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CRP-RJ apoia e divulga a Carta Pública dos trabalhadores do CAPS da Rocinha


Data de Publicação: 21 de setembro de 2017


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Veja a íntegra da nota divulgada pelos trabalhadores do Centro de Atenção Psicossocial Maria do Socorro Santos, localizado na Rocinha, diante da violência dos últimos confrontos entre polícia e traficantes.
“Carta Pública do Coletivo dos Trabalhadores do CAPS III Maria do Socorro Santos – Rocinha/RJ

Nós, trabalhadores da saúde pública no Centro de Atenção Psicossocial Maria do Socorro Santos, que atende a comunidade da Rocinha e adjacências desde março de 2010, oferecendo à comunidade um serviço de atenção e tratamento territorial ao sofrimento psíquico grave, viemos a público trazer os recentes acontecimentos.

Domingo, 17 de setembro de 2017, uma guerra entre traficantes colocou em risco a vida de moradores e trabalhadores deste território. Esta é uma realidade cada vez mais vivenciada nas comunidades carentes do RJ, onde estas populações se encontram à mercê da crescente violência urbana gerada tanto pelo abandono quanto pela repressão do Estado, que através da criminalização ao uso de drogas situa no centro dessa violência as populações mais carentes da cidade.

No último domingo, essa realidade cotidiana do Rio teve na Rocinha seu mais recente palco. A partir deste dia a comunidade tem vivido um tempo de imensa insegurança, que a qualquer momento pode disparar novamente uma guerra. Em meio ao confronto entre traficantes, o Complexo de Saúde (que inclui três serviços de saúde do SUS: Centro de Atenção Psicossocial – CAPS, Clínica da Família e Unidade de Pronto Atendimento – UPA) sofreu com a violência dessa guerra, tendo suas vidas em risco, tanto os profissionais e pacientes que ali estavam presentes. Com o tiroteio correndo intensamente, balas alvejaram as paredes da unidade, perfurando o encanamento e gerando uma inundação na sala vermelha da UPA. Há marcas de bala por todo o Complexo de Saúde. Em meio a este momento de pânico, seis policiais adentraram o Complexo buscando proteção, o que proporcionou um aumento no sentimento de vulnerabilidade e medo nos profissionais e pacientes que ali estavam.

Percebemos a vulnerabilidade que o território vive: o despreparo para uma política de segurança que lança policiais sem estratégia em um lugar já dominado pelo tráfico; o descaso com seus profissionais da saúde que constroem os vínculos do serviço com os cidadãos.

É com pesar que constatamos mais uma vez a negligência com a saúde pública, e em especial nas áreas mais carentes. E mais impactante parece a proporção que essa guerra está tomando, onde a vida de funcionários do SUS e moradores da comunidade parecem quase desprovidas de valor. A frágil estrutura do Complexo de Saúde somada à invasão deste espaço por policiais visivelmente tão desesperados quanto os já ali presentes traz a dureza de uma cena onde a vida aparece por um triz.

Nossa equipe se esforça intensamente para sustentar a assistência em saúde mental que consideramos imprescindível. A saída deste território junto aos usuários do serviço de saúde fora extremamente importante para a garantia de segurança dessas pessoas. Esta ação seria inimaginável sem o apoio do CAPS III Franco Basaglia, que acolheu os usuários e os profissionais, mostrando a parceria no trabalho em rede.

No momento estamos funcionando nas acomodações do CAPS III Franco Basaglia (localizado em Botafogo), com parte de uma equipe mínima ainda no Complexo de Saúde localizado na Rocinha. Entendemos que neste momento ainda não é possível o funcionamento normal de nossa unidade no território. Haja visto que o clima de tensão permanece na comunidade. O contrário disso seria colocar novamente em risco a vida de profissionais e usuários, uma vez que continuam correndo as notícias de que o confronto na Rocinha não terminou.

Ainda é importante registrar a existência de um Serviço Residencial Terapêutico neste território vinculado ao CAPS. Esta casa, apesar de situada na parte mais baixa da Rocinha, também se vê neste momento em situação de vulnerabilidade. A violência tem despertado nestes moradores o desencadeamento de crises que muito tem a ver com a realidade.

Em um momento de cortes de direitos sociais, salários atrasados, ameaça de fechamento de clínicas da família, demissão de profissionais, ofensiva contra o SUS que deve ser público, gratuito e de qualidade, agradecemos o apoio de todos e todas que se solidarizaram com o momento que estamos atravessando e convidamos vocês para somarem em nossa luta.

Coletivo de trabalhadores do CAPS Maria do Socorro.”



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