O Grupo Tortura Nunca Mais-RJ realizou a 27ª edição de entrega da Medalha Chico Mendes de Resistência na noite de terça-feira, 31 de março, no auditório da OAB/RJ. A medalha foi criada para homenagear pessoas e entidades que têm se destacado nas lutas de resistência em todo o país e no exterior.
Mais de 400 pessoas estiveram presentes na cerimônia que contou com representantes de movimentos sociais, familiares de vítimas da violência do Estado e homenageados. O Conselho Regional de Psicologia do Rio de Janeiro, que apoia o evento há mais de dez anos, esteve presente representado pelo seu conselheiro-presidente, José Novaes (CRP 05/980), que entregou a medalha ao homenageado José Celso Martinez Corrêa.
Ana Paula de Oliveira, moradora da Favela Manguinhos, mãe de Jonathas Oliveira, uma das vítimas da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP), em 2013, foi uma das homenageadas e contou a importância de que seja lembrada a luta das mães que perderam os filhos no Rio e em todo o país.
“Receber esta medalha é um reconhecimento da nossa luta. Temos que fazer lembrar essas histórias. Os nossos mortos tem voz! Queremos justiça, queremos respostas dos governantes sobre o que ocorreu com os nossos filhos e sobre o que acontece todos os dias nas nossas favelas”, afirmou Ana Paula, uma das referências da luta das favelas hoje no Rio.
Outra mãe a receber a homenagem foi Fátima Menezes, mãe de Paulo Roberto, espancado até a morte por policiais da UPP, em 2013, na mesma favela. “O policial que assassinou o meu filho continua tralhando na UPP de Manguinhos. Nada foi feito, isso é uma injustiça”, disse Fátima, outra referência de luta dos movimentos sociais.
João Gualberto Calatroni, nascido no Espírito Santo, em 1951, teve grande atuação política como estudante secundarista. Em 1970, integrou-se às forças guerrilheiras no Araguaia e destacou-se como tropeiro e mateiro. Foi morto em 1973, juntamente com André Grabois, Antônio Alfredo e Divino Ferreira, numa emboscada. João foi um dos homenageados e quem recebeu a medalha foi sua irmã, Mathilde Calatroni.
“Meu irmão fez parte da guerrilha do Araguaia. Por que os ossos do meu irmão não aparecem, ainda estamos na expectativa de saber onde foi parar o corpo dele, cadê os ossos do nosso irmão?”, questionou, emocionada, Mathilde.
A noite foi emocionante para todos os presentes, que trouxeram experiências das lutas passadas nos anos da ditadura militar no Brasil, e outros expressaram o que é viver no tempo presente a repressão e a violência dos órgãos do Estado, uma herança do período ditatorial.
Leia abaixo os nomes de todos os homenageados da noite:
Dom Xavier Gilles de Maupeau d’Ableiges; Flora Abreu Henrique da Costa; Prof. Horácio Cintra Magalhães Macedo (in memoriam); Igor Mendes da Silva; João Gualberto Calatroni (in memoriam); Jorge José Lopes Machado Ramos (in memoriam); Jorge Zabalza; José Celso Martinez Corrêa; Juan Carlos Mechoso; Lúcia Maria de Souza (in memorian); Fátima dos Santos Pinho de Menezes e Ana Paula Gomes de Oliveira – Mães de Jovens Assassinados em Maguinhos; ONG Repórter Brasil e o desembargador Sérgio de Souza Verani.
Saiba mais sobre a Medalha
A Medalha Chico Mendes foi criada em 1988, pelo Grupo Tortura Nunca Mais/RJ (GTNM/RJ), para homenagear pessoas e grupos engajados nas lutas de resistência e na defesa de direitos humanos. Trata-se de uma reação à entrega da ‘Medalha do Pacificador’, condecoração do Exército, entregue a notórios elementos ligados ao aparato de repressão, como o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, do DOI-Codi paulista, e os delegados do extinto DOPS Sérgio Paranhos Fleury (SP) e Pedro Seelig (RS).
A data escolhida para a entrega da Medalha faz referência ao dia do golpe civil-militar, quando as Forças Armadas depuseram o então presidente João Goulart, dando início ao período ditatorial no país. Desde 1989, são homenageadas cerca de dez pessoas ou entidades, de diferentes categorias, de acordo com suas áreas de atuação em suas lutas em prol dos Direitos Humanos.
Fotos tiradas por Juliana Oliveira, do Centro de Defesa dos Direitos Humanos de Petrópolis (CDDH-Petrópolis).
Abril de 2015