auto_awesome

Noticias






GTs sobre ações policiais discutem atuação de psicólogos


Data de Publicação: 7 de fevereiro de 2011


O evento “Psicologia em territórios impactados por ações policiais”, realizado pelo Conselho Regional de Psicologia do Rio de Janeiro (CRP-RJ), marcou o início de uma nova etapa de discussões acerca da atuação de psicólogos em áreas sob ação das forças de polícia. Com a divisão dos participantes em quatro grupos de trabalho (GTs), formados de acordo com o território de atuação (Zona Sul, Centro, Zona Oeste e Zona Norte), foram formados quatro pólos distintos de discussão, que possibilitaram a ampliação do debate inicial e a maior participação de cada um dos inscritos.

020701-GTs-sobre-acoes-policiais-discutem-atuacao-de-psicologos01

Apesar de todos os grupos terem partido de um mesmo ponto inicial (a questão das ações policiais), cada GT acabou seguindo uma linha de discussão voltada para uma temática mais específica, passando por uma série de questões importantes e polêmicas referentes à atuação dos psicólogos. Isso mostrou a necessidade de mais debates a respeito dessas questões, e reafirmou a função de articulação do Conselho junto à categoria.

No grupo da Zona Sul, a estudante de psicologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro e estagiária do Núcleo Interdisciplinar de Ação Comunitária (Niac) Ana Marcela da Silvaterra contou que o foco das discussões foi a presença das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) em comunidades do Rio. Para a estudante, essa é uma discussão fundamental, na medida em que “possibilita não só entender o que é a iniciativa das UPPs, mas também pensar o sujeito que vive nesse novo contexto, de maneira não ‘divorciada’ de tudo que ele vive”.

Essa também foi a questão central no grupo formado por profissionais cuja área de atuação é o Centro, mas com ênfase nas ações policiais e nos direitos que estão em jogo com a atuação das forças de polícia. Segundo a pedagoga Valeria Rochet, que trabalha na Associação Brasileira Terra dos Homens (ABTH), essa discussão vai ajudá-la no seu trabalho dentro das comunidades. “Com o que ouvi no evento, posso tentar instruir a própria comunidade, especialmente as famílias com as quais trabalho diretamente, sobre os direitos inerentes à cidadania, à dignidade, ao direito de ir e vir. Foi ótimo ter vindo”.

Já no grupo da Zona Oeste, o foco das discussões foram questões médicas propriamente ditas. Foi debatido o papel do psicólogo em situações excepcionais, como no caso do tráfico, que extrapola a questão da saúde física, e também quais seriam as respostas mais apropriadas aos sofrimentos decorrentes da violência. Os profissionais discutiram o “medo pós-ocupação” colocando em questão a medicalização de forma a interrogar as demandas produzidas no contemporâneo.

O debate no grupo da Zona Norte girou em torno das questões relativas ao livre exercício da profissão, como obrigações éticas, submissão às políticas públicas e posicionamentos do Conselho em determinadas situações. A estudante de psicologia Raquel Souza, da Universidade Gama Filho, ficou surpresa com alguns relatos de abusos por parte do poder público que ferem a ética da profissão. “Fiquei muito chocada quando ouvi um caso de profissionais que internaram moradores de rua, prostitutas e usuários de drogas em instituições como o Pinel por determinação das Secretarias de Saúde. É uma medida que não se relaciona de maneira alguma com a saúde mental dessas pessoas, mas com uma ‘limpeza’ das ruas de Copacabana. Essa é uma realidade em que eu não gostaria de viver”, afirmou.

A divisão por áreas de atuação contribuiu para fortalecer a iniciativa, além de aumentar a qualidade do debate promovido. Para os profissionais, a separação permitiu o fortalecimento de articulações e programas já existentes em cada região, possibilitando o surgimento de novas iniciativas. Para os estudantes que participaram dos grupos, o evento ainda facilitou o estabelecimento de uma rede de contatos com alunos de outras instituições e psicólogos formados.

Para a conselheira Cristiane Knijnik (CRP 05/26659), da Comissão de Políticas Públicas do CRP-RJ, o mais importante foi a oportunidade que os participantes tiveram de trocar experiências. Para ela, “neste, que é apenas um primeiro momento de discussão, saber as dificuldades que os psicólogos experimentaram nesses territórios e como eles lidaram com os problemas, tanto das pessoas que sofrem mais diretamente com as ações policiais quanto com as imposições da atual gestão pública, é muito importante, e auxilia bastante os demais profissionais que se encontram em situação semelhante”.



020701-GTs-sobre-acoes-policiais-discutem-atuacao-de-psicologos01-300x225.jpg