O último dia da VII Mostra Regional de Práticas em Psicologia, 16 de agosto, foi marcado pela apresentação de 14 trabalhos inscritos por psicólogos e estudantes de Psicologia e, simultaneamente, pela apresentação de seis mesas temáticas propostas e inscritas por profissionais.
Na parte da tarde, teve início por volta das 14h, estudantes e profissionais de Psicologia se reuniram para participar do Cine Mostra, no qual puderam assistir a uma compilação de filmes que relatam a realidade dos manicômios, dos centros de tratamentos, dos moradores em situação de rua e ainda sobre o tema da internação compulsória.
Os filmes exibidos foram: “Chega, não é pelos 20 centavos”, “O homem que calou o governo brasileiro e a FIFA em protesto”, “O menino, a favela e as tampas de panela”, “Manicômio passado e presente – 1989”, “Um breve histórico da loucura” e “Noite de 20 de junho”.
Para instigar o debate, havia quatro convidados na mesa. O primeiro a falar foi o psicólogo e doutorando José Rodrigues de Alvarenga Filho (CRP 05/36271), que comparou os problemas enfrentados pela população em 2007, quando foram realizados os jogos Pan-Americanos, e a situação atual do Rio de janeiro, que se prepara para receber os Megaeventos.
“Na época, classificavam os jogos Pan-Americanos como um grande sucesso. Mas esse foi um evento que resultou numa série de violações de direitos humanos. O Porto Maravilha, por exemplo, está tendo hoje a expulsão do povo que habitava aquele lugar por anos e anos. Ou seja, para que esta cidade seja preparada para os Megaeventos que vão ser realizados em 2014 e em 2016, pessoas estão sendo expulsas dos seus locais de habitação e são levadas para locais onde elas não têm vínculo algum”, afirmou.
Ainda segundo José Alvarenga, isso nada mais é do que um abandono produzido historicamente pelo Estado. “Quando falamos de uma cidade Olimpíada é um modelo de cidade Zona Sul, é um conceito de belo que não tolera a pobreza, a miséria e tudo aquilo que a própria cidade produz historicamente”, concluiu.
O diretor do Sindicato dos Psicólogos do Estado do Rio, Marinaldo Silva Santos (CRP 05/5057), explicou que o processo de exclusão é histórico dentro da cidade do Rio de Janeiro. “O povo foi para as ruas e brigou para que o Museu do Índio não fosse abaixo, que a escola não fosse abaixo, e com isto o governador Sergio Cabral não teve outra situação a não ser tirar isso do projeto dele de cidade. E este movimento de rua sinaliza muito bem a mudança que estamos vivendo”, disse.
Os palestrantes fizeram também uma avaliação histórica sobre a diferença de tratamento entre uma classe e outra e ainda despertaram o papel da Psicologia dentro disso, já que uma série dos problemas consequentes dessa divisão de classes são aspectos discutidos dentro desta profissão.
Para Antonio Cícero, os filmes passados são exemplos de um problema maior que é a crise de um sistema capitalista. Ou seja, para que exista o capitalismo, é preciso que pelo menos 80 % da população tenham que ser afastada. “E o que fazer com essa população que sobra? Eles são encarcerados em escolas de má qualidade, em reformatórios, além da destruição física, mental e espiritual. Nós devemos dirigir as nossas forças para exterminar o sistema capitalista, é a única capacidade que temos para acabar com tais crises, pois ele faz as pessoas regredirem a estágios mais tristes e desumanos”, explicou.
O estudante da Escola Latino-Americana de Medicina de Cuba Michel Mendes destacou que a luta no Brasil não começou agora, sempre houve trabalhadores nas ruas exigindo direitos. Ele ressaltou ainda o preconceito que existe com os estudantes que lá estão.
“São mais de 100 países representados na escola, há diversidade entre brancos, negros, indígenas. Em Cuba, os direitos básicos são atendidos e ninguém fala disso, educação, saúde, transporte, segurança, estes direitos são atendidos em todo o país. A educação Cubana é a melhor da América Latina”, finalizou.
Ao final do debate, foi relatado, por exemplo, o número de manicômios que ainda existem no Brasil. São 26 que ainda tratam as pessoas como em séculos passados, sem qualquer tipo de tratamento adequado. Além disso, foi concluído que este sistema reforça a ideia de que alguns devem ser sempre afastados, pois é como se eles se tornassem grandes riscos à sociedade.