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GT de Relações Raciais promove roda de conversa sobre Saúde Mental da população negra


Data de Publicação: 22 de outubro de 2009


Ocorreu, no dia 8 de outubro, na sede do CRP-RJ, a roda de conversa Psicologia e Saúde da população negra, promovida pelo GT de Psicologia e Relações Raciais. Para participar da roda, foi convidado José Marmo da Silva, participante Rede Nacional de Religiões Afro-Brasileiras e Saúde.
Marmo afirmou que a saúde da população negra é diferenciada, de acordo com a região onde o negro está inserido. Como exemplo, relatou que as doenças que mais acometem a população negra carioca não são as mesmas que mais acometem a população negra no Pará.

De acordo com ele, estudos realizados pelo Ministério da Saúde mostram que a população negra faz, quantitativamente, menos exames ‘pré-natal’ e apresentam índices maiores de morte no parto, de hipertensão, câncer e diabetes melitus em comparação com a população branca. Ele também criticou o fato de o acesso da população negra ao Sistema Único de Saúde (SUS) ser restrito e afirma que a saúde deve ser pensada a partir dos determinantes sociais.

“Acreditoser importantequalificar os gestores de Saúde para tratar a população negra, que apresenta doenças prevalentes e indicadores socioeconômicos piores do que se comparados com a população branca. A população negra é a maior usuária do SUS, portanto, para nós, lutar por esse sistema, para ampliar efetivamente o acesso a ele, é uma questão de sobrevivência. Por isso, precisamos lutar para qualificar o sistema como um todo”.

Marmo também convidou os presentes para o Seminário Estadual de Saúde da População Negra, que ocorrerá em 27/10 no município de São João de Meriti e tem como objetivo levar demandas da população negra ao Ministério da Saúde. Disse também que, no seminário, será exibido pela primeira vez um diagnóstico da população negra, cuja proposta está na construção de um sistema diferenciado a este segmento social, uma vez que o índice de desenvolvimento humano é mais baixo.
“O racismo determina os lugares sociais dos sujeitos. Este discurso não é mais dos movimentos sociais somente, mas também do Estado, ministérios e órgãos estatísticos”, sustenta Marmo, que relata ainda que, com base no IPEA, “em nenhum dos quesitos houve mobilidade social da população negra”, Já que a população negra tem pouco acesso ao setor de informação.

Saúde Mental da população negra

O acesso da população negra à saúde ainda é uma questão delicada. Segundo o Marmo, o Planapir (Plano Nacional de Promoção de Igualdade Racial) revelou, por meio de pesquisas realizadas, a necessidade de ampliar o atendimento da Saúde à população negra, que, comparativamente, apresenta também maiores índices de transtornos mentais.

Na opinião do convidado, a saúde mental da população negra é um tema sensível, embora pouco se discuta sobre o impacto do racismo na saúde mental da população negra no Brasil. E, nesse sentido, considera ele, a Psicologia tem papel fundamental.

Segundo Herculano Barbosa (CRP 05/36154), psicólogo e colaborador do GT, “grande parte da população que está nos hospitais psiquiátricos é negra, e nós do GT temos muito essa preocupação quanto à saúde mental da população negra no Brasil e quanto a contribuição que nós, psicólogos, podemos dar, já que o impacto se dá diretamente na psique dessa população”.

Na avaliação de Maria da Conceição Nascimento, conselheira e coordenadora do GT Psicologia e Relações Raciais do CRP-RJ, “a Psicologia está presente em todos esses campos – da Saúde, da Saúde Mental, da Educação. O desafio agora é fazer com que os psicólogos se dêem conta dessas informações e entrem no debate, pois o racismo está presente em todas essas questões”.

Para Marmo, jà que o SUS propõe a equidade, deve-se considerar que as políticas universalistas não dão conta das especificidades (gênero, raça, região, etc), daí, segundo ele, a necessidade de uma política nacional de assistência à população negra. Conforme ressaltou, a base da Política Nacional de Humanização deve ser o acolhimento.

Conceição, por sua vez, complementa, sustentando que uma das barreiras a essa implementação é o racismo institucional, “uma vez que o negro ainda é visto como cidadão de segunda classe, não reconhecido em sua humanidade”.

“A luta está em qualificar o SUS e universalizar seu acesso, ou seja, garantir o direito humano à Saúde para todos. O papel político é de luta na garantia dos direitos, não a caridade. Que Estado é esse que nos torna invisíveis, quando somos mais de 50% da população?”, conclui.