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CRP-RJ debate a contribuição da Psicologia para o fim da exclusão


Data de Publicação: 1 de abril de 2008


Em sua participação no Fórum Mundial de Educação, realizado de 27 a 30 de março em Nova Iguaçu, o Conselho Regional de Psicologia do Rio de Janeiro promoveu três atividades. O terceiro e último encontro foi o debate “Potentes encontros e seus atravessamentos no campo da Psicologia e da Educação: um olhar sobre os jovens pobres, educação, trabalho e meio ambiente”, que contou com a presença de psicólogos, educadores e estudantes.

CRP-RJ promoveu o debate “Potentes encontros e seus atravessamentos no campo da Psicologia e da Educação: um olhar sobre os jovens pobres, educação, trabalho e meio ambiente”.

CRP-RJ promoveu o debate “Potentes encontros e seus atravessamentos no campo da Psicologia e da Educação: um olhar sobre os jovens pobres, educação, trabalho e meio ambiente”.

O evento teve a participação dos psicólogos Eduardo Antonio de Pontes Costa (CRP 05/29128), das universidades Federal Fluminense (UFF) e do Estado do Rio de Janeiro (Uerj); Ana Maria Marques Santos (CRP 05/18966), da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) e conselheira da Comissão de Educação do CRP-RJ; e Ana Eduarda Delfino da Silva Nunes (CRP 05/35355), colaboradora da mesma comissão do CRP-RJ.

O debate foi coordenado pela conselheira Francisca de Assis Rocha Alves (CRP 05/18453), presidente da Comissão de Educação do CRP-RJ. Ela abriu o evento agradecendo aos presentes e destacando a importância do diálogo entre professores e psicólogos na luta pela inclusão.

O primeiro palestrante a falar foi Eduardo, que chamou a atenção para o fato de a formação do psicólogo ser muito voltada para o paradigma biomédico. “É a construção histórico-social de estudar somente a condição biológica do sujeito”. Segundo ele, “a Psicologia acaba marcando, do ponto de vista da epistemologia – ou seja, da produção de conhecimento – um lugar no campo positivista”.

Psicólogos, educadores e estudantes participaram do último encontro realizado pelo CRP-RJ em Nova Iguaçu.

Psicólogos, educadores e estudantes participaram do último encontro realizado pelo CRP-RJ em Nova Iguaçu.

Dentro dessa tendência, ele afirma que “temos que colocar em análise o que temos feito enquanto profissionais de Psicologia”, pois “determinadas práticas vão se fazendo eternas e nós vamos reproduzindo esse discurso”.

Para exemplificar essa prática de ver o outro pelo que ele chama de “paradigma curativo”, Eduardo relatou sua experiência em um projeto da Associação Beneficente São Martinho, em 2003. “Eu cheguei com um olhar à instituição e depois desconstruí esse olhar. Um olhar que, em grande medida, veio preso a essa minha formação profissional, que passa por um curso positivista, com uma Psicologia pragmática”, declarou.

O projeto, segundo ele, era voltado para jovens pobres, em “situação de risco social”, mas “reafirmava a condição social desses jovens”. “O que havia era a reafirmação desse lugar ‘menor’, de uma cidadania em segundo plano, para esses jovens. O que se tentava colocar a qualquer preço – através de um discurso sutil, vedado – era a idéia de que, por serem jovens pobres, negros, mestiços, a importância do trabalho como prevenção devia ser colocada em primeiro plano”.
Eduardo acredita que a instituição exemplifica bem essa prática biomédica da Psicologia. “Tanto as famílias como os próprios jovens viam o psicólogo como uma possibilidade de cura. Tudo o que a gente aprende na graduação estava materializado naquele projeto. Mas esse olhar medicalizante do psicólogo, tão presente em nossa formação, não é caminho”, concluiu.

Em seguida, Ana Eduarda, que representou o CRP-RJ, falou aos presentes. “Eu trabalho com classes populares e as contribuições que venho trazer a esse debate dizem respeito à inclusão”, afirmou.
A psicóloga apresentou um caso que presenciou em seu trabalho e que contribuiu como mais uma confirmação do discurso de Eduardo. “Muito importante para mim foi o caso de um aluno que queria resgatar seus níveis de conhecimento. Aos 49 anos, ele voltou à escola. Ele apresentava muita dificuldade, mas tinha muita força de vontade”.

Ana Eduarda contou que a conclusão do caso do aluno mostra um típico processo de exclusão. “O final dessa história não foi muito feliz. Ele foi submetido a uma avaliação e foi reprovado. Seus conhecimentos não foram aproveitados porque ele foi submetido a uma avaliação tradicional”, disse.

Ana Maria também questionou as formas de exclusão presentes na nossa sociedade. “Me pergunto como e para quem o conhecimento é construído”, afirmou. “A própria sociedade brasileira produz a escola pública como um lugar falido”, acrescentou.

Ela também destacou a importância da interface entre Psicologia e Educação no processo de educação inclusiva. “Temos que fazer rupturas e recriar valores para repensarmos nossa relação com o outro. É preciso o diálogo com as diversas áreas – mais do que uma interdisciplinaridade, uma transdisciplinaridade”.

Ana Maria acredita que, no trabalho do psicólogo, há uma “fragmentação do conhecimento e expansão mercadológica”. “Ficamos fazendo um laudo no Detran, outro laudo não sei onde, mas não conseguimos ver o processo todo. Se a gente não entender como ele funciona, não temos como buscar alternativas”, destacou.

Nessa perspectiva, a psicóloga questiona: “que paradigmas têm norteado nossa prática educativa dentro e fora da escola?”. Segundo ela, “o desafio educativo é o de integrar à dimensão da formação para o mundo do trabalho uma dimensão política, desenvolvendo simultaneamente a capacidade profissional e responsabilidade social dos sujeitos”, concluiu.



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