profissional que atua nas funções meio deve ser diminuída. Quem está coordenando um CRAS, um CREAS, ou um profissional da ‘ponta’ também é um gestor. Agora existe uma nova categoria que é a de trabalhadores do SUAS, na qual estão, além de psicólogos e assistentes sociais, sociólogos, antropólogos e outros profissionais. Só que ainda não foram definidas as funções e o modo de fazer destes profissionais. E se eles não se posicionarem e tomarem a si essa definição, outros vão fazer. Depois só restará o lugar da reclamação e da queixa sobre os processos instaurados. É preciso ocupar o lugar de gestão, em qualquer função”, pontuou Diana.
“Existe uma única questão social que é a desigualdade criada pelo modo de produção capitalista, no qual uns produzem e outros se apropriam do que foi produzido. Todas as outras questões sociais que surgem são decorrentes dessa”, finalizou a assistente social.