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Cerimônia de entrega da 28ª Medalha Chico Mendes de Resistência acontece no Centro do Rio


Data de Publicação: 6 de abril de 2016


A cerimônia de entrega da Medalha Chico Mendes de Resistência mais uma vez emocionou o público presente na noite de 1º de abril, no auditório da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-RJ), no Centro do Rio de Janeiro. Promovida pelo Grupo Tortura Nunca Mais (GTNM-RJ) desde 1989, a cerimônia chegou à sua 28ª edição reverenciando personalidades que no passado e no presente se destacam pelas lutas de resistência e enfrentamento a qualquer ato de violência institucional e violação de Direitos Humanos.

A cerimônia contou com a apresentação do Coral NheengarECOporanga, regido pelo maestro Carlos Eduardo Fecher, que apresentou canções e hinos que marcaram importantes momentos históricos da militância em nosso país.

O CRP-RJ, apoiador do GTNM-RJ na concessão da Medalha Chico Mendes de Resistência, marcou presença, representado pela sua conselheira vice-presidente, Marilia Alvares Lessa (CRP 05/1773), e pela conselheira-presidente de sua Comissão Regional de Direitos Humanos, Janne Calhau Mourão (CRP 05/1608).

A presidente do GTNM-RJ, Victória Grabois, abriu o ato demonstrando profunda preocupação com o atual momento histórico, político e econômico do nosso país. “Nós, do GTNM-RJ, denunciamos o processo de fascitização em andamento no Brasil. Denunciamos também as ações do Estado brasileiro e seu aparato político”.

medalha 1“A tortura que, no passado era dirigida a quem se opunha ao sistema, hoje é generalizada, tendo como alvo os pobres, os negros, os favelados e os moradores das periferias das grandes cidades brasileiras. O medo é alimentado cada vez mais, tornando-se componente ativo de controle social”, pontuou Victória.

Antes de dar início às homenagens da noite, ela prestou homenagem aos militantes recentemente falecidos, entre eles, Marcus Vinícius de Oliveira Silva (Marcus Matraga), psicólogo assassinado em fevereiro do corrente ano quando mediava conflitos por disputa de terras.

Homenagens

Os primeiros homenageados da noite foram seis operários da Construção Naval de Niterói e São Gonçalo, ainda hoje vivos, que foram torturados pela ditadura civil-militar (1964-1985) no estádio Caio Martins por se oporem ao regime ditatorial. Foram eles: Benedito Joaquim dos Santos, Ivan Duarte, Jayme Navas da Costa, José Carlos Teodoro de Almeida, Manoel Francisco Espínola Neto e Oswaldo Garcia Velloso.

Em seguida, foi homenageada Izildete Santos da Silva, mulher negra, moradora de Queimados e mãe de Fábio Eduardo Santos de Souza, desaparecido desde 2003 após ser abordado por policiais militares na própria comunidade. Ainda hoje Izildete busca incansavelmente por justiça, já que o caso permanece sem solução.

Um momento tocante da cerimônia foi quando Djanira Krenak e seus filhos, representando a etnia indígena Krenak, recebeu a Medalha. O povo Krenak é um grupo indígena brasileiro que habitou regiões ribeirinhas do Vale do Rio Doce, em Minas Gerais e no Espírito Santo, até o início do século XX. Expulsos da região após a construção da estrada de ferro que liga Vitória (ES) a Minas Gerais, foram vítimas de diversos episódios de perseguições e torturas durante a ditadura civil-militar brasileira.

“Nossa cultura nunca pode acabar. Ensinamos a cada dia nossa cultura para nossos filhos, netos e bisnetos para que possam aprender e tocar o barco para frente. Fomos muito massacrados pelos policiais e pela ditadura, mas nós não acabamos. Já sofremos muito, mas sobrevivemos e estamos aqui para contar nossa história”, declarou, emocionada, Djanira, arrancando aplausos da plateia.

