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Mostra tem primeiro cine-debate


Data de Publicação: 9 de julho de 2007


Cine-Debate discutiu o filme Crianças Invisíveis  [All the Invisible Children].

Cine-Debate discutiu o filme Crianças Invisíveis
[All the Invisible Children].

O primeiro Cine-Debate da Mostra, realizado na segunda-feira, dia 9, discutiu o filme Crianças Invisíveis [All the Invisible Children], composto de sete curtas, dirigidos por diretores como Spike Lee, Ridley Scott, John Woo, e a cineasta brasileira Kátia Lund. O filme trata de questões da infância em diversas partes do mundo, abordando temas como o trabalho infantil, o envolvimento de crianças em conflitos bélicos e violência doméstica.

Foram convidados para comentar as histórias e debatê-las com o público os psicólogos Nádia Filomena Silva (CRP 05/33124), professora da UNILASSALE/RJ e Marcelo Santana Ferreira (CRP 05/20582), professor da UFF. Eles falaram sobre o distanciamento entre a formação do psicólogo e o exercício da ética no dia a dia, afirmando que muitas das atitudes de violência que se vêem hoje contra crianças resultam da falta de sensibilidade e de concepções errôneas sobre a infância. A fala de ambos os psicólogos foi concentrada na formação teórica do psicólogo; Marcelo e Nádia levaram para a mesa algumas reflexões que vêm desenvolvendo no grupo de trabalho “Ética na Formação do Psicólogo: questões contemporâneas”, do CRP-RJ, cuja base teórica está presente na obra “A Hermenêutica do sujeito”, do filósofo francês Michel Foucault.

De acordo com Marcelo, a formação do psicólogo comumente enfatiza os conteúdos técnicos: “Percebemos que há ausência de espaços de problematização da relação entre teoria e prática”, disse. Ele e Nádia criticaram os usos que são feitos da psicologia, em espaços como as escolas, onde se esperam ações punitivas e há uma demanda muito grande pela medicalização, não só de alunos, mas dos próprios professores. Os dois criticaram a falta de diálogo e de ações alternativas a tais manifestações.

“A gente não deve acatar aquilo que se espera do profissional”, afirmou Marcelo, criticando as demandas que surgem em relação aos profissionais. Ele afirmou, ainda, que as manifestações de violência e outras formas de opressão contra crianças são resultado de idéias do senso comum: “Concepções hegemônicas sobre a infância se refletem em práticas de coerção. A gente pensa invisibilidade de outra forma. Para nós, a invisibilidade é efeito de um distanciamento entre prática e ética”, disse ele. “É uma invisibilidade que diz respeito à relação histórica que temos com nossa prática”, afirmou. Nádia completou, afirmando que “não basta só a formação, não bastam os títulos”, é necessário, antes de tudo, estudar.

Nádia citou o conceito foucaultiano de “estética da existência”: “falta uma sensibilização do profissional em relação ao outro. Temos muitas histórias como estas”, disse ela. A psicóloga apontou a existência de um discurso insensível e moralista nas escolas, criticando a excessiva demanda por punições e as demandas por medicalização de crianças. Ela falou que são comuns as reações de sensibilização, revolta e preocupação que se tem ao ver as cenas do filme, mas são necessárias mudanças no modo de agir do profissional. “É preciso ‘coragem de verdade’”, disse a psicóloga, citando outro conceito de Foucault.



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