No ano em que se comemoram 55 anos de regulamentação da Psicologia no Brasil, o CRP-RJ, em parceria com a Fundação Getúlio Vargas e o Clio-Psyqué/UERJ, organizou, no dia 23 de agosto, o Seminário “ISOP: Pioneiro da Psicologia”. O evento aconteceu no Centro do Rio, no mesmo local onde o Instituto de Seleção e Orientação Profissional (ISOP), fundado em 1947 pelo psiquiatra cubano-espanhol Emilio Mira y Lopez, funcionou até a data de seu fechamento, em 1990.
Tanto o ISOP quanto seu fundador desempenharam papel de destaque no desenvolvimento e na regulamentação da Psicologia, como ciência e profissão, no Brasil, contribuindo particularmente para o desenvolvimento da Psicologia Organizacional e do Trabalho, Escolar/Educacional e do Esporte.
Emilio Mira y Lopez Filho (em pé) na mesa de abertura ao lado de Suely Braga, Ana Jacó e Diva Conde (da dir. para esq.)
A mesa de abertura do evento teve participação da historiadora e coordenadora do Centro de Documentação da FGV, Suely Braga, da conselheira-presidente do CRP-RJ, Diva Lúcia Gautério Conde, da professora e coordenadora do Laboratório Clio-Psyqué/UERJ, Ana Jacó (CRP 05/661), da presidente da Associação Brasileira de Psicologia Aplicada (ABRAPA), Dina Frutuoso (CRP 05/587), da psicóloga e primeira presidente do CRP-RJ, Therezinha Albuquerque (CRP 05/003), e do filho do fundador do ISOP, Emilio Mira y Lopez Filho.
Dando início a mesa, Suely Braga destacou que a iniciativo do evento veio de Emilio Mira y Lopez Filho e afirmou ser “um prazer recebê-los todos aqui na Fundação Getúlio Vargas, onde o ISOP funcionou por tantas décadas”.
“Em 1971, estive por aqui no ISOP como estagiária”, lembrou Diva Conde. “É uma honra para o CRP-RJ estar junto ao Laboratório Clio-Psyqué promovendo este evento. A nós, do CRP-RJ, cabe o papel de preservar e sustentar a memória da Psicologia”, afirmou Diva, convidando, em seguida, Therezinha Albuquerque para compor a mesa. “É um prazer estar aqui nesse evento representando o início do CRP-RJ”, declarou.
Therezinha Albuquerque e Dina Frutuoso (da dir. para esq.) durante mesa de abertura
“Tive a honra de receber o acervo da biblioteca do professor Emilio Mira y Lopez. Uma doação importantíssima para o nosso laboratório [Clio-Psyqué] feita pela família do professor. Isso contribui muito para o crescimento do nosso laboratório e para os estudos da memória da Psicologia”, afirmou Ana Jacó, agradecendo ao filho de Mira y Lopez pela doação.
Dina Frutuoso, por sua vez, falou sobre a ABRAPA e sua história de luta que começou ainda na década de 1940 junto a Emilio Mira y Lopez. “A história da ABRAPA está intimamente ligada ao ISOP. Mira y Lopez foi o secretário-geral da ABRAPA desde a sua criação até a data de sua morte”.
“Meu pai lutou contra a ditadura lá na Espanha e eu lutei contra a ditadura aqui no Brasil. Meu pai transcendeu a guerra pela paz. E eu entendo a Psicologia como uma missão de paz”, afirmou, emocionado, Emilio Mira y Lopez Filho, citando, ainda, uma famosa frase de seu pai: “O efetivo é o afetivo”.
Conferência de Ana Jacó
Aspectos biográficos e históricos da trajetória de Mira y Lopez
Em seguida, teve início a conferência de abertura da professora Ana Jacó, que apresentou a biografia de Mira y Lopez e destacou a sua importância para o desenvolvimento e a consolidação da Psicologia no Brasil.
Conforme explicou, ele nasceu em Cuba e mudou-se ainda pequeno para Barcelona, onde fez toda a sua carreira, tornando-se o primeiro catedrático em Psiquiatria da cidade. De posição assumidamente socialista, Mira y Lopez foi o chefe do serviço psiquiátrico das tropas republicanas durante a Guerra Civil Espanhola (1936-39). Com o fim da guerra e a vitória das tropas fascistas do general Franco, ele exilou-se em países da Europa e América Latina, tendo-se fixado no Brasil em 1947, ano também em que fundou o ISOP.
A professora da UERJ falou também do PMK, teste de personalidade inventado por Mira y Lopez “durante seu exílio na Inglaterra e desenvolvido e utilizado aqui no Brasil, cuja padronização e critérios de avaliação foram estabelecidos pela D. Alice [esposa de Mira y Lopez]. Essa informação é muito importante porque a D. Alice fica numa posição secundária com relação ao professor Mira, mas ela teve relevância muito grande”.
“Eu quero chamar a atenção para dois aspectos que considero de maior relevância no trabalho de Mira y Lopez. O primeiro foi a grande presença feminina no ISOP. Há mulheres atuando em vários espaços daquilo que viria a ser regulamentado depois como Psicologia. Nos arquivos do ISOP, temos um índice de artigos de publicação feminina que é impressionante. O segundo foi mostrar para o Brasil que existia uma Psicologia lá fora e criar condições de intercâmbio entre a Psicologia brasileira e a que vinha sendo praticada em nível internacional”, finalizou Ana Jacó.
Familiares de Mira y Lopez (à esq.) e José Novaes no descerramento de foto comemorativa dos 70 anos do ISOP
Homenagem
Após essa conferência, em outro momento emocionante do dia, foi prestada homenagem a José Novaes, representando todos os funcionários que atuaram no ISOP. Novaes trabalhou no ISOP por 18 anos, entre 1965 e 1983. “Os anos em que passei como funcionário do ISOP foram uns dos anos mais felizes da minha vida”, destacou.
Novaes sublinhou também o papel essencial do ISOP e de Mira y Lopez “na construção da Psicologia brasileira, na criação e divulgação de instrumentos da Psicologia e na realização de pesquisas e estudos acadêmicos”.
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