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Psicólogos e jornalistas debatem a relação entre mídia, esporte e Psicologia


Data de Publicação: 20 de julho de 2009


O GT de Psicologia do Esporte do CRP-RJ promoveu um debate, no dia 13 de julho, sobre “Mídia, Esporte e Psicologia”. O evento fez parte do ciclo de palestras Lance Livre, realizado pelo GT com temas sugeridos pelos próprios psicólogos.

Foto do debate sobre “Mídia, Esporte e Psicologia".

Foto dos palestrantes Noeli Godoy, Daniele Seda, Maíra Ruas Justo e Ronaldo Helal.

O debate “Mídia, Esporte e Psicologia” teve a participação de Noeli Godoy, Daniele Seda, Maíra Ruas Justo e Ronaldo Helal.

Participaram como palestrantes a psicóloga do clube Botafogo de Futebol e Regatas, Maíra Ruas Justo (CRP 05/32073), o professor adjunto da Faculdade de Comunicação Social da UERJ Ronaldo Helal e a psicóloga, conselheira e coordenadora do GT de Psicologia e Mídia do CRP-RJ, Noeli Godoy (CRP 05/24995).

Ronaldo começou apresentando sua pesquisa sobre matérias que abordam as seleções brasileira e argentina em veículos de comunicação dos dois países. Segundo ele, a mídia do país vizinho promove menos conflitos e polêmicas do que a brasileira. “Há algumas provocações nos jornais argentinos, mas também muitos elogios ao Brasil. Um exemplo é o fato de a expressão ‘jogo bonito’ ser usada por eles assim, em português. Além disso, pesquisas mostraram que, em um jogo entre Brasil e Inglaterra, a maioria dos argentinos torcia para o Brasil. Será que os brasileiros torceriam para a Argentina?”, indagou.

O professor analisou ainda os estereótipos com que argentinos e brasileiros veem uns aos outros. “A mídia argentina vê o brasileiro como estando sempre feliz, além de associá-lo ao ‘jogo bonito’. Já no Brasil, a mídia é mais agressiva com relação à Seleção argentina. Nesse caso, não há estereótipos relativos ao estilo de jogo, mas ao próprio povo argentino, associado à arrogância, ao racismo etc.”.

Para Ronaldo, há ainda uma maior preocupação da mídia brasileira em atacar e/ou responder aos argentinos do que o contrário. “Por que um jornal não especializado em esportes, como O Globo, preocupa-se em responder às ironias de um jornal argentino especializado, como o Olé? Qual seria o motivo brasileiro para ‘amar odiar’ os argentinos?”, questionou.

Em seguida, Maíra falou sobre a relação entre a Psicologia do esporte e a mídia. “Trabalhar com futebol profissional significa uma relação constante com a imprensa, que faz a ponte entre o time e a torcida. O psicólogo que trabalha nessa área é parte da imprensa, pois aparece junto com o jogador. Ou seja, nosso trabalho é muito exposto”.

A psicóloga ressaltou a necessidade de estar sempre atento à ética profissional, principalmente devido a essa exposição. “Na nossa sociedade, é moralmente aceito a mídia falar da vida pessoal de um jogador, difamá-lo. E procuram o psicólogo para falar sobre isso. A imprensa não nos procura para falar coisas positivas, como quando o time está unido, mas coisas negativas, como que o jogador está deprimido, por exemplo. A mídia busca sempre polêmica”.

Outro ponto destacado por Maíra foi como as matérias veiculadas sobre um atleta o afetam psicologicamente. “Quando o jogador está treinando, há jornalista cobrindo. Ele é sempre pressionado para ter o melhor desempenho. E se não corresponde, é massacrado, podendo até ser ameaçado por torcedores na rua. Por isso, temos sempre que tentar proteger o jogador de reportagens distorcidas”.

Finalizando a mesa, Noeli falou sobre a produção de subjetividades e a construção da imagem dos atletas na mídia. De acordo com ela, há uma imagem do jogador de futebol como ídolo, por exemplo. “Uma criança assiste cerca de cinco horas de televisão por dia. E ela vê no futebol não só uma possibilidade de lazer, mas também, no contexto social em que vivemos, de ascensão social, de se tornar uma celebridade, o que é incentivado pela mídia. A mídia veicula a imagem de que, se você for um craque, vai ficar rico, morar na Europa”.

A conselheira também reafirmou a questão da pressão da mídia sobre os jogadores e a criação de estereótipos. “No futebol, vemos que o Kaká é colocado como ‘bonzinho’ e o Adriano como mau exemplo. A mídia não vai na essência da construção dos jogadores, mas na polêmica, no que vende”.
Segundo Noeli, essas questões não afetam somente os psicólogos do esporte, mas atravessam toda a Psicologia. “Durante muitos anos, a Psicologia se calou diante da massificação e da produção de subjetividades pela mídia. Mas não podemos mais nos calar. Nós e nossos clientes somos afetados por isso. A mídia produz realidade e ilusão. Ela transmite uma partida, que é uma realidade, mas a ilusão vem com a fala dos narradores, que vão homogeneizar pensamentos. Essa fala é repetida e vira verdade, porque é mais cômodo recebermos as informações prontas do que parar para analisar o que estamos vendo”.

Em seguida, abriu-se um debate e os presentes tiveram a oportunidade de colocar reflexões e fazer perguntas. Os principais pontos levantados foram a formação do jornalista para o esporte, a predominância do futebol em detrimento de outros esportes na mídia, a imagem do psicólogo do esporte na imprensa e o papel do psicólogo de questionar o que é veiculado.

Os encontros do GT de Psicologia do Esporte ocorrem duas vezes por mês. Fique atento ao site do CRP-RJ para saber sobre os próximos eventos. Interessados em entrar em contato com o GT podem escrever para [email protected].

Texto e fotos: Bárbara Skaba

20 de julho de 2009