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Em entrevista ao CRP-RJ, filho de Emilio Mira y Lopez revela curiosidades de seu pai e fala da importância do ISOP


Data de Publicação: 31 de agosto de 2017


Em entrevista ao CRP-RJ, Emilio Mira y Lopez Filho relembra situações icônicas protagonizadas pelo Instituto de Seleção e Orientação Profissional (ISOP) e por Mira y Lopez, seu fundador.

CRP-RJ: Qual a importância do Instituto de Seleção e Orientação Profissional (ISOP) e por que celebrar seus 70 anos?

Emílio Mira y Lopez Filho: A importância desses 70 anos de ISOP é uma coisa não se enxerga logo de imediato. Primeiro, o sonho do ISOP se realiza em 1947, sendo que já era um sonho engavetado, político, anterior ao ano de 1947. O ISOP ficou engavetado enquanto projeto desde 1938, se não me engano. Dr. João Carlos Vital Brasil foi quem o idealizou e o ISOP foi bolado para ser uma escola de governo da Fundação Getúlio Vargas. O nome de meu pai, uma pessoa de prestígio internacional, foi sugerido para compor a administração do ISOP pela querida psicóloga Helena Antipoff. O importante é que o ISOP se dedicou à questão da orientação profissional. Vários colegas meus seguiram suas carreiras porque fizeram prova de orientação vocacional. Ou seja, o ISOP foi um grande revelador das aptidões e das vocações profissionais.

CRP-RJ: Existe um caso curioso em que o ISOP foi fundamental na escolha profissional de um dos expoentes da música popular brasileira. Você pode falar um pouco sobre isso?

Mira y Lopez: No começo da década de 1950, o ISOP recebia várias pessoas de governo para fazer recrutamento de pessoas. Um dia, meu pai recebeu um jovem e lhe disse: “Olha, meu jovem, sua carreira não é na diplomacia, e sim na arte ou na música”. Esse rapaz dá um beijo em papai e diz: “Eu quero ser músico, mas minha família acha que diplomacia é uma carreira estável… o senhor me garante que vou me dar bem? O senhor fala isso para minha família?”. Então, meu pai disse: “Falo”. Ele falou, a família acatou e o maestro Antônio Carlos Jobim deixou de ser diplomata para seguir carreira na música!

O ISOP procurou o encontro entre a aptidão e o trabalho. Muitas vezes, o que vemos hoje, nesse nosso mundo capitalista, é o trabalho como uma punição, uma forma disfarçada de escravidão, na qual você se castiga fazendo alguma coisa que você não gosta em troca de um salário. Quando, na verdade, acredito que o trabalho é a única forma de se encontrar liberdade. Nenhum povo, nenhuma pessoa pode crescer sem desenvolver sua aptidão.

Então, o ISOP foi um centro pioneiro da Psicologia aplicada no Brasil. Meu pai redigiu um projeto de lei para regulamentação da Psicologia, que antes era da área da Educação. Que eu saiba, a profissão de psicólogo aqui no Brasil antecede até a dos Estados Unidos.

CRP-RJ: Podemos dizer também que o ISOP teve participação importante na constituição da seleção brasileira de futebol nas décadas de 1950 e 1960?

 Mira y Lopez: Eu acompanhei com muita atenção os testes psicológicos que foram feitos pelo ISOP nos jogadores das seleções brasileiras de 1958 e 1962. Meu pai teve a ousadia de usar a Psicologia como forma de selecionar os jogadores mais capazes e os mais equilibrados. Coincidência ou não, o Brasil foi campeão nas Copas do Mundo de 58 e 62.

Nesse aspecto, tem uma característica muito importante de meu pai: ter uma visão holística da pessoa. Vamos supor você vê em mim 99% de coisas ruins e 1% de coisas boas. O que meu pai fazia era “largar” esses 99% e trabalhar em cima desse 1%, fazendo a pessoa render mais. Isso é muito importante porque, quando ignoramos ou desqualificamos as aptidões de cada pessoa, desperdiçamos o potencial humano.