auto_awesome

Noticias






Mostra exibe documentário Bombadeiras


Data de Publicação: 11 de julho de 2007


Filme sobre travestis que injetam silicone de forma clandestina surpreendeu platéia

O terceiro dia de Mostra contou com a apresentação do documentário Bombadeiras, do diretor Luis Carlos de Alencar. O filme narra a história de travestis de Salvador, na Bahia, que injetam silicone de forma clandestina, através de pessoas conhecidas como bombadeiras. O nome é uma referência ao ato de ‘bombear’ das seringas que injetam o produto em diversas partes dos corpos das travestis, modeladas a mão pelas bombadeiras.

Bombadeiras narra o sofrimento das travestis na busca por corpos femininos. O documentário mostra a vaidade, a religiosidade, o preconceito, a vida íntima e os sonhos de travestis de capital baiana, através de diversos depoimentos. Foram convidados para debater o documentário Luis Carlos Alencar, diretor do filme, Roberto Pereira (CRP 05/16524), psicólogo colaborador da Comissão Regional de Direitos Humanos e Marjorie Marchi, presidente da Associação de Travestis, Transexuais e Transgêneros do Rio de Janeiro (Astra-Rio).

A apresentação do documentário Bombadeiras  foi seguida por debate.

A apresentação do documentário Bombadeiras
foi seguida por debate.

Luis afirmou que o objetivo do filme era abordar as questões da modificação do corpo, bem como mostrar como se produzia subjetividade a partir das mudanças provocadas. Para filmar as histórias, ele gravou depoimentos durante quinze dias de 2005 e quinze em 2006, num trabalho de aproximação e conquista de confiança. Luis disse que sua intenção era mostrar espaços diferentes das boates e das ruas: “Queria mostrar a casa, a intimidade, que era o que elas queriam mostrar”, ressaltou.

Bombadeiras mostrava aspectos não comumente abordados da vida de travestis: por exemplo, os cuidados com a própria casa e a vida ao lado de um companheiro. De acordo com Marjorie, o filme “desmistifica que a travesti não quer só uma saia, uma esquina e um programa do Silvio Santos pra fazer show”. “Nós queremos tudo aquilo a que todo cidadão tem direito”, disse. Ela elogiou o fato de o filme retratar a esfera íntima da vida de travestis: “Não posso deixar de falar da afetividade”. A presidente da Astra-Rio afirmou que o filme pôde mostrar as várias facetas da relação de uma travesti.

“Indecente e imoral é a família que expulsa a pessoa, que impede a pessoa de usar o sobrenome e depois se apropria do bem do casal”, disse ela, comentando os casos de morte de um dos cônjuges. Ela falou das muitas dificuldades enfrentadas diariamente pelas travestis e ressaltou que seu caso de sucesso é uma exceção à regra: “Eu não reflito a realidade de travestis e transexuais do Brasil, tive facilidade”. Entretanto, ela afirmou que, assim como as companheiras que são inseridas no mercado de trabalho formal, não está livre do preconceito: “Não sei se sou discriminada porque sou mulher, porque sou travesti, porque sou negra, porque sou subversiva e pinto meu cabelo de loiro, sendo uma subversiva étnica! Sou discriminada da hora em que saio de casa até quando volto”, disse.

“E é A travesti! Gênero feminino”, ressaltou Marjorie. Luis Carlos também comentou como é difícil combater a discriminação. Ele disse que não foi fácil vencer o preconceito entre a própria equipe de filmagem do documentário. Ele afirmou que no início ainda se via a travesti como um homem que se subverte contra seu próprio gênero: “No final, já havia percepção do feminino, havia o toque, o beijo”, disse o diretor.



mostra-exibe-documentario-bombadeiras01-300x198.jpg