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Racismo em xeque em Encontro Preparatório para o PSINEP


Data de Publicação: 20 de setembro de 2010


No dia 16 de setembro, o CRP-RJ foi palco do encontro preparatório para o I Encontro Nacional de Psicólogos Negros e Pesquisadores sobre Relações Raciais e Interraciais e Subjetividade no Brasil (PSINEP). Segundo a conselheira Maria da Conceição Nascimento (CRP 05/26929), é muito importante que o CRP apóie a luta contra o racismo porque, para ela, a realidade dos negros brasileiros “é um atentado à democracia”.

Participantes debatem racismo e relações raciais

Participantes debatem racismo e relações raciais

O objetivo do PSINEP é discutir questões ligadas à Psicologia e ao racismo para formar uma rede de profissionais qualificados para lutar pela igualdade étnico-racial. O encontro, que tem apoio do CRP-RJ, acontecerá entre os dias 13 e 15 de outubro no Instituto de Psicologia da USP, em São Paulo.

Para Conceição, que é coordenadora do Fórum de Psicologia e Relações Raciais do CRP-RJ, a realidade do negro brasileiro ainda não está sendo discutida como deveria pelos psicólogos de um modo geral, é uma questão que ainda vem sendo empurrada para debaixo do tapete. “É preciso estar atento ao sofrimento psíquico decorrente da discriminação e do preconceito. No entanto, essa questão é pouco considerada pelos estudiosos como uma especificidade à qual se deva atentar”, alertou. “O psicólogo não pode ficar alheio a essa realidade. O encontro de outubro é o resultado de um longo processo de reflexão que os profissionais ‘psis’ envolvidos querem colocar na ordem do dia”.

A convocatória do encontro, no entanto, foi criticada por um dos participantes, sociólogo e doutor em Psicologia Social, para quem ela reforça o preconceito e leva a entender que só negros podem participar do evento. “Se o desejo é falar à sociedade, não poderia ser tão restritivo”, advertiu ele, que acredita que a questão passa, na verdade, por fatores sociais. “Enfrentar o racismo racializando a questão é negativo para a atuação do próprio movimento social. Não existem raças e nós sabemos disso”.

Segundo ele, antes de tudo, seria preciso despir-se dos próprios preconceitos para, então, fazer valer o encontro. “Imagina se eu, como negro, visse um cartaz de um encontro de psicólogos brancos? Ia achar um absurdo”, explicou, criticando também o movimento negro de classe média que não fala pelo negro proletário e favelado, restringindo-se a um problema de ascensão social.

De acordo com Conceição, no entanto, existem situações que os negros passam somente pelo fato de serem negros. Por isso, para ela, não haveria problema algum em falar desse lugar, de psicólogo negro. “A Biologia serviu, no passado, para legitimar o racismo. Hoje, ela diz que não pode haver ações afirmativas porque o conceito de raça caiu. Isso é muito injusto”, respondeu. “Infelizmente a discriminação e o preconceito raciais não deixaram de existir só porque biologicamente está comprovado que não existem raças. Como construção social, elas ainda existem, e é disto que estamos falando”.

Para um psicanalista e psicólogo presente, a ideia do PSINEP é que os negros possam falar, entre si, sobre suas próprias questões. “Isso não está errado. É um primeiro passo: discutir entre eles, com os interessados, para depois abrir para toda sociedade de forma mais ampla”.

Herculano Barbosa (CRP 05/36154), psicólogo e membro do Fórum de Psicologia e Relações Raciais, concordou que a relação decorrente do racismo levanta pontos que precisam de fato ser pensados. “Nós não temos problema em atender brancos, mas quando um negro atende um negro é diferente. É uma questão porque os dois têm suas questões. Por isso é que é importante conversar e discutir”.

Texto e foto: Ricardo Cabral



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