O Centro de Referência Técnica em Psicologia e Políticas Públicas (CREPOP) do CRP-RJ realizou, no dia 23 de julho, a reunião de seu terceiro ciclo de 2008: Mulher sob Violência de Gênero. Psicólogos, estudantes e outros interessados no tema compareceram ao encontro e discutiram o fazer do psicólogo dentro do contexto das políticas públicas.
O CREPOP realizou a reunião de seu terceiro ciclo de 2008: Mulher sob Violência de Gênero.
Em sua primeira fase, os presentes se reuniram em duplas ou trios para se conhecerem. Em seguida, cada um se apresentou para o grupo como se fosse o companheiro, com base nas informações recebidas por ele.
De acordo com o conselheiro coordenador do CREPOP do CRP-RJ, Lindomar Darós, o objetivo era proporcionar uma troca. “Nós que trabalhamos em serviço de atenção temos sempre que falar do outro, escrever relatórios sobre o outro. Então, é importante aprendermos a nos colocar no lugar desse outro”, afirmou.
A atividade dividiu a opinião dos participantes. “Achei uma experiência muito boa. Tive facilidade tanto para apresentá-la quando para ser apresentada”, afirmou uma psicóloga. “Não me senti muito confortável. Fiquei com medo de esquecer alguma coisa importante”, discordou outra.
Em seguida, os presentes foram divididos em três grupos para falarem sobre suas experiências na área. Cada grupo escolheu um caso vivenciado por um de seus integrantes e o apresentou aos demais. Foram propostas três situações para serem encenadas, e a eleita foi a intitulada “Mulher minha não trabalha fora”: A, de 23 anos, foi recebido por um psicólogo na Central de Penas Alternativas por ter agredido a companheira, AP, de 17 anos. O casal, que tinha um filho, brigava principalmente por ciúmes. Em uma das discussões, AP gritou com A na frente dos amigos e, em represália, o rapaz a agrediu.
Ao longo da encenação, os participantes tiveram a oportunidade de entrar no lugar dos personagens, intervir na história e mudar seu rumo. Também foram apresentadas diferentes formas com que cada sujeito (agressor, vítima, autoridades, psicólogos etc.) pode conduzir a situação e, dessa forma, levar a desfechos diferentes.
Na parte da tarde, foram debatidas as reações e reflexões que a encenação provocou em cada participante. Uma das grandes questões levantadas pelos presentes foi a necessidade de trabalhar a não-vitimização da mulher. Segundo a psicóloga Beatriz Adura, técnica responsável pelo CREPOP no CRP-RJ, o importante é abolir “maniqueísmos e dicotomias que patologizam a mulher em situação de violência e reforçam os papéis do homem como agressor e da mulher como vítima”. Para ela, a função dos profissionais em Psicologia é “olhar sempre os dois lados”.
Alguns participantes observaram ainda a necessidade de se reverem os métodos de encaminhamento terapêutico dado a essas mulheres, problematizando qual seria o melhor – o individual ou o grupal – e destacando a importância de se alocar “vítima” e “agressor” no mesmo espaço terapêutico.
Outro tema bastante questionado foi o parcial, ou mesmo total desconhecimento em torno da lei Maria da Penha (2006), que instituiu os direitos da mulher em situação de violência. Para um psicólogo presente, há falta de capacitação e desinformação por parte dos estudantes e novos psicólogos sobre a lei, o que dificulta e limita os trabalhos desses psicólogos.
O coordenador do CREPOP também lembrou a função dos psicólogos em avaliar a violência, inclusive no sentido psicológico. Segundo Lindomar, “a coerção psicológica e seu lado simbólico muitas vezes não são levados em conta” por uma sociedade que está atenta somente “às marcas físicas” deixadas pelos atos de violência.
Para os presentes, a reunião foi importante por ter aproximado mais o CREPOP dos psicólogos, bem como demais profissionais que atuam em políticas públicas. Segundo eles, o encontro também foi positivo por promover reflexão e redimensionamento de suas práticas profissionais.
Ao término da reunião, Lindomar destacou a necessidade de “construir referências para a prática a partir de um embate horizontal no plano das idéias”. O conselheiro parabenizou os participantes, convidando-os a estarem sempre próximos das discussões do Conselho, para que este possa “continuar a construir referências junto à categoria”.
Texto e fotos: Felipe Simões e Bárbara Skaba
29 de julho de 2008