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Roda de conversa sobre Psicologia, Laicidade e Direitos Humanos acontece no CRP-RJ


Data de Publicação: 2 de fevereiro de 2017


Para marcar o Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa, o CRP-RJ promoveu, em 28 de janeiro, uma roda de conversa onde o tema do debate discorreu sobre “Liberdade de crença/não crença: um direito humano”.

O evento foi coordenado pelo psicólogo e conselheiro do CRP-RJ José Henrique Lobato Vianna (CRP 05/18767), que falou brevemente sobre a inserção, ao longo dos anos, desse debate nas atividades do CRP-RJ. “A partir do XIII Plenário do CRP-RJ [gestão 2010-2013], começamos a trabalhar mais intensamente esse tema da religiosidade, espiritualidade e laicidade. No XIV Plenário [gestão 2013-2016], esse debate foi abraçado pela Comissão de Direitos Humanos do CRP-RJ com a criação do Eixo Temático de Laicidade”, afirmou.

A primeira a debater foi a psicóloga Cristiana Motta de Assis Serra (CRP 05/34086), que também participa do grupo “Diversidade Católica”. Iniciando sua fala, a psicóloga deu enfoque à questão da identidade, sinalizando: “Quando entramos nessa discussão da liberdade de crença como um direito humano, não podemos deixar de falar da questão da identidade. Quando vamos lidando com o discurso dos Direitos Humanos, temos que estar muito atentos, pois esse discurso, muitas vezes na busca por definir quem são os sujeitos desses direitos, acaba resvalando na armadilha de criar e reproduzir novas hierarquias. Quando eu afirmo minha identidade, muitas vezes essa identidade gera intolerância na medida em que pode criar um ‘nós contra eles’”.

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Auditório da sede do CRP-RJ durante roda de conversa

“Nossa cultura ainda está muito atravessada pelo ranço iluminista e positivista de que a religião é algo ultrapassado, um modo inferior de pensar. Fico muito espantada quando vejo psicólogos – na clínica ou nas demais áreas da Psicologia –, ao se depararem com uma pessoa religiosa, logo pensarem que um dos projetos terapêuticos é ajudar o sujeito a superar sua religião. Esse tipo de atitude nos desabilita, como psicólogos, de entrar em diálogo com aquele sujeito”, defendeu Cristiana.

Finalizando sua fala, a integrante do grupo “Diversidade Católica” criticou o movimento atual no Brasil de “capitalização do discurso religioso para fins políticos”. Conforme ressaltou, “estamos assistindo à exacerbação da apropriação de um discurso religioso para fins políticos. Estamos num momento político marcado pelo entrecruzamento de forças conservadoras que se apropriam de um discurso religioso para defender valores morais que dizem muito de determinada hierarquia de gênero, raça e classe”.

Fabiane de Souza Vieira (CRP 05/28527), psicóloga do Centro Estadual para Promoção da Liberdade Religiosa (CEPLIR) entre 2014 e 2015, destacou que o CEPLIR foi “o primeiro equipamento público, no Brasil, a estabelecer um diálogo sobre intolerância religiosa”. Segundo afirmou, “o CEPLIR é uma estrutura pioneira, na época ligado à Secretaria Estadual de Assistência Social e Direitos Humanos (SEASDH), que atende vítimas de intolerância religiosa e faz sensibilização junto aos gestores públicos sobre ações voltadas ao combate desse tipo de intolerância”.

Em seguida, a psicóloga compartilhou sua experiência da época em que atuava junto ao CEPLIR. “Quando eu comecei a atuar nesse espaço, precisei buscar na Psicologia as ferramentas para poder lidar com as questões trazidas pelas pessoas atendidas. Comecei, então, a pesquisar o que a Psicologia tinha a dizer sobre essa temática. Me senti órfã, pois ainda não avançamos muito em relação a essa questão na Psicologia”.

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Debatedoras do evento (da esq. para dir.): Karina, Cristiana e Fabiane

De acordo com Fabiane, os casos de intolerância religiosa são mais frequentes em mulheres do que em homens. Segundo ela, as religiões mais frequentemente atacadas são as de matriz africana, bem como a islâmica, que corresponderam a quase 70% dos casos de intolerância religiosa no estado do Rio.

A última debatedora da roda foi a psicóloga Karina da Costa Ocanha Lopes (CRP 05/37153), integrante da Associação Brasileira de Psicólogas (os) Espíritas (ABRAPE). Em sua fala, ela defendeu a importância do respeito à diversidade de crença e não crença por parte da (o) psicóloga (o).

“Eu tive uma terapeuta durante cinco anos que não era espírita e, portanto, não fazia parte da minha crença. Porém, em momento algum me senti desassistida. Por isso, é importante que o psicólogo desenvolva um trabalho de não interferir na espiritualidade do sujeito, aceitando, inclusive, que ele não tenha crença. Precisamos estar preparados para acolher essa diversidade”, destacou.

“O que nós, psicólogos, precisamos fazer em relação ao nosso vínculo com a religião? Como somos influenciados por aquilo que acreditamos? De que forma isso interfere na nossa vida? Se eu não faço uma reflexão sobre como esse sagrado se apresenta a mim, se não reflito em que momentos eu posso manifestar preconceitos, então eu posso realmente interferir naquilo que o outro traz”, problematizou a psicóloga.

“Quando eu faço essa reflexão, eu começo a olhar de que forma a experiência religiosa atua na psique, no sujeito, e como essa experiência o estrutura e dá sentido à sua vida”, afirmou Karina.

Estiveram presentes no encontro também o conselheiro-tesoureiro do CRP-RJ, Rodrigo Acioli Moura (CRP 05/33761), o presidente da Comissão Regional de Direitos Humanos (CRDH) do CRP-RJ, José Novaes (CRP 05/980), o conselheiro integrante da CRDH, Roberto Stern (CRP 05/1700), e a psicóloga e representante do Sindicato dos Psicólogos do Estado do Rio de Janeiro Janne Calhau Mourão (CRP 05/1608).

 



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