Atuação clínico-política do psicólogo no controle social dos setores públicos é tema da mesa inicial do evento, que reuniu mais de 200 profissionais de psicologia

Mesa de debates sobre a atuação clínico-política do psicólogo no controle social dos setores públicos
No dia 30 de julho último, Petrópolis sediou o I Seminário de Psicologia e Políticas Públicas da Região Serrana, que, realizado pela subsede local do CRP-RJ, reuniu mais de 200 profissionais de psicologia no auditório da Faculdade Arthur Sá Earp Neto – FASE, no Centro da cidade.
O evento foi aberto às nove horas da manhã, pela presidente do CRP-RJ, Janne Calhau Mourão (CRP 05/1608), a assessora da Comissão Regional de Psicologia e Políticas Públicas do CRP-RJ, Fernanda Haikal (CRP 05/34248), o coordenador da Subsede do CRP-RJ na Região Serrana, Ismael Damas (CRP 05/42823) e a Coordenadora do Curso de Psicologia da FASE, Rovena Paranhos.
Sobre a atuação clínico-política do psicólogo no controle social dos setores públicos, tema da primeira mesa de debates do evento, palestraram psicólogos que atuam em conselhos. “Nesse momento, a gente passa pelo grande desafio de tentar entender o que é o psicólogo dentro do espaço público, da saúde pública”, disse Raphael Curioni, Conselheiro no Conselho Municipal de Saúde de Petrópolis, que falou sobre a instituição onde atua e a importância de o profissional de psicologia ocupar esse espaço.
“Hoje quem mais emprega o psicólogo é a política de Assistência Social [o SUAS] e a projeção é continuar aumentando”, disse a Conselheira-presidente do Conselho Municipal de Assistência Social de Petrópolis, Carla Mendoza. “Antes de estar na cadeia de conselheiro, ocupamos a cadeira de ouvintes ativos, participantes curiosos do que seria a instância de controle social”, afirmou.
A Conselheira no Conselho Municipal de Defesa dos Direitos da Pessoa Idosa de Petrópolis, Renata Rosa, falou sobre o fato de que as políticas de envelhecimento apresentarem “uma dinâmica diferente” das demais por serem bastante recentes. “O Conselho do Idoso foi decretado junto com a Política Nacional do Idoso no finalzinho da década de 1990. Os documentos que regem essa política são também muito recentes, o estatuto é de 2003. Então é preciso trabalhar muito, precisamos conhecer esse espaço, esse protagonista, para de fato efetivar muita coisa”, explicou. Segundo ela, “pouco se fala sobre o envelhecimento” no Brasil, um país que, embora esteja envelhecendo, ainda cultua a cultura jovem.
“Todos sabemos que a utilização de drogas pela humanidade é uma prática que vem de longa data e tem lugar em variados grupos sociais, contextos culturais e funções específicas. A droga nem sempre foi associada a algo nocivo. Foi a partir da segunda metade do século 20 que algumas substâncias passam a relacionar-se com problemas de saúde, política, desordem e violência social”, afirmou a Conselheira-presidente do Conselho Municipal de Política Sobre Drogas de Petrópolis, Victória Gutierrez.
Ela criticou aqueles que demonizam as drogas, acreditam que podem “bani-las do mundo” e discriminam usuários. “Eles falam das drogas e se esquecem do ser humano, do indivíduo, não tem preocupação em conhecer a história da pessoa, nem ouvir esse outro. As drogas podem ter uma função diferente para cada indivíduo, podem estar ligadas a um momento em particular, ser pontual, o que não necessariamente faz de uma pessoa um usuário, um dependente. A gente tem que começar a lidar com a pessoa, muito mais do que com a droga”, disse.
Depois das apresentações dos palestrantes, a plateia, composta por profissionais e estudantes de psicologia, fez perguntas, enriquecendo o debate – que acabou tomando um rumo inesperado, devido à presença de duas pessoas na plateia.
Surpresa no evento
Durante as palestras, dois homens atraíram a atenção dos presentes ao falar alto em meio à plateia. Se, no primeiro momento, instaurou-se um incômodo, a partir da constatação de que se tratavam de duas pessoas com transtorno mental, logo faz-se um silêncio, em que somente o diálogo dos dois “loucos” era ouvido – por todos, atentamente.
Novas discussões foram desenvolvidas a partir da presença inesperada dos dois, que na realidade eram atores, contratados pelos organizadores do evento – integrantes da Subsede do CRP-RJ na Região Serrana. Mas ninguém sabia e a reação das pessoas foi muito interessante: estranheza, solidariedade, emoção – um misto de sentimentos e manifestações.
O objetivo da surpresa era perceber como, mesmo profissionais de psicologia, que lidam na área da Saúde Mental com aparente naturalidade, podem manifestar espanto e incômodo quando se deparam com usuários desse serviço em outros espaços, como os que envolvem debates acadêmicos.
O resultado, entretanto, surpreendeu positivamente: a maior parte das pessoas interagiu com os dois atores, que tomaram a cena e enriqueceram o evento com sua atuação.
A programação do I Seminário de Psicologia e Políticas Públicas da Região Serrana seguiu com mais três mesas de debates. Clique abaixo no nome de cada mesa para conferir a cobertura!
Mesa “Loucos: libertos ou violadores de direitos?”
Mesa “A atuação do psicólogo frente a violação de direitos”
Mesa “A atuação do psicólogo na sociedade: demanda de quem?”