A Comissão de Saúde e a Regional de Direitos Humanos do CRP-RJ realizaram, no dia 1º de dezembro, o evento “Sujeito em movimento ou Movimento sem sujeito? – Rumos da Reforma Psiquiátrica”. Foi o primeiro evento organizado pelas comissões depois da posse da nova gestão do Conselho, em setembro deste ano.

Evento “Sujeito em movimento ou Movimento sem sujeito? – Rumos da Reforma Psiquiátrica”. Foi o primeiro evento organizado pelas comissões depois da posse da nova gestão do Conselho.
Dando início ao evento, Ana Carla Souza Silveira da Silva, nova coordenadora da Comissão de Saúde do CRP-RJ, lembrou que o Movimento da Luta Antimanicomial (MLA) não quer apenas o fim dos manicômios: “Queremos mudar a forma da sociedade conceber a relação entre as pessoas, para que ela não impeça o desenvolvimento do sujeito e seu acesso aos direitos. Queremos uma sociedade sem manicômios, sem estigmas e sem exclusão.”
Em seguida, foram exibidos dois vídeos. O primeiro, organizado por Beatriz Adura, psicóloga colaboradora das Comissões de Saúde e de Direitos Humanos do CRP-RJ e militante do MLA, relembrava momentos dos 20 anos de Luta Antimanicomial no Brasil. O segundo, organizado por Edvaldo Nabuco, militante do MLA, mostrou trechos de falas de usuários e familiares durante o VII Encontro Nacional do Movimento da Luta Antimanicomial e VIII Encontro Nacional de Usuários e Familiares, ocorrido em Vitória/ES, em novembro de 2007.

Todos os palestrantes chamaram a atenção para o fato do Movimento da Luta Antimanicomial ter dado voz aos
usuários e familiares
Com o objetivo de dar início à discussão que continuará no encontro de comemoração dos 20 anos da Luta Antimanicomial, que acontece em Bauru, nos dias 6, 7, 8 e 9 de dezembro, diversos participantes deram depoimentos sobre suas experiências dentro do Movimento da Luta Antimanicomial. Dentre eles, além de Beatriz e Edvaldo, puderam contar suas histórias Moisés Ferreira, usuário que esteve internado por 40 anos na Colônia Juliano Moreira; Iracema Polidoro, presidente da Associação de Parentes e Amigos do IMAS Juliano Moreira/APACOJUM, e Sérgio Costa, psicólogo colaborador da Comissão de Saúde. Todos chamaram a atenção para o fato do Movimento ter dado voz aos usuários e familiares. “Eu achava que queria esquecer o que passei, mas acabei ficando doente por causa disso. O Movimento me deu força para falar e para continuar vivendo”. Ana Miranda, do Grupo Tortura Nunca Mais, completou: “O torturador, o Estado querem que a tortura seja esquecida. Ela só ganha o status de verdade na fala de quem sofreu. É por isso que falar é importante. É por isso que a Luta Antimanicomial é tão importante. Ela deu voz aos usuários, a quem sofreu dentro dos manicômios”.
Sérgio chamou atenção para o fato de muitos movimentos sociais estarem se afastando dos motivos de sua criação. “O movimento não pode viver só pelo movimento, não pode viver sem o sujeito que o criou. É preciso manter a fala do usuário sempre presente na Luta Antimanicomial. Senão, a criatura pode se voltar contra seu criador”. Kátia Aguiar, professora e pesquisadora da Universidade Federal Fluminense, concordou: “Vejo muitos movimentos voltados demais para o Estado, se esquecendo dos sujeitos. Sei que é necessária uma certa ‘tutela’ do Estado, para que haja financiamento e que os movimentos funcionem, mas é a base, são os usuários que importam no fim. É um desafio. Como fazer avançar os movimentos de modo que eles adquiram uma identidade sem perder o sentido”.
Kátia também chamou atenção para a grande fragmentação dos movimentos. “Nos anos 80, os movimentos sociais foram criando várias caras. Houve uma diversificação que foi interessante, uma fertilidade política boa. Mas acho que a luta de um é a luta de muitos”. Ana Miranda concordou: “Quando vejo as questões de vocês, vejo também as nossas. Nós também lutamos contra a repressão e as instituições totais. Por isso, estamos todos juntos aqui”.