Apresentações de trabalhos e mesas de debates marcam o 2º dia da VII Mostra O segundo dia da VII Mostra Regional de Práticas em Psicologia, que teve início na terça-feira, dia 13, e se encerra nessa sexta, dia 16, começou agitado com participação de centenas de profissionais e estudantes de Psicologia.

Participantes fazem credenciamento na VII Mostra
Organizada e promovida pelo CRP-RJ, a 7ª edição do evento acontece no décimo andar do campus Maracanã da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e se consolida como um valioso espaço para troca de experiências e debates entre profissionais e estudantes de Psicologia.
Na manhã do dia 14, os participantes estiveram envolvidos nas apresentações dos trabalhos inscritos por profissionais e estudantes. Ao todo, foram 37 trabalhos apresentados no formato de Experiências em Debates.

Psicólogos e estudantes apresentam trabalhos durante a VII Mostra
Simultaneamente, os presentes puderam participar também da exposição de pôsteres na qual o psicólogo ou estudante apresentava suas práticas e/ou pesquisas.
Outra novidade dessa edição foi a possibilidade de profissionais se organizarem para propor e inscrever na programação mesas temáticas com seus respectivos palestrantes. Na parte da tarde, foram apresentadas sete mesas temáticas com debates sobre assuntos variados.
A VII Mostra conta também com a contribuição de monitores para auxiliar na organização do evento e acompanhar de perto os debates e as trocas de experiências. Os participantes da monitoria são estudantes de Psicologia que se inscreveram através do site do evento.
Essa edição da Mostra conta ainda com um espaço para que os profissionais possam fazer, diretamente do evento, a atualização de seus dados cadastrais para, assim, poderem participar das eleições que acontecerão no dia 27 de agosto e elegerão os novos plenários do CRP-RJ e do CFP.
Além dessas atrações, o segundo dia do evento contou também com duas mesas de debates que abordaram Políticas Públicas e Religião e Laicidade.
Mesa de debates sobre Políticas Públicas
A primeira mesa de debates da VII Mostra versou sobre “A Psicologia e os processos de construção das Políticas Públicas”. A mesa foi coordenada pelo conselheiro-tesoureiro do CRP-RJ, Alexandre Ferreira do Nascimento (CRP 05/33108) e teve participação de Rudá Ricci, sociólogo, mestre em Ciências Políticas e doutor em Ciências Sociais.
Rudá levantou questões que caracterizam a sociedade atual, citou o papel dos Conselhos atualmente e ressaltou que o novo contexto trouxe mudanças para a lógica dos Conselhos. “O Conselho que está na Constituição é o que possui uma estrutura de tomada de decisão de Estado. Isso significa que nós devemos entender o porquê foi criada essa nova lógica de Estado. O problema é que, ao criar a ideia de Conselho, as pessoas queriam mudar, portanto, a própria lógica de Estado”, disse.
“A ideia de Conselho não é uma assembleia onde a população vai negociar por qualquer um; o Conselho é o canal de Estado institucional, um instrumento formal de decisão pública”, ressaltou o sociólogo.
Ele falou também sobre a organização do Estado brasileiro explicando que “o Estado brasileiro tem seu DNA duas características que, teoricamente, são conflitantes: a burocracia e o personalismo. Essa junção se deu pela Coroa portuguesa e continua até hoje”.
Psicologia e Laicidade é tema de debates na última mesa
“Psicologia, Religião e Laicidade” foi o tema da última mesa de debates do segundo dia da VII Mostra, coordenada pela vice-presidente do CRP-RJ, Lia Yamada (CRP 05/30850) e que teve a participação do psicólogo, filósofo e mestre em História Social das Relações Políticas, Diemerson Saquetto (CRP 16/2673), e do psicólogo, mestre em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano e doutorando em Psicologia Social pela USP, Luis Fernando de Oliveira Saraiva (CRP 06/81533).

Da esq. para dir.: Diemerson, Lia e Luis Fernando na última mesa de debates do dia 14
Diemerson deu início afirmando que, apesar de a Psicologia ter um lugar de atuação consolidado na sociedade, o tema da religião e da laicidade ainda não foi estudado de modo aprofundado pelos psicólogos.
“Vivemos tempos de fundamentalismo, onde a diversidade é aceita até determinado ponto, e ainda assim não nos aprofundamos o suficiente nessa temática: onde Psicologia e religião se congregam e onde a separação se faz necessária?”, disse.
Segundo o psicólogo, “ler o mundo através de uma leitura religiosa é também uma das possibilidades de vê-lo. Agora, isso não pode se misturar com a prática da Psicologia e o grande problema é quando esses limites não são percebidos. Um psicólogo religioso ou um religioso psicólogo são coisas interessantes desde que a religião não entre na prática do psicólogo da mesma forma que as práticas psi não sejam usadas arbitrariamente em cultos religiosos”.
Diemerson tratou também do fenômeno que chamou de “capitalização da fé”. “Vemos atualmente a capitalização da fé, em que produtos espirituais são amplamente comercializados e, com isso, a religião termina por ser mais um componente mercadológico”.
O psicólogo fez ainda considerações a respeito das recentes tentativas no Congresso Nacional de contestar resoluções do Conselho Federal de Psicologia, especialmente no que tange à orientação sexual. “Deixem os psicólogos fazerem Psicologia. Cabe aos psicólogos estabelecer os marcos regulatórios e os critérios a respeito de sua própria profissão”.
Luís Fernando aproveitou as considerações de Diemerson e também teceu críticas às recentes manifestações no Congresso em defesa da chamada “cura gay”. “A ‘cura gay’ é uma aberração que tem voltado à pauta do Congresso. O que percebo é a fragilidade e a má-fé dos argumentos das pessoas que a defendem”.
Em seguida, o psicólogo afirmou que “é importante pensar a religião como um mecanismo de inteligibilidade de si e do mundo”, e sublinhou que “o problema não são, de forma alguma, os evangélicos, mas os fundamentalistas religiosos, sejam eles de que religião for, que hoje formam uma bancada conservadora que vem dominando nossos ares”.
Luís Fernando questionou também o próprio conceito de laicidade. “O que chamamos de laicidade? Em meu ver, a experiência religiosa se dá na esfera privada e eu sou totalmente a favor de que a vida pública não seja regida por valores religiosos, pois, caso contrário, isso seria fascismo. Agora, estamos nós de fato defendendo a laicidade? O Estado brasileiro alguma vez já foi laico? Até quanto conseguiríamos fazer em defesa da laicidade? Abriríamos mão de feriados como o Carnaval, a Semana Santa ou o Natal?”, problematizou.
Por fim, o psicólogo defendeu a laicidade do exercício da Psicologia, mas questionou a prevalência da cientificidade. “Sou totalmente a favor da laicidade da Psicologia, mas sei que essa defesa traz também uma preponderância vazia da cientificidade sobre a religião e nós precisamos pensar os efeitos que essa troca produz”.