O GT de Psicologia e Relações Raciais do CRP-RJ promoveu, no dia 29 de abril, o encontro Uma roda de conversa mais do que oportuna: Psicologia e relações raciais, que reuniu psicólogos e outros profissionais engajados no combate ao racismo.
A conselheira coordenadora do grupo de trabalho, Maria da Conceição Nascimento (CRP 05/26929), abriu o encontro agradecendo a presença de todos e falou da importância de o CRP-RJ ter criado um GT sobre racismo. “É bastante significativo o fato de que, em quase 40 anos de regulamentação da Psicologia no Brasil, somente agora se tem aberto espaço para debater o racismo”, completa.
O colaborador do GT Celso Vergne (CRP 05/27753) convocou os participantes a estarem sempre em contato com o Conselho e a participar das discussões propostas pelo GT, afirmando ser importante “quebrar as resistências de se debater racismo dentro da Psicologia”.
Em seguida, foi exibido o filme A estima negra, que reúne depoimentos de pessoas sobre o racismo na sociedade brasileira. O vídeo serviu como ponto de partida para a roda de conversa.
Abrindo o debate, Celso questionou: “Como nós, psicólogos, podemos atender um paciente negro que nos traga essas questões relativas ao racismo se o próprio psicólogo não debate isso?”. Ele afirmou ainda que “é incrível como as reflexões em torno do racismo muitas vezes são relegadas à Antropologia ou à Sociologia, nunca à Psicologia”.
Uma questão que logo surgiu foi a formação em Psicologia, cuja grade curricular não inclui disciplinas relativas ao tema. Conforme considerou um psicólogo, “as pessoas que estão se graduando não estão preparadas para enfrentar o outro no sentido de escutá-lo, principalmente quando esse outro é negro”. Outro participante acrescentou que “além de não haver disciplinas sobre racismo na graduação, quando se tenta levantar a discussão na academia, simplesmente é dito que isso não é relevante”.
“É curioso como uma área que lida com o humano, como a Psicologia, silencia sobre essa questão”, afirmou Celso, segundo o qual, até o ano 2000, só havia 53 dissertações/teses nas universidades brasileiras sobre racismo.
Uma professora destacou a importância de se “batalhar por uma mudança cultural”. Segundo ela, “a idéia não é o negro ser igual a ninguém, mas sim ter garantido o acesso às políticas públicas iguais”. Ela lembrou também que o negro precisa ter “liberdade para escolher o que quer ser. As políticas públicas não são planejadas para fazer esse jovem se potencializar, aprender a acreditar em si mesmo. O que se vê são discursos que desmotivam esses jovens perante a sociedade”, criticou.
Um ponto sensível do debate foi a construção da identidade do negro. Outra professora presente assinalou “ser preciso trabalhar melhor a imagem do negro junto à sociedade, visto que ele pouco é retratado e, quando de fato é representado, isso se dá muitas vezes de forma distorcida”.
Já outra participante citou “a construção do pertencimento racial ainda muito ligado ao fenótipo”. Para ela, essa discussão é apresentada de forma “deslocada” porque baseada “nos mesmos referenciais utilizados no século XIX”.
Cabe finalmente indagar: como essas questões têm sido tratadas dentro da prática dos psicólogos e pela Psicologia? De acordo com Celso, ela só tem aparecido recentemente “porque a Psicologia sempre foi elitista”.
Um participante frisou que o papel do psi diz respeito a ampliar o debate e fortalecer, principalmente, a rede de proteção aos jovens negros. “Há jovens no tráfico, matando e morrendo, e a maior parte deles é de negros. Não podemos ignorar essas estatísticas. Por isso, acredito que nosso compromisso de psis deve se voltar a eles, que estão sofrendo. Nosso compromisso é com o humano, sempre”.
Ao final do encontro, os participantes saudaram a iniciativa do Conselho de abrir espaço para discutir o tema, segundo eles “tão rejeitado pela sociedade”. Conceição, por sua vez, acrescentou que “o GT de Psicologia e Relações Raciais é um espaço importante para o debate entre os psicólogos e com os demais interessados no tema. Mas, certamente, esta discussão não se esgota na vigência de um GT, já que o mesmo tem um tempo limitado de duração”. E destacou: “Precisamos nos mobilizar para construir uma forma de garantir que o debate permaneça no CRP-RJ. Para isso, a participação de todos é essencial”.
Texto e Fotos: Felipe Simões
12 de maio de 2009