O auditório da sede da Cruz Vermelha, em Nova Iguaçu, reuniu, na manhã do dia 21 de maio, psicólogas (os) e estudantes para o evento Rodas e Encontros tendo como tema “Trajetória Antimanicomial: da Indiferença à Luta”. O objetivo do evento foi refletir sobre os rumos da Reforma Psiquiátrica no Brasil.
A conselheira-presidente da Comissão Gestora do CRP-RJ na Subsede Baixada, Vanda Vasconcelos Moreira (CRP 05/6065), deu início a sua fala lembrando que o evento era muito importante para as discussões da Saúde Mental e, em seguida, montou a mesa de abertura chamando a conselheira-presidente da Comissão de Psicologia e Assistência Social, Juliana Gomes da Silva (CRP 05/41667), e o representante do Sindicato dos Psicólogos/SINDPSI-RJ, Francisco Bressy (CRP 05/41712).
“Temos que ter esse compromisso diário no nosso trabalho de romper todas essas correntes que amordaçam e tiram à voz e o desejo dessas pessoas. E o psicólogo é protagonista dessa discussão da luta antimanicomial, de quebrar esse paradigma da sociedade que é excluir e não incluir.”, disse Juliana.
Francisco Bressey afirmou que o Sindicato dos Psicólogos está mais próximo das (os) psicólogas (os) da Baixada e acrescentou: “A temática de hoje é extremamente importante, pois ela não é só uma luta por melhores condições de tratamento dos usuários, mas é também uma luta que envolve melhores condições de trabalho, porque os trabalhadores sempre foram muito prejudicados com a relação de cuidados extremamente agressivos como existia antes”.
Vanda, ao término da mesa de abertura, expressou que a Luta Antimanicomial é prioritária e comentou que durante a Semana Nacional pela Luta Antimanicomial, houve vários eventos organizados pelo CRP-RJ em todo o estado. “Apesar dos abalos de alguns retrocessos, precisamos estar vigilantes e unidos em ações concretas de eventos e manifestações, como nosso evento hoje”, finalizou Vanda.
Em seguida, Vanda chamou a mediadora da mesa de debates Soneide de Sales Lima (CRP 05/21395), colaboradora da Subsede do CRP-Rj na Baixada e psicóloga no CAPS III de Nova Iguaçu.
Soneide, então, convidou para compor a mesa de debates Anderson Ferreira da Silva (CRESS 07/14418), mestre em Serviço Social e coordenador de Assistência às Famílias na Prefeitura de Nova Iguaçu, Luís Carlos Felício (CRP 05/43796), psicólogo e coordenador de Saúde Mental de Paracambi, e Maria Luisa Rodriguez (CRP 05/25904), psicanalista e mestre em Teoria e Clínica em Psicanálise.
Anderson Ferreira lembrou o Dia 18 de Maio, quando se comemora o Dia Nacional da Luta Antimanicomial simbolizando uma semana de comemoração e também de reconhecimento do desafio e das possibilidades de enfrentamento que faz a luta seguir.
“Além de fechar os manicômios, é preciso construir novas e inovadas alternativas de aparato técnico social. Nossa função como trabalhadores da reforma psiquiátrica, é rediscutir e redefinir as relações sociais e civis daqueles considerados loucos nos termos dos Direitos Humanos e sociais”, destacou.
Anderson também relatou que não existem mais hospitais psiquiátricos de longa permanência (manicômios) no município de Nova Iguaçu, o que representa um grande avanço para a região. Ainda segundo ele, a Reforma Psiquiátrica nasceu dos movimentos de usuários, trabalhadores, familiares e também dos movimentos sociais.
Segundo Luís Carlos Felício, “essa semana, que se encerra hoje, marca de vinte e nove anos do movimento iniciados no final da década de 1980, quando, por meio de denúncias de maus tratos e ineficácia na proposta de um tratamento a ser empreendido, os movimentos dos trabalhadores da Saúde Mental deu início a uma grande reforma na Psiquiatria”.
Felício também contou um pouco do importante processo de desinstitucionalização da Casa de Saúde Doutor Eiras, o maior parque manicomial da América Latina situado cidade de Paracambi. Hoje, o município de Paracambi tem doze leitos de saúde mental, CAPS II, CAPSI, CAPSI AD e dezessete residências terapêuticas.
A última palestrante da mesa de debate, Maria Luísa Rodriguez, também falou sobre a importância da Reforma Psiquiátrica. “A gente ouve muito falar que a Reforma Psiquiátrica traria desassistência, mas manicômio não é assistência de maneira nenhuma”.
Soneide, por sua vez, falou sobre a importância da Psicologia no processo de Reforma Psiquiátrica. “Se não fôssemos nós, os psicólogos, talvez não estivesse acontecendo a tão bem vinda e desejada Reforma Psiquiátrica porque ela seria uma reforma da Psiquiatria, do olhar médico para o sujeito. Somos nós que estamos mostrando os caminhos”.
Erika Barbosa de Araújo, psicóloga e participante do evento, argumentou sobre os desafios da desinstitucionalização.
“Nos serviços substitutivos, como os usuários manifestam suas percepções sobre a Reforma Psiquiátrica? Apresento esta questão, pois em minha pesquisa, desenvolvida em 2015, busquei através das narrativas dos protagonistas destes serviços, os usuários, verificar suas percepções sobre internações e o hospital. Os resultados trouxeram muita inquietação, pois não existiu uma diferença muito clara para eles entre os modelos de atendimento e assistência. O que me fez pensar: será que as estratégias no manejo do trabalho estão alcançando o esperado no que tange à autonomia dos usuários? As adesões aos serviços pareceram tão arraigadas que talvez estivessem institucionalizados intrinsecamente”, problematizou a participante.