Outro ponto alto da noite foi a homenagem a Hamilton Borges dos Santos, fundador da Campanha Reaja ou Será Morto, Reaja ou Será Morta. A Medalha Chico Mendes de Resistência foi entregue ao homenageado pela conselheira-presidente da Comissão Regional de Direitos Humanos do CRP-RJ, Janne Calhau Mourão.

“A Campanha Reaja não combate o racismo. Ela combate o ódio que se tornou convencional contra as pessoas negras. O ódio contra qualquer negro dessa sociedade é algo lamentável. É cultivado, em nossa sociedade, um ódio profundo contra nosso cabelo, nosso nariz, nossa pele e nossa história. A democracia brasileira ainda não atingiu o nosso povo. Por isso, todo o preso preto é um preso político”, disparou Hamilton em tom contundente.

Outros homenageados da noite foram: o Movimento de Ocupação dos Estudantes Secundaristas de São Paulo, que chegou a ocupar 220 escolas em São Paulo em protesto à política de precarização da educação, e a juíza Kenarik Boujikian, que foi presidente e co-fundadora da Associação Juízes para a Democracia e atualmente trabalha na defesa dos direitos das mulheres e de populações indígenas. medalha 2

Homenagens especiais

A 28ª edição da Medalha Chico Mendes de Resistência fez também duas homenagens especiais.
A primeira foi a Berta Cárceres, líder indígena assassinada no dia 3 de março desse ano em Honduras. Berta foi uma combativa e incansável defensora dos movimentos camponeses e indígenas de Honduras, um dos países com mais alto índice de violência no campo da América Latina e onde mais de 90% dos casos de assassinato de militantes defensores dos Direitos Humanos segue sem solução.

A outra homenagem especial da noite foi feita a Paulo César Pinheiro, grande escritor, poeta e compositor de mais de mil canções que marcaram época, muitas delas escritas em parceria com Pixinguinha, Tom Jobim, Edu Lobo, Dori Caymmi, Ivan Lins, João Nogueira, Toquinho e Lenine, entre outros. Figura proeminente da história da nossa música e cultura, Paulinho, como é conhecido, teve suas canções interpretadas por grandes nomes como João Nogueira, Elis Regina, Beth Carvalho e Clara Nunes.

Homenagens in memoriam

Como aconteceu em edições anteriores da premiação, o GTNM-RJ lembrou também companheiros de luta assassinados pelo aparato de repressão da ditadura civil-militar. Assim, foram homenageados na categoria in memoriam:

– Raul Amaro Nin Ferreira: preso em agosto de 1971, aos 27 anos, e levado ao DOI-CODI do Rio de Janeiro, morreu poucos dias depois de sua prisão por conta das torturas dos agentes militares.
– Jorge Leal Gonçalves Pereira: militante das Ação Popular Marxista-Leninista, foi sequestrado em 1970 na Tijuca, Rio de Janeiro, por agentes do DOI-CODI, estando desaparecido desde então.

– César Augusto Telles: ferroviário e militante do Partido Comunista, preso diversas vezes após o golpe de 1964, passando a atuar na clandestinidade no Rio e em São Paulo. Embora tenha sobrevivido às horríveis torturas praticadas por militares no DOI-CODI SP (1972), Cezar faleceu em dezembro de 2015.

Sobre a Medalha

A Medalha Chico Mendes de Resistência foi criada pelo GTNM-RJ em 1989, mesmo ano em que, no dia 31 de março, os Ministros Militares homenagearam com a Medalha do Pacificador – a mais alta comenda do Exército – conhecidos torturadores do período da ditadura civil-militar. No ano anterior, em 22 de dezembro, Chico Mendes, importante ativista de lutas populares, havia sido assassinado.

O GTNM/RJ, então, indignado com esse assassinato e com a homenagem prestada a antigos torturadores, criou a Medalha Chico Mendes para agraciar pessoas e entidades cujo trabalho tem destaque na defesa da vida, da liberdade e dos Direitos Humanos. A data escolhida para a entrega da Medalha faz referência ao dia do golpe militar, em 1º de abril de 1964, quando as Forças Armadas depuseram o então presidente João Goulart, dando início a longos 21 anos de período ditatorial em nosso país.

Abril de 2016



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