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Dialogando com o CRP: “Os danos e as dores das mulheres encarceradas”


Data de Publicação: 12 de novembro de 2014


‘Os danos e as dores das mulheres encarceradas’ foi tema do último ‘Dialogando com o CRP’, realizado no dia 29 de outubro, na sede do Conselho Regional de Psicologia do Rio de Janeiro, em parceria com o Fórum Permanente de Saúde nos Sistema Penitenciário do Rio de Janeiro (FPSSP-RJ). O Conselheiro Juraci Brito da Silva (CRP 05/28409), abriu o evento agradecendo a presença de todos os profissionais e estudantes no debate destacando a importância deste espaço de troca. “É uma honra realizar este projeto, esta troca; este diálogo é um dos maiores objetivos desta gestão. Vamos sempre abrir o debate para temas ligados à profissão”.

121114c_01 121114c_02Após a fala de Juraci  foi apresentado o filme: “O Cárcere e a Rua”, dirigido por Liliana Sulzbach, que conta as histórias de vida de três presidiárias, dentro e fora da prisão. Em seguida, houve o debate coordenado pela psicóloga Maria Márcia Badaró Bandeira (CRP 05/20270), com participação de Vanessa Bezerra de Souza, assistente social, conselheira do Conselho Regional de Serviço Social do Rio de Janeiro e professora da Escola de Serviço Social da UNIRIO, e de Ana Cristina Faulhaber, representante do Comitê Estadual de Política de Atenção à Mulher Presa e Egressa do Sistema Prisional do Rio de Janeiro.

De acordo com Ana Cristina, que atualmente dirige a Unidade Materno Infantil da SEAP destinada às mulheres presas que tiveram seus filhos na prisão a questão da política das mulheres ainda é uma situação muito difícil nos presídios, ainda muito atrasada. Ana trouxe um panorama sobre o número de presas, os tipos de regime: fechado, semi-aberto e aberto. Chama a atenção para o aumento de presas provisórias, isto é, as que aguardam, presas, a sentença do juiz. São 39 mil presos entre homens e mulheres.

Ana afirmou que no Rio, o Comitê está fazendo estudos de documentos, reuniões preliminares. Na Unidade Materno Infantil ela, enquanto diretora da unidade, está realizando rodas de conversas com as internas para debater os problemas e dificuldades que encontram nessa unidade. “Temos psicologia, assistente social. Estamos ainda dialogando com especialistas nas temáticas de políticas públicas de mulheres como: ALERJ, Ministério Público e com outras categorias. Estamos elaborando discussões para saber quais políticas públicas devem ser apresentados, estamos ainda ouvindo as presas, queremos saber o que elas querem como políticas”, disse.

Já Vanessa, que há anos vem trabalhando a questão de gênero e, nesse ano de 2014, vem desenvolvendo um projeto de extensão pela UNIRIO nas cadeias masculinas, disse que este foi um grande desafio, mas se diz encantada em trabalhar com o tema no sistema prisional e que futuramente irá trabalhar esta temática em prisões femininas. “É histórica a subordinação da mulher ao homem, para além da questão de gênero. Há também as relações de raça e etnia que reforçam, exploram e reprimem ainda mais as mulheres”, disse.
De acordo com Vanessa, há uma reprodução desse modelo de opressão às mulheres, um modelo que é legitimado e reproduzido já no ambiente doméstico, mesmo antes das crianças nascerem. “O bebê está na barriga, a mãe e o pai, toda a família já está preparando um modelo de comportamento para aquela criança, se é menina é rosa, se é menino é azul, o que tem uma repercussão das referências que pode se estender por toda a vida daquela criança”. O capitalismo também se apropria para duplicar essa exploração à mulher. “Temos um modelo de família patriarcal, onde a mulher é também subordinada, é a mulher como dona de casa, dependente financeiramente do homem, dentre diversos outros exemplos de subordinação”, afirmou.

Segundo Vanessa, é preciso questionar esses comportamentos e deixar de tratá-los como fatores naturais ou culturais. “É esse caráter que temos que questionar, acabar com os estigmas. Temos que acabar com a ideia de que todas as mulheres devem ser doces, que devem ser submissas ao homem e que os homens são os líderes, aqueles que têm que prover a família. É esse paradigma que deve ser destruído”. Vanessa trouxe também a realidade das mulheres presas, pois elas são abandonadas pelos companheiros e/ou familiares assim que entram nas prisões além disso, têm seus companheiros também presos, principalmente pelo tráfico de drogas. “Muitas delas se vestem como homens para se sentirem empoderadas e com posturas de homem para serem respeitadas. Ou seja, é preciso que se discuta, que se mexa com tais valores para que determinadas políticas de gêneros sejam implementados tanto dentro, quanto fora das prisões”, finalizou.

 



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