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Seminário “Mães, Crack, Maternidade, Crianças e Institucionalização…” acontece no Rio de Janeiro: veja como foi!


Data de Publicação: 4 de junho de 2015


Cerca de 400 participantes marcaram presença no Seminário “Mães, Crack, Maternidade, Crianças e Institucionalização…”, que aconteceu no dia 29 de maio na Universidade Santa Úrsula, em Botafogo.

Promovido em conjunto pelas Comissões de Justiça, de Saúde, de Direitos Humanos e de Políticas Públicas do CRP-RJ, a proposta do evento foi colocar em análise esse olhar, por vezes estigmatizante, das práticas profissionais na assistência às mães usuárias de crack, em sua interface com a Justiça, no exercício da maternidade.

O evento teve dois momentos distintos: na parte da manhã, houve uma conferência de abertura e uma mesa de debates para instigar a reflexão sobre a importância da temática. Na parte da tarde, os participantes foram divididos em grupos de trabalho para debater propostas a serem encaminhadas às Conferências Nacionais de Saúde, Assistência Social e dos Direitos da Criança e do Adolescente, que ocorrerão no final do segundo semestre de 2015.

maes crack1Primeiro momento do evento

As atividades do evento foram iniciadas pela psicóloga Eliana Olinda Alves (CRP 05/24612), presidente da Comissão de Psicologia e Justiça do CRP-RJ e representante da Comissão Organizadora do Seminário.

“Esse é um tema que vem nos afetando há bastante tempo e que ganhou grande destaque no Rio de Janeiro nos últimos anos, especialmente no que diz respeito ao crack. A ideia foi trazer esse tema para o debate não apenas com psicólogos, mas também promovendo uma interlocução com outros profissionais, assistentes, sociólogos, entre outros. A ideia é que possamos nos reunir para não apenas debater e analisar como também levantar propostas para a Conferência da Criança e do Adolescente”, destacou.

Em seguida, Lincoln Torres Homem Junior, coordenador de Psicologia da Universidade Santa Úrsula (USU), destacou o apoio da USU à realização do Seminário por entender a importância de fortalecer qualquer mobilização que envolva produção de conhecimento e proposição de novas políticas públicas para o campo da saúde.

A conselheira-secretária do CRP-RJ, Simone Garcia da Silva (CRP 05/40084), por sua vez, agradeceu à Santa Úrsula pela parceria e pela cessão do espaço. “É muito importante para nós, do CRP-RJ, estarmos na universidade. A proposta da gestão é se aproximar cada vez mais dos profissionais e dos estudantes, saindo de suas atividades meramente fiscalizadoras”.

Conferência de abertura

A primeira atividade do evento foi a conferência de abertura “Mulheres em Situação de Rua e o Crack: O Outro Lado da História”, ministrada por Maria Lúcia Santos Pereira da Silva, Coordenadora do Movimento Nacional da População de Rua (MNPR), ex-moradora de rua e ex-dependente química.

Em sua fala, Maria Lúcia fez um emocionante relato sobre o período em que esteve em situação de rua, suas experiências quanto ao uso de drogas, entre elas o crack, e o papel que a Psicologia precisa ter em situações como essa. “Nos seis anos em que eu morei na rua, ninguém me perguntou por que eu fazia uso de substâncias psicoativas. Por incrível que pareça, as únicas pessoas que se preocupavam comigo e pediam para que eu parasse eram meus próprios companheiros de rua. E agora vem esse boom, estão todos falando e se preocupando sobre o crack. Daí eu pergunto: e as pessoas? Todos se preocupam com o crack, mas, e as pessoas, e esses usuários?”.

mees crack“Quando a mulher chega numa situação de rua, ela simplesmente acha que não deu certo, que, se toda a sua família desmoronou, que se ela foi espancada, estuprada, a culpa é toda dela”, afirmou. “As mulheres em situação de rua que fazem uso de substâncias psicoativas são muito agressivas porque, quando chegamos à situação de rua, precisamos aprender a nos defender”.

“Quando eu estava na rua”, compartilhou Maria Lúcia, “o crack me dava a sensação de poder mais perante a sociedade. O crack era meu escudo. Eu, usando o crack, vai me fazer não sentir nojo de mim mesma por ter de deitar com um homem de que eu não gosto, mas que é o mais forte do grupo, apenas para não permitir que os demais não me violentem. Mas os profissionais e a sociedade só pensam no crack! Quando os profissionais pararem de se preocupar tanto com o crack e começarem a se preocupar mais com a pessoa que faz uso, talvez não precisemos mais nos reunir tanto para debater essa situação”.

“Quem me conhece sabe o quanto eu luto para fazer com que a Psicologia faça parte do dia a dia da população em situação de rua porque eu tenho a compreensão de que precisamos da Psicologia para fazermos nossa transição para fora da rua. Pois foi uma psicóloga que me abriu as portas quando eu decidi que queria sair das ruas”, disse ela.

“Acho que, em vez de nos reunirmos para criar teorias, temos de desenvolver uma escuta qualificada para construir políticas junto com essas pessoas em situação de rua”, finalizou Maria Lúcia sob aplausos do público.

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