Palestrantes afirmaram necessidade do controle de programas e publicidade na TV
Participaram da mesa Questões da Infância e Adolescência os palestrantes Guilherme Canela, coordenador de Relações Acadêmicas da Agência de Notícias dos Direitos da Infância (ANDI) e Ana Olmos, psicanalista de crianças, especialista em neuropsicologia infantil. Yves de La Taille, do Instituto de Psicologia da USP teve problemas no vôo para o Rio de Janeiro e não conseguiu chegar a tempo de participar do debate.

Guilherme Canela expôs em sua palestra argumentos a favor da classificação indicativa.
Guilherme expôs argumentos a favor da classificação indicativa, assunto que está sendo fortemente debatido nos últimos dias, nos meios de comunicação. Segundo ele, é necessário haver uma classificação dos programas por horário e idade. Guilherme ressalta que a classificação não se trata de censura, já que os programas não são impedidos de irem ao ar. O pesquisador ressalta que a classificação já existe em diversos regimes democráticos e já está prevista, de maneira genérica, na Constituição Federal de 1998:
“O governo atual, depois de três anos de discussão (que já havia no governo anterior) resolveu tornar mais complexa a portaria que trata deste assunto”, disse Guilherme. A portaria 264, do Ministério da Justiça, que define regras para a classificação indicativa para a televisão, está sendo criticada pelo Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Emissoras de televisão também contestam medidas da portaria. Guilherme destacou que, até aquele momento, quatro artigos da portaria estavam sendo discutidos pelo Ministério da Justiça, a pedido das emissoras de TV.
“Estamos sendo bombardeados. Estão chamando isso de censura, em editoriais do jornal O Globo”, disse Ana Olmos. “O que o Guilherme diz aqui sobre classificação indicativa, é importante que cada um de vocês diga para mais cinco pessoas”, ressaltou, apontando a publicidade direcionada a crianças como outra questão a ser discutida. “O CONAR [Conselho Nacional de Auto-Regulamentação Publicitária] deixa passar”, criticou, ressaltando que há publicidades que colocam em dúvida valores e idéias.
“A sociedade não discute qualidade televisiva. A classificação indicativa não faz parte da agenda de discussões da sociedade”, criticou Guilherme.
Palestrantes criticaram publicidade direcionada para crianças
Durante o Seminário Mídia e Psicologia, a preocupação em relação à publicidade para crianças foi uma questão recorrente. Guilherme afirmou que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) está preparando uma série de regulamentações para as propagandas de cerveja. Segundo ele, “as propostas feitas pelo CONAR são bastante razoáveis”, mas na prática, muitos dos anunciantes não as acatam, já que se trata de auto-regulação. Ana destacou que “as peças publicitárias são cada vez mais brilhantes, construídas de maneira inteligente”. “A programação é a publicidade, os intervalos são o conteúdo”, disse a psicanalista.

Ana Olmos na sua palestra destacou como as crianças respondem aos estímulos da televisão.
Ana destacou como as crianças respondem aos estímulos da televisão: “A percepção das crianças se dá de maneira diferente da estrutura de percepção de uma geração atrás. Desde cedo, há uma superestimulação, são estímulos rápidos e superficiais” disse ela. “Não é de se espantar a dificuldade de leitura hoje”, criticou, lembrando que enquanto a leitura exige uma concentração sobre o objeto, a televisão trabalha justamente com o contrário: “A estruturação da percepção, hoje, acostuma a criança a não pensar, a não fixar atenção sobre um ponto”.
O pesquisador da ANDI reafirmou a necessidade de se estabelecerem critérios para o controle da programação na TV. Guilherme Canela afirma que, atualmente, não é pertinente a afirmação de que os programas devem ser livres para serem exibidos em quaisquer horários, já que boa parte dos pais só chega em casa à noite, não tendo a possibilidade de controlarem a que programação os filhos têm acesso. Ele destacou que enquanto os filmes exibidos no cinema são fortemente regulados, a publicidade não é regulada pela classificação indicativa, mas deveria.