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Mesa debate a saúde do professor na III Mostra


Data de Publicação: 21 de julho de 2009


No segundo dia da III Mostra Regional de Práticas em Psicologia, foi realizada a mesa redonda “O professor está doente? Refletindo sobre dimensão política do sofrimento docente”, fruto do trabalho de três comissões do CRP-RJ: Educação, Saúde e Direitos Humanos.

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A mesa contou com a participação da psicóloga Helena Rêgo Monteiro (CRP 05/24180), colaboradora da Comissão de Educação do CRP-RJ, o professor de História da Rede Estadual e Municipal, Quincas Rodriguez de Souza, e do filósofo Luiz Fuganti, da Universidade Nômade.

Helena começou falando sobre a demanda ao psicólogo por tratar de diversas síndromes e transtornos, o que gera uma demanda por medicalização. “Essas síndromes atendem por diversos nomes. Temos ouvido falar muito da Síndrome de Burnout, por exemplo”, disse. Para ela, é preciso questionar se o problema é mesmo com o indivíduo ou se é social. “A quem serve a patologização dos conflitos? Como escapar da clausura do individualismo? Como sair da medicalização?”.

A psicóloga ressaltou ainda a importância de coletivizar o trabalho. “O professor fica isolado em sua sala de aula, com pouca ou nenhuma troca com seus pares”. Além disso, Helena acredita que é preciso romper com a ideia de que ao professor sempre falta algo. “Enquanto mantemos o registro da falta, deixamos de ver o transbordamento que se dá porque os indivíduos não cabem naquele sistema estabelecido para eles”.

Quincas, em seguida, falou sobre o lugar do professor na rede pública de educação. “Vemos na mídia uma tese constante de que há uma crise na educação e que o professor seria o responsável por essa crise, devido à sua formação deficiente”.

Para ele, o que ocorre é um “desmantelamento da educação pública nas últimas três décadas”. “Essa desmantelamento foi levando as classes médias a tirarem seus filhos das escolas públicas e levarem para a particulares. Assim, criou-se um ‘apartheid’ na educação: escolas públicas para filhos de trabalhadores e escolas privadas para os filhos da classe média. A partir daí, a escola pública ficou jogada à sua própria sorte. E hoje já nos resignamos com isso”.

Segundo Quincas, esse sucateamento da escola, junto com a visão da formação deficiente do professor, levou a uma degradação dessa profissão. “Há uma desqualificação ideológica da profissão pela sociedade e uma desmoralização econômica. Vemos hoje nas escolas dois grupos de professores: os que chamo de ‘velha guarda’ e os muito jovens”, afirmou. “Não há meio termo porque os professores novos estão lá só até conseguirem um emprego melhor e os mais velhos ficam porque falta pouco para se aposentarem. E os últimos incentivam os primeiros a saírem, porque veem que não há futuro. Ouvir isso de outro professor é muito ruim, tira a perspectiva na sua profissão”.

Concluindo, o professor declarou que atualmente há uma lógica empresarial nas escolas públicas, que têm, inclusive, recebido verbas da iniciativa privada. “A escola em que trabalho, por exemplo, foi ‘adotada’ por uma empresa. A palavra de ordem do Estado é otimização, que é, no final, reduzir custos. E vemos como isso afeta a vida do professor. Ano passado, na minha escola, dois professores pediram licença por depressão, sem contar os que tiveram problemas nas cordas vocais e outras doenças. Enquanto não valorizarmos o trabalho do profissional de educação, não adianta falar em melhora nas escolas”.

Finalizando a mesa, Fuganti problematizou “o uso que fazemos da dor” para falar sobre o sofrimento do professor. “Quando queremos fazer algo em benefício do outro, acabamos nos esquecemos de nós mesmos. Achamos que, por querermos fazer o bem, nossa vida irá bem. E quando isso não ocorre, nos sentimos injustiçados”.

O filósofo trouxe ainda a relação entre escola e poder. “O poder tem como princípio a desqualificação da vida. É preciso desqualificar o outro para se afirmar. Vivemos há 300 anos uma forma de adestramento humano, que é a educação que se dá na escola. Ela é mais que um aparelho de Estado, é também uma ‘fábrica’ que produz várias coisas, entre elas a desqualificação da vida. Ela desqualifica a vida para, em seguida, oferecer ‘piedosamente’ uma resposta, um preenchimento desse vazio”.

Assim, segundo ele, a criança é caracterizada como “incompetente”, pois “não sabe chegar à verdade”, e a escola é colocada como necessária para ela aprender. “Em um momento, a criança sai da esfera de ser ‘incompetente’ para a esfera moral, quando começa a ter que fazer escolhas. Então, também vai aprender lições de moral na escola”.

O professor, por sua vez, teria entrado nessa “cadeia de palavras de ordem” e se aprisionado nela. “Ele é carrasco e vítima ao mesmo tempo. Não falo de culpa, mas sim de responsabilidade e cumplicidade”.

De acordo com Fuganti, a escola “rouba” diversas experiências do ser humano, ao tentar “adestrá-lo”. “A experiência de pensamento é roubada pela palavra. A experiência do corpo é roubada pela subjetivação. A do deseja é roubada pela moral, pela condenação. A de tempo é roubada pelo foco em uma memória e um futuro, mas não no acontecimento, no presente. E a experiência de aprendizado é roubada porque inventa-se uma atenção que, na verdade, produz desatenção”.

Texto e Fotos: Bárbara Skaba

21 de julho de 2009



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