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Segundo dia do II Fórum de Ética tem debates sobre Justiça e formação


Data de Publicação: 28 de outubro de 2009


Em seu segundo dia, 24 de outubro, o II Fórum de Ética – Ética e Psicoterapia: novas perspectivas abordou os temas “Ética e Justiça” e “Psicoterapia, Formação e Ética”. Foram duas mesas que contaram com palestras de psicólogas convidadas, além de debates com os participantes.

Ética e Justiça

Na sequência: Elizabeth Pereira Paiva, Hebe Signorini Gonçalves e Christiane Zeitoune debateram Ética e Justiça.

Na sequência: Elizabeth Pereira Paiva, Hebe Signorini Gonçalves e Christiane Zeitoune debateram Ética e Justiça.

Na mesa Ética e Justiça, estiveram presentes Elizabeth Pereira Paiva, conselheira do CRP-RJ e psicóloga da Secretaria de Justiça e Interior do estado do Rio de Janeiro, e Christiane Zeitoune, psicóloga do Centro de Recursos Integrados de Atendimento ao Menor da Ilha do Governador (Criam Ilha). A psicóloga Hebe Signorini Gonçalves, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), mediou o debate.

Em sua fala, Elizabeth indagou que métodos de trabalho com crianças e adolescentes em conflito com a lei os psicólogos desenvolvem. Ela explicou esse questionamento com o exemplo do adolescente A., de 13 anos, que chegou ao Criam, na Baixada Fluminense, após passar 45 dias no Instituto Padre Severino por furto. “A. começou a freqüentar a escola, que, após um mês, procurou a técnica para avisar que ele seria desligado porque ameaçava os colegas. Em atendimento, ele explicou que ameaçava as crianças para conseguir um biscoito, pois o almoço era muito cedo. Além disso, ele reclamou que, após o recreio, a professora fechava a sala e desligava o ventilador para conseguir a atenção dos alunos”, contou, completando que foi proposta uma conversa com a diretora da escola, que resolveu o caso sem expulsar o menino.

De acordo com a conselheira, o caso demonstra uma forma de trabalho dos psicólogos que vai além do burocrático. “O trabalho prescrito dentro do Degase (Departamento Geral de Ações Socioeducativas) é muito mais uma montanha de papéis, para satisfazer as demandas do judiciário, do que uma aproximação de fato. É preciso desenvolver uma atividade em que o foco de atenção sejam os garotos e suas famílias”. Para ela, isso estaria de acordo com as mudanças legais que vêm sendo implementadas na forma de ver do adolescente em conflito com a lei. “Saímos do âmbito legal para o da proteção integral. O trabalho do psicólogo deve ser comprometido com a ética e pelos direitos humanos”, concluiu.

A palestra de Christiane foi focada em duas questões: a interface entre psicanálise e Direito e as estratégias de intervenção realizadas no Criam Ilha. Para ela, o modelo implantado com o Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (Sinase) leva a repensar as práticas do psicólogo. “No Degase, o adolescente fica alienado de sua condição de sujeito. É preciso fazer com que ele seja responsabilizado, mas diferentemente de uma responsabilidade jurídica; é implicar o sujeito em suas ações, deixar falar o inconsciente. Por isso, é importante escutar os adolescentes em suas particularidades, para que ele venha a entender seu ato e o por quê daquele ato naquele momento de sua vida”.

Christiane exemplificou com o trabalho no Criam da Ilha. “Temos feito várias atividades, como palestras, exibição de filmes etc., além do atendimento individual. E o trabalho sempre envolve a família e respeita as particularidades de cada um. O principal é mostrar que isso é possível, mas não sem muito trabalho. Podemos sair do imobilismo institucional, essa ideia de que não é possível fazer nada”.

Retomando as falas das palestrantes, a mediadora da mesa, Hebe Gonçalves, afirmou que o Sinase abriu a discussão em torno de uma nova política. “O Sinase oferece instrumentos ainda pouco explorados para lidar com o processo de massificação versus a singularização”. Ela abriu, então, o espaço para debate.

