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Debate sobre Medicalização da Educação e da Sociedade encerra primeiro dia do III Seminário de Políticas Públicas e IV Seminário de Direitos Humanos


Data de Publicação: 10 de dezembro de 2014


IMG_2392O primeiro dia do III Seminário Regional de Psicologia e Políticas Públicas e IX Seminário Regional de Psicologia e Direitos Humanos foi fechado com a mesa de debates “Infância, Inclusão e Medicalização: políticas públicas a serviço de quê?”, mediado pela conselheira-presidente da Comissão de Psicologia e Educação do CRP-RJ, Helena Rego Monteiro (CRP 05/24180).

Compuseram a mesa os debatedores Luis Fernando de Oliveira Saraiva (CRP 06/81533), psicólogo, psicoterapeuta, mestre em Psicologia Escolar (USP) e pesquisador do Laboratório de Estudos de Famílias, Relações de Gênero e Sexualidade (IPUSP), Aline Lima da Silveira Lage, professora de Psicologia no Instituto Nacional de Educação de Surdos, membro do Fórum sobre Medicalização da Educação e da Sociedade e colaboradora da Comissão de Psicologia e Educação do CRP-RJ, e Rui Massato Harayama, cientista social, mestre em Antropologia da Ciência e Tecnologia pela UFMG, membro da secretaria-executiva do Fórum sobre Medicalização da Educação e da Sociedade e colaborador das Comissões de Direitos Humanos e Educação do CRP-RJ.

Ao iniciar a mesa, Helena utilizou um poema de Manoel de Barros chamado “É preciso transver o mundo” para provocar a reflexão nos participantes acerca da temática proposta pela mesa.

“Aprendi com Rômulo Queiroga (um pintor boliviano): que a expressão reta não sonha / Não use o traço acostumado / A força de um artista vem de suas derrotas / Só a alma atormentada pode trazer para a voz um formato de pássaro. / Arte não tem pensa: / O olho vê, a lembrança revê, e a imaginação transvê. / É preciso transver o mundo. / Isto seja: Deus deu a forma. Os artistas desformam. / É preciso desformar o mundo: Tirar da natureza as naturalidades. / Fazer cavalo verde, por exemplo (…)”.

Após a leitura do poema, Aline iniciou sua fala apresentando as atuais discussões relacionadas a práticas medicalizantes e às políticas públicas voltadas às crianças surdas. A professora de Psicologia citou também os discursos sociais produzidos em torno da surdez.

“Há alguns anos, a surdez era considerada imbecilidade e esses casos eram vistos como fruto de casamentos consanguíneos. A linguagem de sinais, por exemplo, assumia um papel inferior na sociedade e muitas das vezes os pais eram orientados a não ensiná-la aos filhos sob o argumento de que esta atrapalharia o desenvolvimento da oralidade”, explicou.

Luis Fernando abordou o processo de medicalização da vida escolar e da sociedade, criticando-o como um perverso mecanismo de controle social pelas forças hegemônicas. “Foucault nos ensina que a saúde vem se transformando em objeto prioritário de intervenção em nossa sociedade. Falamos de um controle não somente sobre o que se é, mas, principalmente, sobre o que poderá vir a ser”.

“Ao falarmos sobre medicalização e infância, parece ter se tornado um hábito falarmos de processos de escolarização de nossas crianças. Afinal, a escola tem sido um dos palcos para que diferentes modos de ser, se comportar e aprender seja considerados fora dos padrões esperados e quase que imediatamente considerados sinais da mais diversas patologias”, criticou.

Rui, por sua vez, abordou a questão da medicalização pela ótica da produção de subjetividades que se dá a partir da publicidade financiada pela indústria farmacêutica. “Diversas instituições regidas pelas lógicas capitalistas nos induzem a pensar no que é normal e patológico. E, ao invés de diligenciarmos nossos desejos, somos agenciados pelo capitalismo”, afirmou.

Em seguida, o antropólogo mostrou a atuação do marketing como influência constante na vida do indivíduo. “Conclui-se que o marketing farmacêutico começou a liderar a indústria em todo o Brasil e, a partir daí, já não importa pensar na venda do produto, mas, sim, na criação de corpos desejantes. Nos dias de hoje, não há manifestação que se afaste dessa lógica: a do consumo desejante”.



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