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CRP-RJ e UFF debatem educação inclusiva e as micropolíticas de exclusão


Data de Publicação: 18 de maio de 2009


A comissão de Educação do CRP-RJ promoveu na Universidade Federal Fluminense, no dia 13 de maio, um encontro sobre Educação Inclusiva e as micropolíticas de exclusão. Mais de 380 pessoas compareceram ao evento, que debateu práticas que garantam o acesso e a permanência no espaço escolar e o papel da Psicologia nesse processo.

Foto do público do evento do evento.

Mais de 380 pessoas compareceram ao evento, que debateu práticas que garantam o acesso e a permanência no espaço escolar e o papel da Psicologia nesse processo.

Foto dos palestrantes Mariana de Araújo Fiore, Katia Aguiar, Maria da Conceição Nascimento e Francisco Palharini.

Mariana de Araújo Fiore, Katia Aguiar, Maria da Conceição Nascimento e Francisco Palharini formaram a
mesa de abertura do evento.

Na mesa de abertura, a conselheira Maria da Conceição Nascimento (CRP 05/26929) representou o CRP-RJ. Ela lembrou que 2008 foi o Ano da Educação do Sistema Conselhos de Psicologia, durante o qual o CRP-RJ promoveu diversos debates. “O Sistema Conselhos não poderia ficar de fora da discussão sobre Educação, principalmente em um momento em que os psicólogos são cada vez mais solicitados nesse campo. A Educação é direito de todos e a Psicologia vem contribuir para a construção de uma Educação que seja de fato inclusiva”.

Representando a Comissão de Educação do CRP-RJ, a colaboradora Mariana de Araújo Fiore (CRP 05/35050), psicóloga e professora, afirmou a importância do diálogo da Psicologia com a Educação. “Nossa preocupação na Comissão de Educação sempre foi no sentido de buscar entender qual a demanda da escola ao psicólogo. Nossa postura é combater a medicalização e a patologização do aprendizado no espaço escolar. Procuramos potencializar as relações com os professores.”.

Segundo Mariana, a Comissão procura evitar que o psicólogo reforce a racionalidade biomédica presente na escola e que se desloque do lugar de ‘mediador’ das relações. “Ele pertence ao coletivo escolar e, consequentemente, é atravessado pelos tensionamentos ali presentes”, afirmou, acrescentando que a inclusão deve ser discutida de forma mais ampla do que apenas relacionada a pessoas com deficiências físicas e mentais. “Inclusão se refere a todos que, por qualquer motivo, estejam impedidos de inscreverem-se no cotidiano escolar”.

O coordenador do Instituto de Ciências Humanas e Filosofia (ICHF), professor Francisco Palharini, falou em seguida sobre a parceria entre o ICHF e o CRP-RJ. “Para o ICHF é importante contribuir para que essa discussão aconteça. Essas políticas de inclusão e exclusão estão muito presentes no nosso cotidiano. É muito satisfatório ver que essa discussão não é feita apenas por uma diretoria ou coordenação, mas pela comunidade, que se dispõe a travar esse combate em prol da inclusão”.

Concluindo a mesa de abertura, a professora do Departamento de Psicologia da UFF Katia Aguiar, ressaltou que as discussões sobre Psicologia da Educação têm servido, na universidade, para analisar a própria formação do psicólogo. “Além do estágio, as disciplinas que abordam a interface Psicologia-Educação e o plantão institucional, na UFF, são espaços para o debate e contato com as polêmicas que envolvem a atuação do psicólogo com as práticas educativas”, afirmou. Katia convidou, então, Daiane Malito, recém formada no curso de Psicologia da UFF, para compartilhar um trabalho elaborado a partir da experiência de estágio com os presentes.

Foto das palestrantes Nelma Marques Pintor, Maria Teresa Esteban, Katia Aguiar, Cláudia Fernandes e Marisa Lopes da Rocha.

Nelma Marques Pintor, Maria Teresa Esteban, Katia Aguiar, Cláudia Fernandes e Marisa Lopes da Rocha debateram os programas de educação inclusiva do Município.

Em seguida, deu-se início à mesa de palestras. A psicóloga Nelma Marques Pintor (CRP 05/5873), responsável pela Coordenadoria de Educação especial da Fundação Municipal de Saúde de Niterói (FME), começou falando sobre os programas de educação inclusiva do Município. “Pretendemos que a Educação tenha qualidade, que a pessoa possa se sentir feliz e compartilhar os mesmos direitos de toda a sociedade, respeitando suas singularidades”, afirmou, acrescentando que não é possível fazer clínica dentro da escola, que é um espaço de educação.