O presidente do CRP-RJ, José Novaes, questionou o fato de a Psicologia se encontrar, muitas vezes, subordinada ao Judiciário. “A maneira que encontramos para afirmar nossas especificidades é afirmar a nossa ética. Será que é realmente necessário construir leis, mesmo se elas vêm a partir de ações já organizadas? A lei é sempre um aprisionamento”, afirmou.

Os participantes trouxeram ainda questões como: a Justiça Terapêutica, o fato de o Poder Judiciário submeter os conflitos à ordem jurídica, a dificuldade em estabelecer redes na área e a interface do Degase com a Saúde.

Psicoterapia, Formação e Ética

Teresa Amorim, Maria Luiza Rodrigues Sant’ana e Eliane Falcone, da esquerda para direita, abordaram os aspectos éticos tanto na relação entre terapeuta e cliente quanto na supervisão, vista como facilitadora da autoreflxão do terapeuta.

Teresa Amorim, Maria Luiza Rodrigues Sant’ana e Eliane Falcone, da esquerda para direita, abordaram os aspectos éticos tanto na relação entre terapeuta e cliente quanto na supervisão, vista como facilitadora da autoreflxão do terapeuta.

A segunda mesa, Psicoterapia, Formação e Ética, teve como palestrantes as psicólogas Teresa Amorim, do Instituto Carioca de Gestalt-Terapia, e Eliane Falcone, professora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). A mediadora foi a psicóloga da Escola de Psicanálise do Campo Lacaniano (EPCL) Maria Luiza Rodrigues Sant’ana.

Eliane abordou os aspectos éticos tanto na relação entre terapeuta e cliente quanto na supervisão, vista como facilitadora da autoreflxão do terapeuta. “Há um impacto mútuo entre cliente e profissional, benéfico para ambos, que chamamos de confrontação empática. O terapeuta tem que estar atento às emoções provocadas nele pelo seu paciente, ou seja, a contratransferência”.

Para a psicóloga, essa contratransferência pode ocorrer de diversas formas. “Há padrões demandantes ou perfeccionistas, quando há pouca empatia ou excessiva racionalidade; medo de perder o cliente, o que pode levar o terapeuta a evitar o confronto; padrões de grandiosidade, gerando a visão da psicoterapia como oportunidade para brilhar e a rotulação do cliente que não adere; necessidade de aprovação, causando dificuldade para reconhecer a gravidade dos problemas do cliente; excesso de autosacrifício; e autonomia hiperdesenvolvida”.

Como essas situações podem ocorrer com qualquer terapeuta, ela recomenda a supervisão a todos, não apenas iniciante. “A supervisão inclui o ensino e a educação do supervisando para o desenvolvimento da atenção a aspectos fundamentais do exercício clínico. Quanto mais o terapeuta sabe o que se passa consigo mesmo, melhor consegue saber o que se passa com o cliente”.

Teresa, por sua, vez, começou definindo ética e diferenciando-a de moral. “Muitos não sabem bem o que é ética, daí sua importância na formação em psicoterapia. A moral são valores, costumes e normas, enquanto a ética é uma atitude crítica diante dessa moralidade”. Ela exemplificou com casos difíceis que um terapeuta pode receber, como violência sexual e uso de drogas, que trazem o dilema entre o sigilo e a preocupação em proteger o cliente.

A psicóloga acrescentou que atendimentos como esses não podem ser feitos pelo terapeuta sozinho. “Temos que envolver a família e, às vezes, outros profissionais. A visão do outro é sempre importante”. Por essa razão, ela defende que a supervisão deve ser continuada. “O psicólogo não pode dar conta de tudo sozinho”.

Teresa ressaltou também que é preciso que o terapeuta diferencie ética de seus valores pessoais. Ela afirma que há dois tipos de ética. “Acredito na ética que está no Código, a que temos que recorrer, e em uma ética singular, espontânea, que é do terapeuta e do cliente, adquirida ao longo da experiência. As duas são importantes”.

O tema foi desenvolvido também no debate com os presentes, que levantaram pontos como: a importância da formação; como essa formação ocorre nas diferentes linhas; quando é possível ir além da ética da norma, como em casos de risco de vida para o paciente; a importância de o terapeuta também fazer terapia; e a importância da supervisão.



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