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Roda de conversa sobre formação em Psicologia é realizada na IV Mostra


Data de Publicação: 26 de julho de 2010


As atividades do segundo dia da IV Mostra Regional de Práticas em Psicologia foram iniciadas com uma roda de conversa organizada pela Comissão de Estudantes do CRP-RJ para debater o tema “Forma-ação que forma, que ação diálogos de saberes e práticas profissionais”. Para disparar as discussões, foram convidados o psicólogo clínico e professor aposentado Carlos Alberto Marconi (CRP 05/1897), a estudante de Psicologia da Universidade Federal Fluminense Diana Lazera e a psicóloga Claudia Neves Pinto (CRP 05/39027). Ana Paula Uziel, professora de Psicologia da Uerj e colaboradora da Comissão de Estudantes, foi a mediadora da roda.

Psicólogos e estudantes participam da roda de conversa

Psicólogos e estudantes participam da roda de conversa

Ana Paula ressaltou a importância da relação do Conselho com os estudantes de Psicologia, além das contribuições mútuas que podem ser feitas. “Encontros como esse mostram a ética e o compromisso social sendo colocados em prática”. Outro ponto para o qual ela chamou atenção foram os princípios que orientam a formação e as possibilidades e impasses que isso gera. Segundo a professora, “é preciso ficar atento a que tipo de psicólogo se quer formar hoje e quais os limites estabelecidos para se criar e reproduzir o que já está aí”.

Sobre isso, a convidada Cláudia Neves comentou que, na sua formação, a oferta de estágios pela universidade foi predominantemente na área clínica e que não foi oferecido estágio na área da Psicologia Social, o que contribuiria para limitar o campo de atuação dos psicólogos, sobretudo no que se refere à possibilidade de promover a saúde e a qualidade de vida das coletividades. Atualmente, Cláudia faz parte de um grupo que está desenvolvendo uma pesquisa sobre a representação social da desigualdade social para graduandos de Psicologia.

“Um fato que chamou a atenção do grupo, ao obter os resultados preliminares da pesquisa, após a análise do conteúdo das respostas obtidas em 102 questionários aplicados em uma universidade particular do Rio de Janeiro, foi que, embora 78,5% dos alunos considerassem poder contribuir para uma sociedade mais igualitária, apenas 6% deles disseram que poderiam fazê-lo prestando serviços como psicólogos”, afirmou, acrescentando que a Psicologia pode contribuir para a melhoria da qualidade de vida na sociedade na medida em que trabalha com a subjetividade. Segundo ela, “através do trabalho com grupos, criando espaços de reflexão e produção de conhecimento, os psicólogos podem atuar no sentido de promover uma participação mais ativa das pessoas no contexto social”.

A estudante Diana Lazera contou que abordará a questão da formação em sua monografia de conclusão de curso. “Resolvi pesquisar sobre a prática do psicólogo depois que ele sai da universidade, o que ele faz e com o que trabalha. Cria-se um mito de que a forma e a ação estão dissociadas. Minha pesquisa pretende desmistificar exatamente isso”.

Carlos Marconi encerrou as falas dos convidados afirmando que a predominância da clínica na Psicologia é resquício do seu início enquanto ciência. “O psicólogo antes não podia clinicar, estando submetido aos poderes do médico. Com isso, a parte social ficou relegada a segundo plano porque havia uma preocupação maior em habilitar os profissionais para atuarem na clínica. Foi apenas da década de 1970 que se começou a pensar nas questões sociais”.

O palestrante lembrou também que a Carta de Serra Negra, resultante de um encontro de representantes de cursos de todas as agências formadoras do Brasil, em 1992, foi emblemático para que se repensasse a formação no país. “A partir desse encontro, começou-se a pensar a Psicologia com compromisso social e atuante direta na promoção da saúde”.

Durante o debate, diversos estudantes contaram um pouco sobre suas experiências de estágio na área. Um deles, aluno na Uerj do 9º período, comentou que o costume de ficar na faculdade conversando ou estudando com amigos já não acontece mais com tanta frequência. “Agora, se procura transformar a teoria em prática de uma hora para a outra, de uma maneira mais individualista. A hegemonia da clínica é um reflexo da sociedade atual. No consultório, o psicólogo tem um paciente que é só dele ao invés de trabalhar com o coletivo”.

Ainda sobre isso, outro estudante, da Universidade Celso Lisboa, acredita que a formação mercadológica está se sobrepondo à ideológica. “Há uma gestão do ensino mais preocupada com o retorno financeiro que a formação dos alunos pode gerar do que com o ensino em si”.

Outra questão levantada foi a estrutura da formação em Psicologia. Uma psicóloga recém-formada afirmou que a forma como ela é feita atualmente acaba por enrijecer a prática e não permite criar coisas novas. “A clínica conhecida hoje ainda é baseada no divã do Freud. Temos que usar as ferramentas existentes para inovar e sair do planejamento”.

Um estudante acrescentou que a formação mais preocupada com a forma do que com a ação não permite que os estudantes tenham contato com o que se produz de novo. “Eventos como a Mostra nos ajudam a ter uma visão mais ampliada da área, o que contribui para que se desenvolva um trabalho menos pontual”.

O conselheiro-presidente do CRP-RJ, José Novaes, encerrou o encontro afirmando que, apesar das agências formadoras estarem sob ingerência do Ministério da Educação, o CRP pode e deve interferir de maneira positiva sempre que possível. “Precisamos estar atentos à formação dos psicólogos porque, ao terminarem a graduação, estarão diretamente ligados a nós”.



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