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CRP-RJ promove evento de Psicologia e Diversidade Sexual


Data de Publicação: 29 de junho de 2009


Teve início, na sexta-feira dia 26 de junho, o Seminário de Psicologia e Diversidade Sexual “Assim se passaram dez anos”, promovido pelo Grupo de Trabalho Psicologia e Diversidade Sexual do CRP-RJ. Compareceram estudantes e profissionais de Psicologia e de áreas afins, além de diversos militantes ligados às causas LGBT, que discutiram os dez anos da Resolução do CFP 001/99, que aponta como antiética a patologização da homossexualidade por profissionais da psicologia.

Foto da mesa de abertura do evento.

O Seminário de Psicologia e Diversidade Sexual “Assim se passaram dez anos” discutiu os dez anos da Resolução do CFP 001/99, que aponta como antiética a patologização da homossexualidade por profissionais da psicologia.

Na mesa de abertura, o conselheiro-presidente José Novaes (CRP 05/980) ressaltou que o evento foi uma iniciativa da Comissão Regional de Direitos Humanos, e tem relação com a “política de observância e defesa dos DH” defendida pelo XII Plenário do CRP-RJ. Ele afirmou que é “no choque de ideias que abrimos caminho para a defesa dos DH e para a construção de práticas coletivas”.

“Nós simplesmente acreditamos na diversidade, social e sexual. Mas precisamos estar atentos porque a luta pelos DH enfrenta diversas dificuldades, principalmente por conto de um oportunismo que se instalou quando se fala em defesa dos DH, que virou uma moda, na qual todos levantam essa bandeira para defender teses esdrúxulas”, afirmou o conselheiro.

Majorie Macchi, presidente da Associação de Travestis e Transexuais do estado do Rio (Astra/RJ), lembrou a importância do espaço aberto pelo Conselho para debater diversidade sexual. Segundo disse, “o profissional psicólogo é muito procurado por pais e parentes de homossexuais que desejam alguma orientação e, nesse quadro, a Resolução veio ajudar a prática dos psicólogos”.

Ela também afirmou que “celebra, enquanto cidadã e representante dessa população, a Resolução 001/99 a cada dia”, mas destacou que ainda há “muitos obstáculos na conquista de direitos para a população LGBT”.

Yone Lindgren, do movimento DELLAS, sublinhou a necessidade de romper com a ideia de patologização da homossexualidade. “Prefiro buscar a cura para o HIV/AIDS, que leva muita gente embora, do que para a homossexualidade”.

Ela classificou de “selva diária” a luta pela aquisição de direitos para a população LGBT. “Nossa luta cotidiana junto com o CFP e o CRP-RJ para estabelecer direitos para homossexuais é uma selva diária. Os homossexuais são cidadãos como outros quaisquer; para quem não gosta, sinto muito”, afirmou.

O conselheiro-coordenador do GT e presidente da Comissão Regional de DH, Pedro Paulo Gastalho de Bicalho, recordou a origem da Resolução e afirmou que ela “produz efeitos para além da prática profissional do psicólogo”.

Conforme contou, há cerca de dez anos, surgiu uma clínica no Espírito Santo com a proposta de curar homossexuais, e, nessa tarefa, contava com a atuação de vários profissionais, o que demandou uma atuação do Sistema Conselhos de Psicologia para dizer que aquela não era uma prática ética. Foi, então, instituída a Resolução 001/99.

Para o conselheiro, a Resolução é motivo de celebração, porém é preciso ter cautela e questionar sua própria razão de existir. “O que celebramos é que há dez anos da Psicologia se posicionou contra a homofobia. No entanto, por que ainda precisamos de uma resolução para afirmar que a homossexualidade não é doença? Por que ainda é preciso uma resolução para pautar nosso exercício ético?”.

Ele também revelou que o CRP-RJ vem tentando articular essa discussão dentro do Sistema Conselhos e disse que a criação de um GT Nacional sobre diversidade sexual “já é um dispositivo de análise sobre a prática do psicólogo”. E complementou afirmando que a ideia é criar, dentro do CRP-RJ, uma Comissão de Psicologia e Diversidade Sexual para que os debates se tornem permanentes.

Foto da roda de conversa "Diversidade Sexual e Psicologia".

Foto do público do evento.

A roda de conversa Diversidade Sexual e Psicologia destacou que a homossexualidade não pode ser vista como uma questão de alteridade nem como uma patologia.

Na roda de conversa Diversidade sexual e Psicologia, a professora do IMS/UERJ, Márcia Áran, destacou que a homossexualidade não pode ser vista como uma questão de alteridade nem como uma patologia.

“A população LGBT chega ao consultório – um lugar onde essas questões de identidade e Gênero aparecem bem – bastante vulnerável porque, entre outras coisas, é excluída da sociedade, do mercado de trabalho… Por isso a psicoterapia deve primar sempre pela singularidade no atendimento, seja no consultório ou na saúde pública”, sustentou ela.

Márcia declarou ainda que a Psicologia não pode “ficar refém do modelo psiquiátrico” e criticou o diagnóstico psiquiátrico, classificando-o de “uma grande violência”. “O diagnóstico psiquiátricos é uma grande violência. A Psicologia não pode ficar refém dele nem desse modelo psiquiátrico que enquadra a transexualidade como transtorno e patologia”.

O psicólogo e professor do Departamento de Psicologia da UFF, Eduardo Henrique Passos Pereira (CRP 05/7200), disse que o evento era “a expressão de uma militância e da interface entre clínica e política e da complexidade das práticas psis cotidianas”.

Para ele, “as discussões que travamos aqui reverberam e se articulam em uma dimensão da política que queremos afirmar pública, pois queremos e precisamos afirmar a prática clínica como uma prática pública”.

Ainda de acordo com o psicólogo, “nessa militância, estamos apostando em um processo de mudança da prática psi na transversalidade e na inseparabilidade entre a prática clínica e a prática política. E fazer clínica é, portanto, uma prática de inclusão”.

Henrique também reiterou que a prática psi deve “defender o direito a diferir e, nesse sentido, precisamos ter diretrizes e princípios porque a Psicologia vai trabalhar não exatamente o que é tido como normal, mas sim o ‘a-normal’”.

Saiba como foi o segundo dia do evento.

Texto e Fotos: Felipe Simões

29 de junho de 2009