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Encontro de Psicologia e Mídia reúne psicólogos, estudantes e jornalistas pela democratização da comunicação


Data de Publicação: 3 de julho de 2009


Ocorreu, na terça-feira dia 30 de junho, a roda de conversa O silêncio como produtor de subjetividades: o que a Psicologia (não) diz sobre a Mídia, promovida pelo GT de Psicologia e Mídia do CRP-RJ e que contou com a presença de psicólogos, estudantes de Psicologia e jornalistas.
Na abertura, a coordenadora do GT e conselheira do CRP-RJ, Noeli de Almeida Godoy de Oliveira (CRP 05/ 24995), lembrou que a I Conferência Nacional de Comunicação – convocada pelo presidente Lula para dezembro – representa um dispositivo para fomentar discussões em torno da democratização da mídia.

Foto da roda de conversa.

Foto da roda de conversa.

A conselheira afirmou também que o tema está na pauta do Sistema Conselhos há bastante tempo e que esse debate é uma preocupação do CRP-RJ, que instituiu, no ano passado, o GT de Psicologia e Mídia, responsável por estender as discussões à categoria. E lembrou que a ideia é a “Psicologia colocar o seu saber a serviço do povo”.

A psicóloga e cinegrafista, Ângela Lopes, fez uma pequena introdução sobre a história da televisão no Brasil e sobre como ela desenvolveu sua linguagem se apropriando de elementos do rádio e do cinema. Em seguida, ela teceu críticas à indústria cultural, à manipulação da publicidade para o consumo nas grandes cadeias midiáticas e à tese de “se igualar socialmente pelo consumo”.

Sobre o quadro atual das mídias, ela afirmou que a televisão é a maior influenciadora da opinião pública no país e no mundo, e ponderou se as novas mídias que vem surgindo vão romper efetivamente com o padrão estabelecido. Conforme considerou, o importante é que as novas mídias desenvolvam mais canais de comunicação com o público, despertando nele senso crítico para que possa, dessa forma, ampliar a capacidade do público de reflexão crítica sobre o que consome.

O psicólogo e colaborador do GT, Celso Vergnes CRP 05/27753), falou um pouco sobre a intervenção da Psicologia na produção de subjetividades pela mídia. Para ele, a Psicologia ainda detém uma participação aquém ao que ela pode contribuir no debate a essas questões. “Como a Psicologia pode trabalhar com subjetividades estando fora desse debate?”, questionou.

De acordo com o colaborador do GT, os profissionais de Psicologia, ao ignorar essas questões, está “produzindo um grande silêncio”, que tem a ver com “o histórico da Psicologia, inserida numa máquina de produção de silenciamentos”.

Celso afirmou que o psicólogo não pode passar ao largo dessas questões porque, enquanto sujeito, ele está inserido no contexto de produção de subjetividades pela mídia. Para ele, a indústria cultural – conceito desenvolvido nos anos 1930 por pensadores como Theodor Adorno e Max Horckheimer – é um aparato de formação de subjetividades e a Psicologia precisa ampliar seu diálogo com essa questão.

“É preciso ver o que a Psicologia tem feito – ou não tem feito – com essas população de massa, influenciada por conteúdos midiáticos. Nós, psicólogos, estamos dentro dessa lógica, e, portanto, cabe perguntar: que tipo de escuta estamos desenvolvendo no sentido de produzir, em nossos espaços de atuação, diversidade para construirmos uma outra Psicologia?”, complementou.
Já a jornalista e membro da TV Comunitária de Niterói, Cláudia de Abreu, apresentou um pequeno histórico internacional de debates sobre as relações entre comunicação, sociedade e novas tecnologias, e também um panorama sobre a situação das mídias comunitárias no Brasil.

Dentre outros pontos, ela destacou o Relatório McBride, do final da década de 1970, como a primeira tentativa de pensar coletivamente a democratização da comunicação – ou a falta dela –, e de rascunhar as primeiras políticas nesse sentido.

De acordo com o histórico apresentado por ela, as primeiras rádios piratas surgiram no final da dos anos de 1960 e receberam essa denominação porque operavam fora das águas territoriais e portavam uma bandeira preta, que lembrava as embarcações piratas dos séculos XVI e XVII. Segundo ela, essas rádios pretendiam contestar o monopólio da comunicação pelas grande corporações midiáticas e eram financiadas pro grandes empresas.

Com relação às TVs comunitárias, a jornalista explicou que as primeiras surgiram na década de 1970, nos EUA, França e Canadá, e eram abertas a pessoas e entidades representativas. No Brasil, as primeiras TVs comunitárias apareceram em 1983, como a TV Viva, de Olinda. Outras foram surgindo ao longo da década, como a TV Anhembi, de São Paulo (1989) e a TV UHF, de Marica (RJ).

Cláudia apontou ainda as TVs piratas do país na época, como a TV Cubo, de São Paulo, e a 3 Antena, no Rio, que, de acordo com ela, conquistaram sucesso expressivo junto ao público. Ela também criticou a criminalização das lideranças de radiodifusores comunitários, que muitas vezes são presos, processados e até mesmo condenados.

Por fim, houve um debate entre os presentes. Uma psicanalista lembrou que “pensar a comunicação sem pensar o jovem significa dizer que as estratégias das novas mídias estão fadadas, em meu ver, ao fracasso”. Uma jornalista disse ser “fundamental a Psicologia assumir esse papel na construção de subjetividades no sentido de desenvolver uma ação política que se volte, prioritariamente, para as escolas”.

Texto e Fotos: Felipe Simões

03 de julho de 2009