No dia 03 de junho, o CRP-RJ realizou o evento “PSE – Programa Saúde nas Escolas, Um coletivo que se organiza?”, com o objetivo de discutir o papel de educadores e psicólogos na execução do Programa. Criado em dezembro do ano passado, o Programa Saúde na Escola (PSE) faz parte do Plano de Aceleração do Crescimento da Saúde, o Mais Saúde, criado pelo Governo Federal. A atividade foi apoiada pela Rede de Proteção ao Educando, da Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro (SME/RJ), tendo cerca de 150 pessoas presentes, da capital e interior do estado do Rio.
O CRP-RJ realizou o evento “PSE – Programa Saúde nas Escolas, Um coletivo que se organiza?”, com o objetivo de discutir o papel de educadores e psicólogos na execução do Programa.
O PSE prevê uma série de ações com vistas à promoção de saúde nas escolas e articulação entre trabalhos do SUS e da rede básica de educação, entre outras medidas. Também fazem parte do Programa avaliações clínica e psicossocial dos alunos. Dessa forma, o evento promovido pelo Conselho apresentou algumas questões aos participantes, como a necessidade de avaliar criticamente as demandas feitas pela Educação à Psicologia e a possibilidade de criação de redes, a partir da ação entre ambos os setores.
Participaram do debate as psicólogas Adriana Miranda de Castro (CRP 05/23086) da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde (SVS/MS); Adriana Marcondes Machado (CRP 06/21157), do Instituto de Psicologia da USP e Marise de Leão Ramôa (CRP 05/14615), da Rede de Proteção ao Educando (SME/RJ). Ana Carla Silva (CRP 05/18427), presidente da Comissão de Saúde do CRP-RJ, foi a mediadora.
Adriana Castro afirmou que uma grande dificuldade na implementação do Programa é a questão do território: muitas vezes a unidade de Saúde responsável pelo atendimento às escolas está localizada em região distante, o que dificulta o trabalho dos profissionais e acesso da população atendida.
A psicóloga afirma que um problema no PSE é fornecer atendimento e provisão de recursos apenas para alunos, quando as ações deveriam ser mais abrangentes e atingir “toda a comunidade escolar”, envolvendo professores e outros funcionários.
De acordo com Marise Ramôa, a escola, assim como a prisão e o hospital, é uma instituição que está em crise. Para ela, a escola tem seguido a lógica da empresa, sendo colocada cada vez mais no campo da mercadoria. Em contrapartida, Marise afirmou que, quanto à questão da clínica, tem observado bons profissionais atuando no ambiente escolar: “A gente tenta fazer trabalhos no campo da Análise Institucional”.
Marise afirma que na rede em que atua, foram desenvolvidos trabalhos com grafite, fotografia, entre outras atividades coletivas, com o objetivo de subverter aquela lógica de mercado, entretanto, ainda é um trabalho difícil de ser executado, devido à carência de recursos.
Para Adriana Marcondes, que há vinte anos trabalha junto a escolas públicas em São Paulo, muitas vezes, na relação com educadores, há um “autoritarismo” na fala de psicólogos, que indica que há problemas a serem resolvidos, mas não deixa claro como professores devem administrá-los: “O psicólogo diz ‘você deve olhar seu aluno de outra forma’ – o que deixa irritado o professor, porque quando ele pede uma avaliação psicológica isso é também um pedido de ajuda”, afirmou.
As psicólogas discutiram, também, o excesso de medicalização a que são submetidas as crianças. De acordo com Marise Ramôa, “existe um lugar para o profissional [psicólogo] estar, aquele que não é o da medicalização”. Adriana Marcondes pondera, afirmando que este é um posicionamento claramente estabelecido na Psicologia, porém, faz parte do processo “criar outros modos de administrar a demanda, de recusar a demanda de diagnósticos”.
“Psicólogo não gosta de cantinho da disciplina, está na nossa cara”, afirma. “Não é para chegar para o professor e deixar isso de forma que não esteja clara, é preciso dizer claramente como se trabalha”, afirmou Adriana Marcondes, defendendo mais diálogo entre profissionais. “Os próprios profissionais de educação e saúde podem colaborar com o processo de medicalização”, alertou.
Houve importante debate, onde os profissionais, psicólogos ou não, colocaram suas opiniões sobre o PSE e sua relação com a prática que já vem sendo desenvolvida em diferentes espaços de trabalho.
Leia aqui o Decreto nº6.286, de 05 de dezembro de 2007, que institui o PSE, e dá outras providências
Núcleos de Apoio à Saúde da Família (Nasf) são integrados ao Mais Saúde
O Ministro da Saúde, José Gomes Temporão autorizou, no final de janeiro, a implementação dos Núcleos de Apoio à Saúde da Família (Nasf), nos municípios do país. De acordo com o Ministério da Saúde :“Entre as inúmeras ações, os Nasf devem: desenvolver atividades físicas e práticas corporais; proporcionar educação permanente em nutrição; contribuir para a ampliação e valorização da utilização dos espaços públicos de convivência; (…) permitindo a inclusão social; atender usuários e familiares em situação de risco psicossocial ou doença mental; criar estratégias para abordar problemas vinculados à violência e ao abuso de álcool”, entre outras ações.
Texto e fotos: Jean Souza
04 de junho de 2008