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CRP-RJ debate saúde da população negra em Nova Iguaçu


Data de Publicação: 20 de novembro de 2009


No dia 17 de novembro, o Grupo de Trabalho de Psicologia e Relações Raciais organizou uma roda de conversa, na subsede do CRP-RJ de Nova Iguaçu, sobre a saúde da população negra. O evento foi alusivo ao mês da Consciência Negra e contou com a contribuição das psicólogas Andris Cardoso Tibúrcio, da Coordenação de Saúde da Família da Secretaria Municipal de Saúde de Nova Iguaçu, Luciene Lacerda, representante da ONG Criola, e Adriana Soares Sampaio, do Instituto de Psicossomática Psicanalista Oriaperê. Estiveram presentes no debate as conselheiras Maria da Conceição Nascimento, presidente do GT de Relações Raciais, e Francisca de Assis Rocha Alves, presidente da Comissão Gestora da subsede de Nova Iguaçu, que coordenaram o debate.

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Na abertura da roda, um grupo de alunos do Colégio Estadual Arruda Negreiro fez uma apresentação de jongo, dança de resistência negra que teve origem nas fazendas do Vale do Paraíba.

A psicóloga Andris Tibúrcio falou sobre o Projeto Saúde da Família do município de Nova Iguaçu, criado em 1994 pelo Ministério da Saúde, que cobre cerca de 39% da população local. “Existe uma proposta de expansão do projeto porque não damos conta do um milhão de habitantes que residem no município. Além da necessidade de mais agentes, nós ainda enfrentamos a falta de diálogo entre os profissionais envolvidos, além da falta de profissionalismo de alguns deles”, problematizou.

A abordagem da psicóloga Luciene se pautou nos “números” da saúde da população negra no Brasil. Segundo ela, existe uma diferença básica entre preconceito e discriminação. “O primeiro se refere ao pensamento que você tem sobre questões mais diversas, mas não passa disso. A discriminação é quando esse pré-conceito passa para uma ação segregadora propriamente dita”.

Sobre a educação na população negra, Luciene comentou que, apesar de as mulheres terem menos acesso à educação, quando comparadas aos homens, existe um número maior nas pós-graduações. “Isso é extremamente benéfico, já que mais estudo significa mais saúde porque se tem mais dinheiro para investir nisso”, comemorou. Em contrapartida, o número de alunos do 6º ano do ensino fundamental em diante é bem menor do que nos primeiros anos escolares, e as cotas serviriam para atenuar essas diferenças, já que “significariam uma forma positiva de discriminação por usar a cor para dar acesso a um lugar que essas pessoas não teriam”.

Para a psicóloga, a questão da saúde na população negra está na forma diferenciada de atendimento e medicalização. Como solução para tais problemas, Luciene propôs que haja um enfrentamento racial estrutural e institucional, além de uma valorização da cultura afro-brasileira e da promoção da discussão nas Universidades. Ela finalizou sua exposição falando que “o papel da psi é perceber a questão racial como importante na formação de identidade.

Foto do público da roda de conversa.

Finalizando o encontro, a conselheira Maria da Conceição comentou que “os psis podem e devem fazer um papel ativo na mudança desse quadro.”

Adriana, por sua vez, baseou sua fala na hipertensão nas mulheres negras, tema da sua dissertação de mestrado. A ideia de pesquisar sobre o assunto veio do grande número de atendimentos a mulheres que tinham a doença. “De 2000 a 2005, a mortalidade por hipertensão aumentou para 47,7%, em homens, e 34,9% em mulheres. O que chama a atenção é que mulheres negras morrem depois dos homens negros, mas antes dos brancos. Isso traz implicações diretas nas famílias negras, que perdem pessoas dos dois sexos muito cedo”.

Além disso, a psicóloga considera que essas famílias vivem em situações de vulnerabilidade psicossomática. “A mulher negra passa por paradoxos cotidianamente, achando seu cabelo feio. Mas, ao mesmo tempo, pensa que não deveria se sentir assim, já que vivemos em uma democracia racial. O processo de saúde precisa ser compreendido no contexto dessas contradições sociais. Os negros merecem um olhar específico porque são a maioria, então os profissionais precisam estar atentos”.

Durante o debate, um participante comentou que “os médicos que estão se formando já vêm com uma visão economicista. Acredito que a Psicologia possa ajudar a humanizar os tratamentos”. Sobre isso, a palestrante Andris afirmou que “a humanização tem que estar presente em todos os setores. Da mesma forma que existem médicos frios, também existem psis”.

Outra questão bastante comentada foi a necessidade de pesquisas sobre o tema. Segundo Andris, “políticas públicas são realizadas com base nos indicadores assinalados nas pesquisas”. Uma ouvinte também ressaltou a importância do levantamento de dados.

Finalizando o encontro, a conselheira Maria da Conceição comentou que “os psis podem e devem fazer um papel ativo na mudança desse quadro. Ano que vem, teremos o Congresso Nacional de Psicologia e todos os psicólogos podem encaminhar propostas para lá. Cabe a nós participar ativamente deste debate e encaminhar propostas, teses para o enfrentamento do problema da saúde da população negra”.

Texto e fotos: Ana Carolina Wanderley

20 de novembro de 2009
atualizado em 04 de dezembro de 2009



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