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CREPOP dá início a seu primeiro ciclo de 2009 em Macaé


Data de Publicação: 11 de março de 2009


“É para mapear as práticas psi e produzir referências técnicas a partir da coletivização de conhecimentos e práticas em políticas públicas que a Comissão Regional de Psicologia e Políticas Públicas e o CREPOP estão aqui”, afirmou a assessora técnica Beatriz Adura (CRP 05/34879) na abertura do evento que inaugurou os debates em torno do primeiro ciclo, Álcool e outras drogas, em Macaé, no dia 06 de março.

Referenciar e refletir sobre suas atuações no campo do uso e da dependência às drogas foi o objetivo do debate em torno do primeiro ciclo do CREPOP-RJ.

A assessora técnica Beatriz Adura afirmou na abertura do evento que “É para mapear as práticas psi e produzir referências técnicas a partir da coletivização de conhecimentos e práticas em políticas públicas que a Comissão Regional de Psicologia e Políticas Públicas e o CREPOP estão aqui”.

Com participação da Comissão de Saúde do CRP-RJ – que se fez presente por meio da colaboradora Viviane Pereira da Silva (CRP 05/31297) -, o encontro contou com a presença de psicólogos, pedagogos, assistentes sociais e enfermeiros, entre outros profissionais, de Macaé e de diversos municípios do Norte Fluminense, interessados em referenciar e refletir sobre suas atuações no campo do uso e da dependência às drogas.

Foi a primeira vez que a CRPPP “interiorizou” os debates em torno dos ciclos do CREPOP-RJ, antes centralizados na sede do CRP-RJ, na capital do estado. Segundo Lindomar Darós (CRP 05/20112), coordenador da CRPPP e do CREPOP-RJ, a iniciativa reflete a “política itinerante” do Conselho, cada vez mais preocupado em “ir ao interior do estado estreitar seus laços com a categoria”.

De acordo com o conselheiro, os encontros promovidos pela CRPPP visam a conhecer como a prática é pensada pelos psicólogos e é por isso que “nenhum dito especialista é convidado a falar porque o foco é justamente a fala da categoria, daqueles que fazem”.

Os participantes, a partir da metodologia sociodramática, foram divididos em duplas, e cada um foi convidado a “ocupar” o lugar do outro, apresentando-o na primeira pessoa. As apresentações consistiam em narrar as experiências profissionais e os motivos que os levaram a estar presente.
Posteriormente, os presentes foram divididos em três grupos, momento no qual partilharam suas experiências profissionais no campo de álcool e outras drogas. Os grupos deveriam optar por uma história que tivessem vivenciado de fato no cotidiano de suas atividades laborais, e poderiam ainda construir uma história a partir das vivências coletivas no campo.

A história escolhida foi denominada Quebra-quebra, e narrava o drama de Roberto, 30 anos de idade, dependente de álcool e cocaína. O protagonista tinha uma relação conturbada com sua mãe, Maria de Fátima – que afirmava nunca o ter desejado como filho. Após sucessivas brigas, ele resolve procurar tratamento junto a um dispositivo de saúde, no caso, um CAPS-AD.

O sociodrama trabalhou tanto as tensões internas na própria equipe quanto a falta de sincronia existentes na Rede de Assistência. O desfecho possível foi o suicídio de Roberto. Segundo a equipe da CRPPP/CREPOP, “a morte foi o mote para se colocar em análise os modos possíveis da existência e confrontar os profissionais de saúde com os limites frente ao imponderado”.

Debatendo as práticas

A dramatização suscitou um debate em torno dos desdobramentos técnicos e processuais ocasionados pelo suicídio inesperado e dos impactos que ele pode ter sobre os manejos possíveis desses profissionais – sejam eles psicólogos ou não – frente às singularidades de cada caso.
Na opinião de uma psicóloga participante, “construímos políticas públicas no fazer diário da nossa profissão, ainda mais na área da Saúde, e é por isso que precisamos encontrar o sentido do nosso trabalho no coletivo”. Já outro psicólogo aponta “a responsabilidade com o outro” e diz ser preciso “pensar o bem-estar do doente e não somente a doença”.

Já uma assistente social lembrou a importância da “intersetorialidade”, o que, segundo ela, nem sempre ocorre de fato. “Nós temos que batalhar por esse trabalho em rede que, infelizmente, nem sempre se dá de forma efetiva”.

Outro psicólogo considerou a importância de se rever o olhar com o qual o profissional de Saúde atua nesses espaços. “Na prática, a gente reproduz um olhar conservador, quer dizer, até que ponto eu imponho meus valores quando trato um paciente nesses espaços?”

Redução de danos e abstinência como orientações de tratamento à drogadição apareceram como outra questão importante para o grupo, visto que, com exceção do CAPS-AD, a abstinência constitui-se a regra na condução de todos os serviços – não apenas em Macaé como também em todos os municípios do Norte-Fluminense representados. O grupo, em alguns momentos, apresentou narrativas que expressavam a abstinência e a redução de danos como manejos, necessariamente, excludentes.

O grupo apontou como expressiva a experiência em álcool e outras drogas no município de Cambuci (Noroeste Fluminense), onde há dois leitos reservados no Hospital Geral para se substituir longas internações em “hospitais especializados”, o que, segundo a CRPPP/CREPOP-RJ, significa que as políticas substitutivas ao encarceramento das diversidades têm sido, ainda que aquém do necessário, implementadas.

De uma forma geral, os presentes saudaram a iniciativa do CRP-RJ em “estender a discussão a outros municípios do estado”, qualificando-a como uma “oportunidade para interagir e compartilhar ideias, práticas e referências”. Conforme destacou Lindomar Darós, “uma oportunidade também de abrir caminho para a construção de novas referências em políticas públicas”.

Texto e fotos: Felipe Simões

11 de março de 2009