Para Nelma, “as micropolíticas de exclusão se manifestam por meio das resistências à inclusão das diferenças na escola (professores ainda acreditam que a escola deve ser homogênea), pela ausência de uma cultura de inclusão na sociedade como um todo e pelo fato de os Direitos Humanos fundamentais ainda não serem prioridade nas políticas públicas dos governos”.

Em seguida, a psicóloga Marisa Lopes da Rocha (CRP 05/3758) falou sobre as dimensões macro e micropolítica relacionadas à inclusão e exclusão. “O modo como uma questão é formulada já se encontra presente numa estrutura maior, macro. Quando perguntamos, por exemplo, ‘o que tem essa criança?’, já trazemos implícito que há algo errado com ela. Ou se perguntamos ‘por que essa criança é agitada?’, não trazemos à cena o ritmo priorizado como padrão, o modelo pré-estabelecido de criança. Já a micropolítica se faz na dimensão existencial, na atenção a singularização dos processos.

Para a psicóloga, “a vida cotidiana se constitui entre a macro e a micropolítica, entre certezas e imprevisibilidades”. “A micropolítica fala de forças que compõe um campo e têm sido comprimidas em uma única forma de ensinar e aprender. É desse contexto que emerge a lógica medicalizante. Acredita-se em uma espécie de ‘mágica’: todos os problemas seriam resolvidos no consultório. Caberia aos psicólogos resolver as questões, pois ele é o ‘homem da ciência médica’ na escola”. Segundo ela, é preciso se deslocar desse lugar e “passar do especialismo ao campo da indagação coletiva, que afeta a todos; construir redes”.

A pedagoga Cláudia Fernandes, professora da Graduação e da Pós-Graduação da Unirio, abordou, em seguida, a questão do currículo escolar relacionado à inclusão, que ela vê de forma ampla. “Currículo não se restringe aos conteúdos de matemática, história etc., mas à escolha, que é política, do que eu vou ensinar e como”. Nesse sentido, ela fala em um “currículo oculto”, no qual se incluem todos os rituais da escola, como, a disposição das carteiras em sala de aula. “O currículo oculto é tudo o que aprendemos e ensinamos sem saber que estamos aprendendo e ensinando”.
Cláudia trouxe ainda a ideia de escola de massas, ou seja, a lógica de ensinar a todos de forma homogênea, sem pretensão de que a escola seja um espaço de transformação. “Essa escola tem estruturas hierárquicas seriadas – todos têm que entrar em uma fôrma, aprender ao mesmo tempo e da mesma forma. O conhecimento é tratado como pacotes que podem ser transferidos para um estudante objeto. Algumas pessoas conseguem se enquadrar e outras não, independentemente de terem ‘necessidades especiais’”.

Mesmo assim, ela acredita que vivemos tempos de mudança, que vem desde a década de 1980. “A ‘ciência’ se transformou em ‘ciências’, a ‘verdade’ em ‘verdades provisórias’, a ‘linearidade’ em ‘circularidade’. A implicação disso é a ressignificação dos processos de ensino e aprendizagem. O currículo centrado nos programas tem se transformado no currículo centrado nas práticas e aprendizagens”.

A também pedagoga e professora da UFF Maria Teresa Esteban, finalizando a mesa, chamou a atenção para o fato de que, até pouco tempo, a escola brasileira não recebia todas as crianças. “Antes, a escola só recebia determinada ‘categoria’ de alunos, que, apesar de suas diferenças, eram mais fáceis de ser homogeneizados. Quando novos alunos chegam, a escola se assusta. Ela tenta usar os mesmos elementos: mesmo currículo, mesma organização de carteiras, mesmas avaliações. Mas não dá certo e a escola pede um novo formato de organização. Só que esse formato não está pronto, é algo construído coletivamente”.

Nesse contexto, a pedagoga afirma que a escola exclui quase todos, não apenas crianças com necessidades especiais. “Só uma pequena parte é realmente incluída. Receber o aluno na escola não significa incluí-lo. Por isso, alguns autores falam em ‘inclusão exclusiva’”, declarou, completando que a inclusão não pode se dar no sentido de apagar as diferenças. “Há um elogio da diversidade, que são variações da mesma coisa, mas não da diferença. Os psicólogos são nossos parceiros fundamentais para seguir outro caminho que não o de apagar as diferenças dos indivíduos para encaixá-los num modelo”.

Texto e Fotos: Bárbara Skaba

18 de maio de 2009