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Anvisa estuda proibir anfetaminas, mas Ritalina fica de fora


Data de Publicação: 22 de junho de 2011


A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) estuda, nos próximos meses, tornar ilegal a venda de medicamentos inibidores de apetite que contenham sibutramina ou derivados de anfetaminas, como femproporex, mazindol e anfepramona. A medida é louvável, uma vez que chama atenção para o importante combate à medicalização da sociedade, bandeira assumida pelo CRP-RJ desde 2006, mas ao mesmo tempo preocupante, pois não inclui o combate ao uso indiscriminado de Ritalina.

O ex-ministro da saúde José Gomes Temporão

O ex-ministro da saúde José Gomes Temporão

O ex-ministro da saúde José Gomes Temporão, médico sanitarista que em 1986 publicou o livro “A Propaganda de Medicamentos e o Mito da Saúde”, afirmava desde então que é preciso “construir os nexos que hoje ligam a indústria de medicamentos, as práticas médicas, as agências de publicidade, o saber médico e os meios de comunicação de massa, enquanto estratégia de ampliação do consumo e medicalização da sociedade”. Para ele, nos dias atuais, a tendência
do uso indiscriminado de remédios após diferentes diagnósticos é um reflexo deturpado da visão ampla da saúde (que, segundo a Organização Mundial de Saúde – OMS –, é “um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não apenas a ausência de doenças”). “Antigamente a medicina tratava dos doentes. Hoje atinge todas as dimensões do viver: os doentes, mas também dos saudáveis e potenciais doentes”, afirma.

O Brasil é o maior consumidor de anfetaminas no mundo. Entre seus derivados mais vendidos, além dos emagrecedores, está o metilfenidato. Conhecido como Ritalina, o medicamento deveria ser vendido apenas com receita médica, mas é obtido facilmente nas farmácias, mesmo a tarja preta como alerta. Seu preço e a facilidade para comprar – pois muitas vezes não há fiscalização suficiente – são portas de entrada para jovens no mundo das drogas. Eles começam a utilizar em busca de mais concentração para estudar ou trabalhar, e podem acabar dependentes desta ou de outras substâncias.

A Ritalina é comumente receitada para pacientes diagnosticados com o suposto Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDA/H). Para a pediatra Maria Aparecida Moysés, da Unicamp, a grande questão é “por que proibir as anfetaminas anorexígenas e não a Ritalina? O que precisamos pensar é que sociedade é essa, onde jovens precisam de Ritalina para focar atenção e onde crianças tomam remédios com tarja preta por conta de agitação”.

Segundo dados do Ministério da Saúde, o consumo total de metilfenidato no Brasil em 2009 foi de 174.897 quilos, contra de 23 quilos em 2000 e 93 quilos em 2003. O CRP-RJ, atento ao crescimento da prescrição de fármacos que prometem curar as supostas doenças do não aprender, implementa diversas ações, como a sua intensa participação no Fórum sobre Medicalização da Educação e da Sociedade , que está organizando o II Seminário Internacional de Educação Medicalizada, previsto para os dias 12 a 14 de novembro, em São Paulo.

(Esta matéria foi publicada na 32ª edição do Jornal do CRP – http://tinyurl.com/6djsndr)



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