A psicóloga e arteterapeuta Jacqueline Lopes (CRP 05/32918) foi uma das palestrantes do II Seminário da Rede de Cuidados da Região Serrana/Psicologia das Emergências e dos Desastres. Ela iniciou sua fala abordando a importância de seu trabalho de afetação do outro através da contação de histórias. “Eu tenho feito trabalhos a partir de oficinas de sensibilização através da contação de histórias. No entanto, provocar afetos não tem idade específica e meu trabalho não é só para crianças”. Em seguida, contou duas histórias para os presentes, demonstrando como se dá a sua atuação através da narração de histórias.
Depois, Jacqueline compartilhou sua experiência como psicóloga que participou das equipes de atendimento às vítimas dos desabamentos recentes em Angra dos Reis e Ilha Grande. “Quando você chega ao local do desastre e se depara com tamanha dor das pessoas, você se pergunta o que fazer com a sua Psicologia e com o seu saber em um momento como este. Ao longo do meu trabalho de atendimento a essas vítimas, percebi que eu preciso estar com essa pessoa, acolhê-la e apoiá-la do jeito que ela está e do jeito que ela chega a nós”.
Ainda conforme relatou a arteterapeuta, “naquela situação, não cabia nenhuma técnica específica, e sim o acolhimento, a aceitação e o estar com essa pessoa, quer dizer, é preciso estar próximo ao outro, com a dor do outro. Nesse sentido, o acolhimento dos profissionais faz toda a diferença”.
Na mesa seguinte, O Papel do Psicólogo no Século XXI – Compromisso ético, político e social,Eliana Márcia Martins Fittipaldi Torga (CRP 04/6243), psicóloga com atuação voltada para a Psicologia das Emergências e dos Desastres, afirmou que o trabalho do psicólogo nas emergências e nos desastres é, também, uma atuação em defesa dos direitos humanos.
“A Psicologia tem um compromisso social desde que nasceu. Esse compromisso está no nosso olhar crítico, ético e político sobre o humano de forma geral e sobre o indivíduo que estamos atendendo, seja ele da camada social que for. O compromisso social dos psicólogos está na garantia dos direitos humanos, seja onde ele estiver: na clínica, no CRAS, no CPAS, no hospital ou nas situações de emergências e desastres”.
A psicóloga também criticou o fato de a Psicologia das Emergências e dos Desastres ser enquadrada como mais uma especialidade da Psicologia. “Quando falamos em especialista de emergência e desastre, reduzimos as possibilidades dessa atuação, o que não quer dizer que não precisemos de método e técnicas para atuar nesse campo”.
“Estamos vivendo a era do conhecimento, e há um imperativo nela: a transdisciplinaridade. Estamos o tempo inteiro em contato com outros saberes, especialmente quem lida com Psicologia das Emergências e dos Desastres, em que você atua junto a médicos, bombeiros, enfermeiros, assistentes sociais, policiais”, afirmou.
Eliana defendeu ainda maior inventividade para a atuação do psicólogo na área. “Precisamos investir em novas práticas, buscando, continuamente, inovar dentro dos métodos científicos de que dispomos. O cenário que encontramos nessa área é muito fértil em termos de possibilidades, mas estamos garimpando o nosso lugar nela ainda. Nosso desafio é participar das discussões para aprimorarmos e desenvolvermos o campo”, concluiu.
A seguir, Lúcia Ribas (CRP 03/3057), psicóloga que atuou durante um mês no atendimento aos sobreviventes do tsunami na Índia, em 2004, compartilhou com os presentes sua experiência no socorro a vítimas de catástrofes naturais, e a necessidade de atenção e o cuidado entre os participantes da equipe de ajuda. Conforme relatou, ela foi chamada para compor a equipe seis meses depois da ocorrência do tsunami para prestar atendimento psicológico a pessoas que ainda não haviam conseguido retomar suas vidas normais.
A psicóloga destacou ainda aspectos importantes com relação às condições de trabalho da equipe que presta esse atendimento em situações de emergências e desastres. “O que eu pude perceber no tempo em que estive na Índia foi a importância de um trabalho de cuidado entre a própria equipe. Nós todos estávamos em uma situação de estresse muito grande, por isso valorizávamos espaços para realizar reuniões diárias com toda a equipe para trocarmos as experiências do dia e descarregarmos esse estresse. Outra coisa fundamental é sempre sairmos em duplas, pois assim sempre tem alguém que sabe onde o outro está. Um ponto também absolutamente necessário é haver clareza na coordenação da equipe e eficiência na comunicação entre o grupo”.
Lúcia acentuou ainda como deve se estabelecer o contato entre a pessoa atendida e o profissional que a assiste. Segundo ela, o profissional precisa entrar na sintonia na frequência da pessoa acolhida, mas essa aproximação deve ser lenta, cuidadosa, já que as pessoas tendem a ter resistência a isso. A psicóloga também lembrou a importância do toque na pessoa assistida, pois ele, quando aceito, ajuda a dar o acolhimento necessário à vítima.
“No geral, atender as vítimas do tsunami foi um trabalho que mudou a vida de todo mundo que esteve lá trabalhando, porque, além da questão do aumento da compaixão pelo próximo, isso mudou a referência de como você vai trabalhar com uma pessoa por pouco tempo”, afirmou Lúcia sobre como esta experiência alterou seu trabalho como psicóloga.
Texto e fotos: Felipe Simões
24 de agosto de 2010