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GT de Psicologia do Esporte debate infância e adolescência na atividade física


Data de Publicação: 29 de abril de 2009


Foi realizado, no dia 27 de abril, o segundo encontro do ciclo de debates Lance Livre, promovido quinzenalmente pelo GT de Psicologia e Esporte do CRP-RJ. O evento abordou o tema A criança e o adolescente na prática da atividade física: peculiaridades na formação do atleta e do cidadão, e teve como convidadas as psicólogas Simone Albuquerque Luz (CRP 05/36913), que atua com atendimento individual a atletas e equipes, e Elizabeth dos Santos Morais de Carvalho (CRP 05/19952), integrante do Projeto de Educação Olímpica do C. R. Vasco da Gama.

Elizabeth abriu o encontro falando da importância da prática do esporte para o desenvolvimento da criança e do adolescente, mas criticou a ideia de que o esporte “é a salvação da pobreza e da marginalidade”. A psicóloga afirmou também que o esporte “se apresenta hoje como uma mercadoria de consumo, principalmente para aqueles que aspiram à ascenção social”.

Conforme destacou, embora o pediatra libere a criança para a atividade física a partir dos quatro mesmes, é importante “ter em mente que a prática precoce do esporte deve ser, fundamentalmente, um dispositivo de promoção de saúde”. Já para adolescentes e crianças de outras idades, a prática do esporte, segundo ela, pode ser um “instrumento que promove socialização, desenvolvimento físico e lazer, além, é claro, de saúde”.

Mas qual é o papel do psicólogo no processo de iniciação à prática esportiva? Segundo ela, o profissional psi precisa sempre questionar se “seu compromisso é com a formação de cidadãos ou de atletas”. “Nosso papel é de orientar professores, treinadores, pais e alunos e não cobrar rendimento do atleta. Nosso compromisso é contribuir na formação de um atleta-cidadão, e não de um atleta ou de um cidadão”, ponderou.

Elizabeth lembrou ainda do “desafio que a família representa à nossa atuação psi”. Para ela, a Psicologia precisa trabalhar “o olhar dessa família, obscecada com a ideia de ascenção social trazida pelo esporte”.

Simone, por sua vez, iniciou enfatizando justamente a influência dos pais no desenvolvimento psíquico das crianças e adolescentes iniciantes em atividades físicas. De acordo com ela, a família deve buscar, no esporte, “um ambiente sadio, onde haja possibilidade de troca entre as crianças e adolescentes”.

Entretanto, ela alertou também que cada vez mais essas crianças estão sendo inseridas no esporte por escolha dos pais. “Quando se decide que a criança vai fazer uma atividade física, quantas vezes os pais perguntam aos filhos que atividade querem fazer ou mesmo se estão gostando daquela que escolheram para eles?”, questiona.

Para Simone, é fundamental os pais “darem à criança o poder de escolha; eles precisam identificar em que esporte ela se sente mais motivada”. A psicóloga ressaltou ainda que “a família precisa pesar a influência que tem sobre os filhos para, enfim, saber se de fato os está motivando ou apenas pressionando”.

Outro ponto levantado por ela foi o burnout, uma resposta psicofisiológica a uma freqüência excessiva de exercícios físicos. Conforme esclareceu, essa síndrome representa “uma exaustão ou esgotamento que podem ter origem, inclusive, na pressão dos pais sobre o rendimento do filho na prática esportiva”. Ela explicou ainda que “concentração, motivação, ansiedade e coesão grupal são variáveis psicológicas que podem influenciar, positivamente ou não, sua atuação no esporte. Bom desempenho não quer dizer resultado”.

No final, abriu-se um debate em que foi discutido, principalmente, o espaço de atuação de cada profissional, como psicólogos, treinadores e professores de Educação Física, além da importância de todos atuarem em rede.

Um professor de Educação Física presente apontou a interdisciplinaridade como “um importante passo para se trabalhar a criança ou o adolescente com um olhar diferenciado, não apenas como um atleta, mas também como um ser completo”.

Já uma psicóloga afirmou que “o psicólogo está inserido nesse processo de formação da criança e do adolescente como um todo, pois a prática esportiva é uma forma privilegiada de investir na formação psíquica da criança ou do adolescente”.

Elizabeth, por sua vez, sublinhou que “é preciso cautela para acabar com a ideia, bastante difundida pela família, de que o esporte tem um papel de educação para crianças e adolescentes. Isso é um erro e nós, psicólogos, ao trabalharmos com a criança, temos que inserir automaticamente a família”.

29 de abril de 2009