
Último debate do evento foi a mesa “A atuação do psicólogo na sociedade: demanda de quem?”
“Essa mesa, que encerra nosso evento, trata de uma questão central para nós, psicólogos; ela trata da nossa angústia verdadeira: afinal, para quem estamos trabalhando? A demanda é de quem?”. Foi com essas palavras que Ismael Damas Machado, coordenador da Comissão Gestora do CRP-RJ na Região Serrana, deu início à última mesa temática do I Seminário de Psicologia e Políticas Públicas da Região Serrana.
A mesa teve como tema “A atuação do psicólogo na sociedade: demanda de quem?”, reunindo potentes falas dos palestrantes André Rangel, psicólogo com atuação profissional em acompanhamento psicossocial em projetos e programas das políticas públicas de Assistência Social, e Luciene Jimenez, psicóloga, doutora em Saúde Pública pela USP, assessora do CRP-SP em trabalho desenvolvido junto à Fundação Casa sobre atuação do profissional de Psicologia com adolescentes internados.
“O que é essa demanda que chega ao psicólogo na área da saúde, como ela foi construída historicamente, como ela chega na Psicologia e como entendemos o sujeito para quem trabalhamos?”, questionou Luciene, dando início à sua fala.
A psicóloga destacou a importância de refletir sobre as demandas que a (o) profissional de Saúde, especialmente a (o) psicóloga (o), recebe diariamente. “Na área da Saúde, embora usemos muito a palavra demanda, ela não é problematizada, ela é usada muito relacionada à questão do acolhimento, da clínica ampliada. Nos preocupamos muitas vezes em como resolver essa demanda, mas não fazemos uma problematização do que é a demanda em si e o que ela traz consigo”.
Luciene propôs uma reflexão crítica em relação ao modelo de saúde centrado na figura da (o) médica (o). “Historicamente, a demanda no campo da saúde foi se construindo a partir do saber médico, que se propõe hegemônico e promete dar a resposta para todos os problemas e a felicidade e normalização para todos. Agora, a atenção básica acaba lidando com questões sociais de um sofrimento que extrapola a questão orgânica, biológica, pois esse sofrimento é também de ordem política, social e econômica”.
Para a psicóloga, não é possível pensar criticamente sobre a demanda sem pensá-la a partir do sujeito e do território onde ele se insere. Ainda segundo ela, “a Psicologia, em sua atuação na Saúde Pública, tem que fazer esse giro paradigmático de sair do modelo focado na clínica tradicional, do consultório, e lançar um olhar desafiador e criativo sobre as questões sociais e culturais”.

Da esq. para dir.: André Rangel, Ismael Damas e Luciene Jimenez
André, por sua vez, abordou suas inquietações em relação às “práticas psicológicas no campo da promoção de direitos humanos de crianças e adolescentes a partir da produção de verdades em atendimentos psicossociais”.
Segundo ele, “o campo da promoção dos direitos humanos de crianças e adolescentes tem se valido do princípio da proteção para submeter as pessoas a expor suas intimidades, seus segredos e vínculos afetivos ao crivo do psicólogo como meio de se pesquisar a verdade real dos fatos, eliminando, assim, as dúvidas que impedem a tomada de decisão sobre o melhor recurso da defesa dos direitos supostamente violados”.
De acordo com o palestrante, é fundamental que a (o) psicóloga (o) saia do lugar de mero executor de tarefas e comece a refletir criticamente sobre as demandas que recebe. “É preciso colocar em análise os discursos e práticas psicológicas nesse espaço de atuação a partir da leitura crítica de relatórios psicossociais que nós mesmos produzimos a partir da demanda que nos é solicitada. Nós produzimos e reproduzimos mais e mais relatórios e acabamos virando uma máquina de produção de relatórios”.
Os vídeos completos de cada mesa temática do I Seminário de Psicologia e Políticas Públicas da Região Serrana estarão em breve em nosso canal no Youtube. Fique de olho!