O GT de Psicologia e Relações Raciais do CRP-RJ realizou, no dia 1° de julho, mais uma roda de conversa. Com o tema “Ações Afirmativas”, o evento contou com palestra do historiador Rogério José de Souza, doutorando pela Universidade do estado do Rio de Janeiro (UERJ), e reuniu psicólogos, estudantes e outros interessados para um debate.
Rogério, que possui experiência no campo das ações afirmativas, tanto em sua militância quanto no seu trabalho acadêmico, começou colocando em questão o próprio conceito de raça. “Apesar de biologicamente ter sido provado que não existem raças humanas, socialmente esse conceito está presente; é o que nos estigmatiza e hierarquiza. Temos alguns estigmas, como cor da pele e traços físicos, que nos determinam socialmente”, afirmou.
O historiador declarou ainda que há muitas formas de racismo., entre elas o racismo institucional. “Podemos nos perguntar, por exemplo, quantos médicos ou juízes negros nós conhecemos. Esse racismo institucional é aquele que, até pouco tempo, colocava nas especificações para um emprego ‘ter boa aparência’. Há uma sutileza nesse racismo que impõe vários filtros ao longo da nossa vida, que nos impedem de acessar certos espaços de poder. A própria escola já é um desses filtros”, explicou.
Ele completou esse pensamento incluindo alguns dados, como o fato de que, dos 513 deputados federais eleitos em 2006, apenas 11 eram negros. “Não sou determinista, do tipo de acredita que só negros podem nos representar. Mas, com certeza, mais negros no Congresso produziriam uma diversidade nas discussões”.
Sobre as ações afirmativas, Rogério ressaltou seu caráter “especial e temporário”. “Essas ações só ocorreriam até alcançarmos certa igualdade na população brasileira. E elas não se restringem apenas às cotas, que são apenas uma das ações afirmativas”.
De acordo com o historiador, é preciso haver um trabalho conjunto com toda a população. “O racismo não é um problema só dos negros, mas dos brancos também. Temos que construir uma nova sociedade, a partir de todos. O branco tem que assumir que existe racismo e que ele é um privilegiado. Porque, em nossa sociedade, ter pele branca é um privilégio. As ações afirmativas seriam um primeiro passo para reparar isso e construir uma sociedade multiétnica”.
Rogério chamou atenção ainda para o fato de que, apesar de a luta pelas ações afirmativas terem crescido no Brasil, não se vê uma preocupação tão grande por seus resultados. “A primeira turma de cotas da UERJ já se formou. Onde eles estão? O que estão fazendo?”.
Sem seguida, foi aberto um debate com os participantes, que levantaram diversos pontos sobre o tema. Apesar de todos concordarem que as ações afirmativas não se restringem às cotas, o debate acabou focando nesse tema, geralmente o que gera mais polêmica na sociedade.
Entre as questões discutidas, estava a possibilidade de ver as cotas como forma de se afirmar negro, pois, para concorrer a essas vagas, é preciso declarar a etnia como “negra”. Além disso, elas foram colocadas como uma possibilidade de acesso dos negros a uma melhor educação e, consequentemente, maior conscientização.
No debate, surgiram ainda pontos como a questão dos negros que são contra as ações afirmativas e suas razões, e a necessidade de não restringir a etnia só à cor, mas ampliá-la a todos os elementos de identificação do sujeito.
O próximo encontro do GT de Psicologia e Relações Racias acontecerá no dia 5 de agosto com o tema Juventude Negra e Segurança Pública na sede do CRP-RJ às 18 horas.
Texto e Fotos: Bárbara Skaba
03 de julho de 2009