A Comissão Gestora da Subsede do CRP-RJ no Norte – Noroeste Fluminense promoveu, no dia 12 de agosto, em Campos, uma roda de conversa sobre Psicologia e Relações Raciais. O evento faz parte da agenda do CRP-RJ de regionalização das discussões sobre o tema levadas ao II Encontro Nacional de Psicólogas(os) Negras(os) e Pesquisadoras(es) de Relações Raciais e Subjetividades (PSINEP).
Participaram do evento as conselheiras do CRP-RJ e membros da Comissão Gestora Fátima dos Santos Siqueira Pessanha (CRP 05/9138) e Denise da Silva Gomes (CRP 05/41189), a colaboradora Evelyn Rebouças de Gouvêa (CRP 05/41205) e a psicóloga da Comissão de Orientação e Fiscalização do CRP-RJ no Norte – Noroeste Fluminense Michelle Ribeiro Henrique (CRP 05/37079). Como palestrantes convidadas, marcaram presença as conselheiras do CRP-RJ Maria da Conceição Nascimento (CRP 05/26929) e Andris Cardoso Tiburcio (CRP 05/17427).
Logo no início do evento, foi exibido o curta “Cores e Botas”, que narra a história de Joana, uma menina negra de classe média que sonha em ser paquita no programa da Xuxa, mas que, devido à sua cor, não é aprovada nos testes, apesar de mostrar grande talento. Após o filme, foi dado o início ao debate, que contou com a participação de psicólogas (os) e estudantes do curso de Psicologia da UFF e IFRJ.
“É importante pensarmos como essas questões raciais muitas vezes não chegam a nós, que somos brancos. E, por isso, mesmo, precisamos estar muito atentos a isso porque o preconceito está tão impregnado, infelizmente, na sociedade que, muitas vezes, não é percebido”, afirmou Denise.
“Qual o papel dessa família diante do sonho dessa criança?”, interveio, por sua vez, um participante, retomando o debate sobre o conteúdo exibido no filme. “O sistema capitalista neoliberal nos diz que podemos todos ser o que quisermos, mas vai dizer isso para quem mora na Zona Sul e para quem mora no Complexo do Alemão. É claro que os papeis sociais destinados ao negro e ao branco em nossa sociedade são bem diferentes”.
No que diz respeito a essa conjuntura de discriminação, Fátima ponderou que “ela é resultado de um processo de constituição e de construção da nossa subjetividade. E o sujeito se constitui a partir do olhar do outro, a partir da sua relação e vivência com o outro”.
Conceição complementou que “esse problema não é só do negro: ele é de toda a sociedade brasileira. Ele não se resume somente à questão da melanina, mas de como as pessoas se percebem nessa relação com o outro, nesse contexto social”.
“Essa questão não é só social, ela é racial também”, afirmou Conceição. “O que acontece é que, mesmo ascendendo socialmente, negras e negros continuam sendo discriminados e o filme mostra isso muito bem. A família retratada é de classe média, no entanto, vivencia várias situações nas quais, direta ou indiretamente, lhe fazem lembrar que o acesso a determinados lugares não é permitido; isso não é dito de modo explícito, mas através de olhares, expressões e atitudes que denotam preconceito e racismo”.
Conforme sintetizou Denise, “o preconceito ultrapassa a questão da pele somente porque essa cor é política, na verdade”.
Andris, por sua vez, abordou em sua fala o papel da mídia, a qual, segundo ela, “influencia muito nesse processo. Basta ver os modelos que são apresentados como o belo, o limpo, o padrão. Eles estão sempre atrelados ao padrão europeu, nunca ao negro, que está sempre relacionado ao que é ruim dentro desse pensamento hegemônico”.
Ainda de acordo com a conselheira do CRP-RJ, “as crianças estão assistindo à TV e vendo isso diariamente, tentando se enquadrar dentro desse modelo difundido de perfeição e beleza. Vocês têm ideia da violência que isso representa para a criança?”
“Além disso”, complementa, “há todo um processo de alienação difundido pela mídia. As imagens e ideias são veiculadas de modo hegemônico e o papel do espectador se resume a aceitar acriticamente esses conteúdos. O papel da mídia é sempre legitimar os espaços de poder pré-estabelecidos”.
Conceição citou ainda a Resolução do Conselho Federal de Psicologia nº 018/2002, que estabelece normas de atuação para a (o) psicóloga (o) em relação ao preconceito e discriminação racial. Embora essa importante resolução tenha mais de 12 anos, ela ainda é pouco conhecida entre as (os) profissionais de Psicologia. “E nós viemos aqui justamente para nos implicarmos nessa história como psicólogos”, destacou Conceição.
Nesse sentido, Fátima apontou qual deve ser o papel da Psicologia e das (os) psicólogas (os) nesse quadro. “Nosso papel é fazer o sujeito sair do lugar da vitimização e passar para o lugar da subjetividade e da autonomia. Nosso papel é, sem dúvida, contribuir na constituição do protagonismo do sujeito”.
Fique ligado nos próximos eventos da Subsede Norte – Noroeste Fluminense e participe!
- “Psicologia e a queixa escolar” – 19 de agosto em Campos dos Goytacazes
- “Psicologia e Políticas Públicas: elaboração, participação e Controle Social” – 10 de setembro em Campos dos Goytacazes