Atualmente, em seu primeiro ciclo de pesquisas de 2009, com o tema Álcool e Outras Drogas, o Centro de Referência Técnica em Psicologia e Políticas Públicas (CREPOP-RJ) realizou, no dia 13 de março, a segunda reunião com psicólogos e outros profissionais que atuam na área. No encontro, ocorrido na sede do CRP-RJ, no Rio, os cerca de 30 participantes discutiram suas práticas e trocaram experiências. O primeiro evento havia ocorrido no dia 6 de março, em Macaé.
A reunião foi conduzida pelo conselheiro Lindomar Expedito Darós (CRP 05/20112), coordenador da Comissão Regional de Psicologia e Políticas Públicas (CRPP) do CRP-RJ, da qual faz parte o CREPOP-RJ, a partir da metodologia sociodramática. Em um primeiro momento, os presentes foram reunidos em duplas para se conhecerem. Cada um foi, então, convidado a apresentar o companheiro para o grupo, mas falando em primeira pessoa, como se fosse o outro.
Apesar de a experiência suscitar diferentes sentimentos em cada um, a grande maioria se mostrou à vontade apresentando o outro e sendo apresentado. Alguns afirmaram ter experimentado certo desconforto e receio de descrever o companheiro de forma errada. Mesmo assim, declararam ter gostado da atividade. “Achei mais fácil me identificar com o outro ouvindo o que ele falava de mim”, revelou uma psicóloga. “Não costumo me sentir à vontade nesse tipo de atividade, mas aqui achei bem tranqüilo”, contou outra participante.
Na segunda parte do evento, os presentes se reuniram em grupos para compartilhar suas experiências e escolher um caso com o qual algum deles tenha trabalhado. No final, todos os participantes juntos selecionaram uma das histórias para ser encenada num sociodrama.
Cada participante tinha liberdade para assumir qualquer um dos papéis dentro do sociodrama e conduzi-los da forma como achasse mais potente, independentemente do desfecho que o caso havia tido na realidade. “No sociodrama, os próprios atores são os autores”, ressaltou Lindomar.
Conhecendo as práticas
O sociodrama foi o ponto de partida para o debate das práticas dos participantes.
O sociodrama foi o ponto de partida para a terceira fase do evento, na qual os presentes debateram suas práticas mais diretamente. Uma das questões mais citadas pelos psicólogos abordava as dúvidas quanto ao melhor método a ser utilizado no trabalho com dependentes químicos.
Outro ponto importante do debate foi o fato de os presentes – ao contrário do que ocorreu no encontro em Macaé – não terem apontado redução de danos e abstinência como estratégias excludentes. Na opinião de uma psicóloga, o importante é “não criar polaridades, o que somente empobrece a discussão”. “Há casos em que a abstinência é a melhor perspectiva e há casos em que não é. A cura para o viciado seria ele poder usar a droga sem correr riscos de overdose; se ela vai se dar por redução de danos ou abstinência, isso é variável”, concluiu.
Já para outro presente, a redução de danos se apresenta como um instrumental que serve para rever os referenciais práticos até então utilizados. “Os profissionais em Psicologia precisam se movimentar na direção de promover mudança político-social. Há quanto tempo os usuários de droga, lícita ou ilícita, estão relegados à criminalização e à patologização? Costumava-se primeiro aplicar a abstinência no paciente e depois se pensava nos motivos que supostamente o levaram a usar drogas. A redução de danos vem justamente para tentar rever isso”.
Na fala de outra psicóloga presente, uma das maiores dificuldades em se atuar junto a dependentes químicos é a “falta de políticas públicas” combinadas a um “amplo trabalho de prevenção”. Outro participante discordou, afirmando que “política pública em si existe; a dificuldade é implementá-la de fato, inserindo-a na Rede de Assistência”.
Segundo muitos presentes, outra grande dificuldade é a ausência do tema nas grades curriculares da graduação. “Infelizmente, não existe uma disciplina nos currículos de formação de graduandos que trate diretamente do tema. Por que a gente tem de fazer uma pós ou uma especialização para ter acesso a esse tipo de discussão?”, questionou uma psicóloga.
Por fim, os participantes manifestaram suas impressões sobre o encontro. Na avaliação de um psicólogo, “houve a abertura de um canal que contemple e respeite as diferenças de práticas e possibilite a troca de referências, ideias e experiências”. Já outro se disse contente pelo que chamou de “experiência renovadora” e saudou o fato de o CRP-RJ estar “saindo mais de sua sede e indo buscar o psicólogo onde ele está”.
Texto e fotos: Bárbara Skaba e Felipe Simões
16 de março de 2009