
Grupo de Trabalho de Psicologia e Relações Raciais realizou roda de conversa que recebeu psicólogos e estudantes para debater a criminalização dos jovens negros no Brasil.
No dia 5 de agosto, o Grupo de Trabalho de Psicologia e Relações Raciais realizou mais uma roda de conversa. Com o tema “Juventude Negra e Segurança Pública”, o evento recebeu psicólogos e estudantes para debater a criminalização dos jovens negros no Brasil.
Abrindo o evento, a colaboradora Roberta Maria Federico (CRP 05/37813) apresentou as rodas de conversa do GT, que são encontros mensais que debatem diversos temas acerca das relações raciais.
Em seguida, a conselheira Maria da Conceição Nascimento (CRP 05/26929), coordenadora do GT, chamou a atenção para a não-inserção da Psicologia em certas discussões. “Somente os conselhos regionais 05, aqui do Rio, e 03, da Bahia e Sergipe, têm grupos que discutem a Psicologia e as relações raciais. O objetivo dessa roda é exatamente conversar sobre esse tema. Não há palestras ou alguma ‘voz da verdade’. Queremos pensar como, enquanto psicólogos, podemos nos colocar nessa questão”.
Para servir como disparador da discussão, foi exibido o documentário “Zumbi somos nós”, da Frente 3 de Fevereiro. O filme aborda o racismo no Brasil e a criminalização dos jovens e dos movimentos sociais negros.
No debate, o colaborador do GT Celso de Moraes Vergne (CRP 05/27753) afirmou que o documentário apresenta uma realidade poucas vezes discutida de forma tão clara. “O racismo é uma proposta estrutural dos governos, uma lógica de controle das populações não desejadas. Há uma dificuldade de acesso da população negra a determinados lugares e, quando o acesso ocorre, é em termos de concessões de grupos dominantes. Não há uma discussão sobre isso”, declarou.
Chamando a atenção para uma das cenas do filme, o psicólogo falou ainda sobre a vigilância policial nas comunidades. “Trabalho em comunidades há muito tempo e isso sempre me pareceu muito estranho. Sempre há postos policiais, mas perto deles vemos pontos de venda de drogas com pessoas armadas. Então, se não é para impedir isso, para que aquele posto está ali? Fui me dando conta de que a polícia está ali para controlar a saída daquelas pessoas, não para protegê-las”.
Os presentes trouxeram ainda um debate sobre o histórico da violência policial no Rio de Janeiro. “A Polícia Militar foi criada no Rio, no século XIX, para manter a ordem e controlar a população negra, acompanhando a proibição da capoeira e dos terreiros, por exemplo. E essa polícia era mais bem treinada do que o Exército”, disse um participante. “Próximo ao atual Museu Nacional, em São Cristóvão, há o Exército. Isso não é por acaso. Ali era a residência da Família Real e era preciso ‘protegê-la’ contra os escravos que trabalhavam no palácio”, acrescentou outro psicólogo.
Outra discussão que esteve presente foi sobre a relação entre discriminação social e racial. “É preciso separar essas questões. Há discriminação social, mas também a racial. Confundi-las dá uma justificativa aos que dizem que no Brasil não há racismo”, ressaltou um psicólogo.
Além desses temas, foram debatidos ainda outros pontos. Entre eles, estavam a questão do projeto de criação de um curso de graduação de Segurança Pública na UFF; a atuação violenta da Polícia Militar atualmente nas comunidades e favelas, com o uso dos “caveirões” e outros instrumentos de ameaça; a atuação dos psicólogos de Recursos Humanos, que, muitas vezes, cedem a pressões superiores para não contratar candidatos negros; a falta de espaço para manifestações culturais de origem africana; e a falta de discussão sobre questões raciais nas escolas.
Os próximos eventos do GT de Psicologia e Relações Raciais serão:
- 27 de agosto – Roda de Conversa – Subsede Nova Iguaçu
- 23 de setembro – Roda de Conversa – UFF (Niterói)
- 08 e 09 de outubro – Seminário de Psicologia e Relações Raciais – UERJ