A Comissão de Orientação e Ética (COE) do CRP/RJ realizou, no dia 06 de dezembro, a última Quart’ética do ano, dedicada a memória da psicóloga Margarete de Paiva Simões Ferreira, companheira e colaboradora da Comissão de Saúde do CRP-RJ.
O evento discutiu o tema “O psicólogo e a escrita – possibilidades e limites de intervenção” e teve a participação dos psicólogos Eliana Olinda Alves (CRP 05/24612), psicóloga do TJ-RJ, mestre em Psicologia pela UFF e especialista em Psicologia Jurídica pela UERJ, José Eduardo Menescal Saraiva (CRP 05/23758), psicólogo do TJ/RJ, mestre em Psicologia pela PUC-Rio e especialista pela Psicologia Jurídica pela UERJ e de Lídia Levy (CRP 05/2096), doutora em Psicologia pela PUC-Rio e psicanalista pela Sociedade de Psicanálise Iracy Doyle – SPID.
A Presidente da COE, Ana Lucia de Lemos Furtado, abriu o evento, ressaltando a importância do tema já que documentos escritos emitidos pelos psicólogos tem sido objeto de denúncias neste Conselho. Ela salientou que aquela era uma oportunidade para pensar o registro escrito para além da “técnica”, valorizando a vertente ético-política.
O debate foi iniciado pela psicóloga Eliana Olinda, que traçou um percurso histórico acerca da concepção de inquérito. Ela afirmou que, inicialmente, o inquérito social era muito colado ao inquérito penal e foi com esta visão que o psicólogo foi convidado a atuar no âmbito judiciário. A psicóloga pôs em questão a representação documental, que abriga duas vertentes: a representação do social e a representação da subjetividade, trazendo a discussão para repercussão da escrita na vida das pessoas. Ela questionou “qual é a verdade da Psicologia? E qual a mentira da Psicologia?” e propôs que se reflita acerca do que é a ética nas relações do sujeito com as instituições e com sua prática escrita.
A psicóloga Lídia Levy, afirmou que deve-se por em análise “quem demanda e o que se demanda ao psicólogo”, considerando que nos deparamos com a ética adversarial do Direito confrontada à ética da Psicologia. Ela alertou que um processo pode ser usado como sintoma que revela uma impossibilidade, o que nos remete à análise do desejo para a compreensão do que está em jogo em cada caso.
O psicólogo José Eduardo frisou que a escrita produz efeitos, é uma intervenção sobre a realidade institucional. Segundo ele, escrever é um ato político resultado da leitura do psicólogo acerca do jogo de forças antagônicas advindas das diversas instituições envolvidas. Para José Eduardo, a prática, portanto, deve ser norteada por uma reflexão ético-política fruto de em conscientização de que a instituição espera do trabalho profissional do psicólogo, um constante questionamento desta demanda.
Os palestrantes enfatizaram o panorama em que vivemos: uma época impregnada de “medicalizações”, “individualizações de realidade”, “produção de culpabilizações mais do que de cidadania”, “judicialização”. Diante disso, eles afirmaram a necessidade de se “buscar fundamentos possíveis para reinventar nossa prática”, como afirmou Eliana Olinda, “produzir um escrito que vá na contramão do esperado, gerando o novo”, como apontado por Lídia Levy, ou “para além de uma dimensão puramente técnica, elaborar algo que possa mudar uma perspectiva, tirar o sujeito de uma tendência que venha a cristalizá-lo numa posição”, como salientou José Eduardo.
Estas e outras alternativas e questões foram suscitadas na platéia, que participou de um debate após a mesa redonda. O evento foi encerrado pela Conselheira Ana Lucia de Lemos Furtado, que conclamou os presentes a aprofundar essa discussão com relação ao próprio Conselho Regional de Psicologia face aos psicólogos que atuam no âmbito judiciário, campo de ação que vem se estruturando paulatinamente no Rio de Janeiro, e que nos põe diante de várias novas e instigantes questões.
19 de dezembro de 2006