CRP RJ é contra a militarização das favelas
O Conselho Regional de Psicologia do Rio de Janeiro recebeu este e-mail abaixo de uma moradora do Conjunto de Favelas da Maré, com o qual concorda e torna público como forma de apoio a uma ação de resistência à militarização da vida social de uma comunidade.
A situação abaixo descrita relembra, infortunadamente, a intervenção militar de 21 anos no Brasil, durante o período ditatorial de 1964 a 1985, e se dá sobre parcelas da sociedade sempre as mais atingidas por estas ações de imposição, violência e negação de direitos.
Veja abaixo a íntegra do e-mail.
“Cara diretoria do CRP-RJ,
O Exército está distribuindo na Maré um gibizinho chamado “O Recrutinha”. Os soldados aproveitam a saída das crianças das escolas para a entrega do gibi.Ocorre que o gibi, além de o nome ser um absurdo em si, tem uma parte lúdica que diz: “Instruções para montar o seu blindado guarani”. É escandaloso ver que se utilizam do universo lúdico das crianças para naturalizar a invasão das Forças Armadas na Maré, como se a militarização da vida das crianças não fosse algo violento por si só. Diariamente, crianças e adultos, são submetidos a visualizarem a passagem em comboios de tanques de guerra, jipes, além de forte armamento.
A Maré encontra-se em Regime de Garantia da Lei e da Ordem (GLO), lei instalada no momento mais linha dura do golpe militar, desde abril de 2014. Isso significa na prática que qualquer coisa que ocorra entre civis e militares, mesmo que seja um desacato, é julgado pela justiça militar. Eis o Estado de Exceção de fato, e a pedagogia infantil está sendo diretamente atingida.
Nesse sentido, gostaria de saber a diretoria do CRP-RJ publicaria uma nota de repúdio sobre o assunto, visto que um pronunciamento de uma entidade que trabalha com Psicologia seria, do ponto de vista do profissional em Psicologia, um abordagem muito interessante.
Desde já, agradeço a atenção disponibilizada”
Abril de 2015